Chefe da diplomacia da UE visita Brasil para "mostrar alternativas reais de cooperação"

A União Europeia é o segundo maior parceiro comercial do Brasil e o seu maior investidor estrangeiro, com mais de 300 mil milhões de euros de investimento direto.
Chefe da diplomacia da UE visita Brasil para 'mostrar alternativas reais de cooperação'
Ronald Wittek / Lusa - EPA
Lusa 07:28

A chefe da diplomacia da União Europeia (UE), Kaja Kallas, desloca-se entre quinta-feira e sábado ao Brasil para "mostrar alternativas reais de cooperação" ao país, visando evitar "deixar um espaço vazio" para Rússia ou China.

"O Brasil é um país grande e importante na América Latina e é do nosso interesse cooperar com eles e não os deixar ser atraídos por outros atores no plano internacional, especialmente depois de os Estados Unidos terem aplicado tarifas de 50%" ao país, disse Kaja Kallas, em entrevista à agência Lusa em Bruxelas.

PUB

Falando num "esforço de aproximação" de Bruxelas a Brasília, Kaja Kallas apontou ter uma "agenda preenchida" para a viagem à capital brasileira que decorre entre quinta-feira e sábado, da qual fazem parte encontros com o Presidente brasileiro, Lula da Silva, e o ministro dos Negócios Estrangeiros, Mauro Vieira, bem como com a sociedade civil e outros atores.

"Os BRICS [grupo de países emergentes], onde o Brasil está, deixaram-no completamente sozinho perante essas tarifas [norte-americanos] de 50%, pelo que o objetivo é mostrar alternativas reais de cooperação", nomeadamente o acordo da UE com os países do Mercado Comum do Sul (Mercosul), assinalou a Alta Representante da União para os Negócios Estrangeiros e Política de Segurança.

"Não queremos deixar um espaço vazio para outros atores internacionais que estejam presentes porque somos parceiros com visões muito próximas e, por isso, devemos manter-nos unidos", sublinhou Kaja Kallas.

PUB

O Brasil é parceiro estratégico da UE desde 2007.

A UE é o segundo maior parceiro comercial do Brasil e o seu maior investidor estrangeiro, com mais de 300 mil milhões de euros de investimento direto.

Após relações diplomáticas tensas aquando da Presidência de Jair Bolsonaro, quando Lula da Silva voltou ao cargo, em 2023, os laços UE-Brasil ganharam novo dinamismo, sendo que a conclusão das negociações do acordo UE-Mercosul, em dezembro de 2024, veio dar um novo impulso.

PUB

Este acordo é especialmente atrativo para o bloco comunitário neste momento, face às tensões comerciais com os Estados Unidos.

A UE e os países do Mercosul tentam agora finalizar aquele que será o maior acordo comercial e de investimento do mundo, que servirá um mercado de 700 milhões de consumidores, no âmbito do reforço da cooperação geopolítica, económica, de sustentabilidade e de segurança.

O abrange os 27 Estados-membros da UE mais Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, o equivalente a 25% da economia global e 780 milhões de pessoas, quase 10% da população mundial.

PUB

Na entrevista à Lusa, Kaja Kallas abordou também a cimeira realizada este verão entre os líderes russo Vladimir Putin, chinês Xi Jinping e norte-coreano Kim Jong Un, falando em mudanças "na direção errada" na geopolítica mundial, por estarem em causa países "não totalmente livres ou plenamente democráticos".

"Estamos a construir parcerias com países [como o Brasil] para que não fiquem, digamos, entregues à China ou à Rússia para estabelecer essas parcerias", indicou a Alta Representante.

Já quando questionada sobre a ameaça dos Estados Unidos de avançar com sanções ao Brasil pela condenação do ex-Presidente brasileiro Jair Bolsonaro, Kaja Kallas comentou: "As medidas que os americanos estão a tomar... Enfim, que eles próprios as defendam".

PUB

"Penso que o que é importante para nós é mantermos os nossos valores e apoiar verdadeiramente a ordem internacional e apoiamos também a responsabilização dentro dessa ordem internacional", adiantou a chefe da diplomacia comunitária na entrevista à Lusa.

Pub
Pub
Pub