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Estudo alerta para declínio estrutural da Sonangol e propõe privatização parcial

Exploração em queda de petróleo, apostas noutras áreas que acumulam centenas de milhões de dólares em prejuízo e opacidade são alguns dos problemas apontados.

Estudo alerta para declínio estrutural da Sonangol e propõe privatização parcial
Estudo alerta para declínio estrutural da Sonangol e propõe privatização parcial DR
11:22

Uma análise de um centro de estudos sobre Angola alerta que a Sonangol está em declínio e deve ser alvo de uma reforma profunda, incluindo privatização de 45% do capital e proibição de militantes partidários na gestão.

As propostas constam de um documento do Centro de Estudos de Desenvolvimento Económico e Social de Angola (CEDESA), assinado por Rui Verde, segundo o qual a Sonangol atravessa "um processo de declínio que não pode ser explicado apenas por conjunturas desfavoráveis, como a pandemia ou a volatilidade dos preços internacionais do petróleo".

O académico sublinha que o que se verifica é "uma erosão estrutural", resultante da fragilidade institucional e da incapacidade da empresa em aumentar a produção petrolífera.

No estudo, assinala que os investimentos realizados fora do setor petrolífero – em saúde, transportes, telecomunicações ou imobiliário – "revelaram-se insustentáveis", acumulando centenas de milhões de dólares em prejuízos e transformando-se num peso permanente sobre as contas da petrolífera estatal.

A isto somam-se problemas de governação, marcados por corrupção, nepotismo e esquemas de desvio de combustível, que "corroeram a credibilidade da empresa e expuseram a sua vulnerabilidade institucional", acrescenta.

Segundo a análise, "o declínio da Sonangol não é conjuntural, mas estrutural", resultando da fragilidade dos negócios paralelos, da má gestão e da incapacidade de aumentar a produção.

Aponta vários sinais do declínio como a queda contínua dos lucros, a "opacidade na relação com o Estado angolano", a falta de transparência contabilística e a ausência de auditoria pública e refere que a "produção está estagnada".

A produção interna de petróleo tem vindo a diminuir de forma consistente, passando de mais de 1,8 milhões de barris por dia em 2008 para menos de 1,1 milhões em 2024, sem que a Sonangol tenha conseguido inverter a tendência através de novas tecnologias ou de projetos de recuperação melhorada, salienta.

Outro fator crítico destacado é a redução do investimento em exploração e desenvolvimento, já que, em vez de dar prioridade ao reinvestimento produtivo, a Sonangol tem alocado recursos para compensação da dívida com o Estado, operações financeiras pouco transparentes e manutenção de ativos não estratégicos.

Embora tenham sido anunciados planos de privatização parcial – incluindo uma eventual oferta pública inicial de até 30% –, persistem dúvidas sobre a qualidade da informação financeira e da governação interna, o que desincentiva potenciais investidores, considera Rui Verde.

O CEDESA propõe, assim, uma reforma profunda da petrolífera estatal, passando pela privatização de 45% do capital, em mercado internacional, garantindo que "um terço dessa participação seja reservado aos trabalhadores", de modo a "democratizar a estrutura acionista", reforçar o alinhamento entre trabalhadores e gestão e atrair capital e 'know-how' internacionais.

O autor defende ainda a aprovação de uma lei que proíba militantes de partidos políticos de ocupar cargos na Sonangol, blindando a empresa contra interferência partidária e assegurando nomeações baseadas em critérios técnicos e meritocráticos.

"A independência da administração é condição indispensável para atrair investidores internacionais e recuperar a confiança pública, evitando que a Sonangol seja utilizada como instrumento de clientelismo político", sublinha.

Outra proposta é a privatização seletiva das áreas da Sonangol que registam prejuízos crónicos, incluindo a Sonangol Distribuição.

Segundo o relatório, o segmento 'downstream' (refinação, transporte e distribuição) é tradicionalmente pesado, de margens reduzidas e exigente em investimento.

Transferi-lo para operadores privados permitiria ao Estado e à Sonangol concentrarem-se nos segmentos estratégicos e mais rentáveis, como exploração e produção, enquanto a concorrência no mercado interno poderia melhorar preços e qualidade do serviço, defende o investigador.

No plano social, sugere-se que uma parte das receitas geradas seja canalizada diretamente para as províncias produtoras, financiando infraestruturas, educação e saúde. Essa redistribuição territorial, argumenta-se, reduziria desigualdades regionais e reforçaria a legitimidade da exploração de recursos naturais.

Por fim, defende um aumento significativo do investimento em investigação e desenvolvimento (I&D), sobretudo em áreas como eficiência energética, energias renováveis e tecnologias de descarbonização.

O CEDESA é um grupo de investigação independente, composto sobretudo por académicos e especialistas internacionais que analisam políticas públicas e governação económica em Angola.

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