DBRS é mais tolerante com Portugal do que com outros países
A possibilidade já era discutida, mas agora os dados confirmam-no: Portugal é tratado de forma diferente de outros países pela DBRS. Em média, desde 2010, o rating português esteve um nível acima daquele que estaria se a agência utilizasse apenas os seus critérios quantitativos.
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As conclusões estão expressas num estudo de Junho, assinado por Annika Luisa Hofmann, Miguel Ferreira e João Lampreia, divulgado pelo Gabinete de Estratégia e Estudos, do Ministério da Economia. "Tanto as conclusões qualitativas como empíricas provam que a DBRS tem um comportamento brando no rating de Portugal – em comparação com outras agências de rating, bem como nas suas decisões de rating para com outros países", escrevem os autores.
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O paper tenta replicar o modelo de rating da DBRS, para assim analisar que avaliação deveria Portugal ter se a agência seguisse apenas os seus critérios quantitativos. Os académicos identificam um elemento relevante de subjectividade nas decisões da DBRS, que tende a ser neutro na generalidade dos países, mas que é positivo para Portugal.
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E é mesmo possível estimar quanto é que esta subjectividade ajuda o rating português: entre 2010 e 2016 ela reforçou-o, em média, num nível. Ou seja, pelo menos durante grande parte desse período, foi essa subjectividade que permitiu manter Portugal fora da classificação "lixo".
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Recorde-se que a DBRS é a única das quatro agências de rating a não avaliar a dívida portuguesa como investimento especulativo, permitindo que Portugal continue a aceder ao programa de compra de dívida do BCE. Esta situação pressiona a agência – um downgrade seu provocaria outra crise no euro? -, mas também lhe permite beneficiar de uma atenção mediática muito superior aquilo que a sua dimensão tenderia a justificar. A DBRS é uma agência pequena, num mercado 95% controlado pela S&P, Moody’s e Fitch.
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No ano passado, o Negócios questionou o responsável pelos ratings soberanos da DBRS sobre o tema, perguntando-lhe se a agência não beneficiava desta atenção acrescida. Com um rating mais alto ou mais baixo teria a DBRS a mesma exposição mediática? Fergus McCormick não se comprometeu: "não sei", respondeu.
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O estudo conhecido hoje critica a opacidade das decisões da agência. "A metodologia de rating da DBRS tem falta de transparência", pode ler-se no paper. A agência canadiana argumenta que os seus ratings respondem mais às características fundamentais do país do que a flutuações cíclicas da economia e reserva o direito de a sua decisão de rating ser significativamente diferente daquilo que a pura quantificação dos riscos indiciaria. Porém, não dá explicações sobre como faz esse ajustamento.
"A susceptibilidade a choques de dívida estão significativamente subrepresentados. O modelo de risco soberano de Portugal replicado [pelo estudo] identifica ‘o compromisso política com a consolidação orçamental’ como a principal justificação para a emissão de um rating de investimento", acrescenta o paper. A réplica do modelo da DBRS conclui que as categorias de maior risco para Portugal são: gestão orçamental, políticas e dívida e liquidez. Por outro lado, há pressões positivas vindas do ambiente político.
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No entanto, importa referir que o elemento de subjectividade da DBRS tem-se tornado cada vez menos relevante nos últimos anos. Depois de um pico em 2013, ele foi recuando até praticamente deixar de existir em 2016. "O modelo sugere assim que as decisões de rating da DBRS sobre Portugal se têm aproximado gradualmente dos seus valores fundamentais e quantificáveis."
Para o futuro, os autores do estudo esperam que a DBRS mantenha o rating do país pelo menos até ao final deste ano.
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