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Debate nuclear reacende em Taiwan por receios face à China e pressão da IA

Taiwan discute o regresso à energia nuclear através de um referendo, apenas três meses após o encerramento da sua última central. Só a TSMC já consome 12% da eletricidade nacional.

Central Nuclear
Central Nuclear Focke Stangmann / Lusa-EPA
22 de Agosto de 2025 às 13:10

Taiwan prepara-se para decidir nas urnas se deve regressar à energia nuclear, apenas três meses depois de desligar o seu último reator. O referendo, que será lançado este sábado pela oposição, que controla o parlamento, questiona se a central de Maanshan, no sul da ilha, deve voltar a operar, desde que as autoridades reguladoras não detetem riscos de segurança.

A consulta surge num momento em que a procura energética dispara, impulsionada pelo crescimento da inteligência artificial e pela . Só a TSMC já consome 12% da eletricidade nacional e o aumento previsto da produção reforça o peso do tema.

De acordo com o Financial Times, além da pressão tecnológica, a questão energética tornou-se também estratégica. Especialistas alertam para a dependência quase total de Taiwan de combustíveis fósseis importados - mais de 95% do consumo. Esse quadro torna o país , cenário que Pequim, que reivindica a ilha como parte do seu território, nunca descartou impor pela força. “A energia é o elemento mais frágil da resiliência de Taiwan”, afirmou Mark Cancian, do Center for Strategic and International Studies, defendendo que a ilha deveria considerar “prolongar a vida dos reatores nucleares existentes e reforçar o seu sistema elétrico”.

O Partido Democrático Progressista (DPP), atualmente no governo, opõe-se ao regresso do nuclear. O presidente Lai Ching-te, que celebrou em maio o encerramento do último reator, reiterou que “vamos votar contra”, em linha com a meta histórica do partido de construir uma “pátria livre de energia nuclear”.

Essa posição tem raízes profundas: nas décadas de 1980 e 1990, os receios ligados à elevada atividade sísmica do território e a indignação pela deposição de resíduos nucleares em ilhas habitadas por comunidades indígenas alimentaram um movimento anti-nuclear que se fundiu com a luta democrática. O acidente de Fukushima, em 2011, no Japão, consolidou essa rejeição.

Ainda assim, a transição para energias renováveis tem sido lenta. Na primeira metade de 2025, apenas 13% da eletricidade veio de fontes limpas, aquém da meta governamental de 20%. O gás natural liquefeito representou 46,2% da produção e o carvão 35%, forçando até a reativação de centrais poluentes. Para empresários como Tung Tzu-hsien, fundador da Pegatron, esta escolha é “absurda” e coloca Taiwan “no fundo da tabela” das metas climáticas globais.

Mudança no humor público

A perceção social também está a mudar. Dados do Taiwan Institute for Sustainable Energy Research indicam que 66,1% dos cidadãos apoiam o uso da energia nuclear para alcançar a neutralidade carbónica até 2050, contra 58,3% no ano passado. O receio em relação ao nuclear caiu para 33%, abaixo das preocupações com carvão, petróleo e gás.

Ainda assim, o entusiasmo popular parece menor quando se trata de prolongar a vida útil de um reator de 40 anos. Mesmo o presidente Lai já sinalizou abertura para avaliar “soluções nucleares de nova geração”, embora mantenha oposição ao reinício da central de Maanshan.

Qualquer que seja o desfecho, a decisão terá validade apenas de dois anos. Ou seja, mesmo que o voto popular seja favorável, inspeções e processos administrativos poderão prolongar-se até tornar o resultado irrelevante.

O dilema taiwanês insere-se num movimento mais amplo de reabilitação do nuclear em várias potências. Nos Estados Unidos, fixou a meta de quadruplicar a capacidade nuclear nos próximos 25 anos. A Alemanha, , dá sinais de reavaliar a chamada “saída nuclear”, e o Japão, mesmo após Fukushima, reabriu unidades e planeia construir novas centrais. Para muitos observadores estrangeiros, Taiwan deveria seguir a mesma lógica, sob pena de comprometer tanto a segurança energética como a competitividade do seu setor tecnológico face a rivais globais.

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