Do consenso na Justiça ao apagão e às dúvidas pós-18 de maio. O último debate

No último debate entre os partidos com assento parlamentar, falou-se de consensos na Justiça, das lideranças pós-eleições e do apagão de há uma semana no dia em que Cavaco entrou na campanha a defender a postura ética e moral de Montenegro.
João Porfírio/Observador/Pool
Paulo Ribeiro Pinto e Lusa 05 de Maio de 2025 às 14:00

Foi na rádio – elogiada por todos pela emissão na última segunda-feira durante o apagão – que os líderes das principais forças políticas dirimiram os derradeiros argumentos para uma campanha iniciada de véspera, mas que já vinha a ganhar forma logo após a queda do Governo. O caso da empresa familiar de Luís Montenegro acabou por pontuar o debate, mas pouco.

Com a primeira meia hora monopolizada pela Justiça e a necessidade ou não da reforma do Ministério Público, os líderes partidários todos concordaram que é preciso mudar, mas as receitas foram sendo diferentes. E foi logo nesse arranque que a AD e o PS concordaram numa das poucas matérias: um consenso para reformar a Justiça.

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"Creio que hoje podemos concluir que a opção pelos megaprocessos não foi uma opção feliz, foi uma forma de prolongar as oportunidades de se poder ir adiando todas essas etapas processuais", afirmou Luís Montenegro, que teve a concordância de Pedro Nuno Santos quanto ao facto de se encurtarem os prazos, defendendo a redução das custas judiciais.

Para o Chega, é preciso uma reforma na Justiça, em concreto nas questões administrativas, mas defendeu que o Ministério Público tem sido independente no seu trabalho. Já Rui Rocha, da Iniciativa Liberal, preferiu abster-se de comentar o papel do MP, apontando à AD a culpa pelas eleições antecipadas, com todos os partidos a serem acusados de terem contribuído "para a instabilidade política", à exceção dos liberais.

Rui Tavares, do Livre, voltou a insistir que Luís Montenegro deveria ter entregue a Spinumviva a uma "gestão profissional independente" quando assumiu cargos na vida política. Mariana Mortágua, do Bloco de Esquerda, defendeu que a "justiça não deve interferir na política" e Paulo Raimundo, do PCP, considerou que "tudo é política", mas salvaguardando a importância de "preservar a autonomia da Justiça e criar condições para que cumpra o seu papel".

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A porta-voz do PAN, Inês de Sousa Real, atacou André Ventura pelos casos na justiça ligados a membros do seu partido.

Todos contra Montenegro

À semelhança do que tinha acontecido de véspera, no debate das televisões, houve dois temas que uniram toda a oposição contra o líder do PSD e primeiro-ministro demissionário: a estratégia de comunicação do Governo durante o apagão de há uma semana e a crise política que levou a legislativas antecipadas.

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No primeiro caso, em que as falhas no Siresp também surgiram (Montenegro negou que estivesse a estudar recorrer à rede de satélites Starlink de Elon Musk), o primeiro-ministro defendeu-se com a impossibilidade de dar mais cedo informação fidedigna das causas e do tempo necessário para recuperar o serviço. "Comunicar por comunicar não é a melhor opção", afirmou. E atirou aos anteriores Governos do PS: "Herdámos um sistema desorganizado e que estamos a reestruturar".

Numa matéria que André Ventura acusou o Governo de "desorientação" e questionado sobre a razão de envio do SMS apenas ao final da tarde de segunda-feira, Montenegro respondeu que a mensagem foi enviada quando havia "informação fidedigna para transmitir".

Rui Tavares, do Livre, acusou, por seu lado o Executivo de "não ter passado no teste de realidade" e tanto o BE como o PCP defenderam as redes críticas essenciais – das comunicações à energia – no "controlo público".

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Pedro Nuno Santos acusou o Governo de ter "falhado". Chamado a responder pelos problemas no Siresp, disse que após os grandes incêndios de 2017 foram feitos investimentos e ainda é preciso saber o que se passou exatamente no dia 28 na rede de comunicação de emergência do Estado.

Rui Rocha, da IL, enumerou os vários problemas identificados durante o apagão: da falta de gasóleo na Maternidade Alfredo da Costa, aos hospitais "sem meios de contingência", às "enormes dificuldades" do INEM, à falta de resposta do Siresp.

Para Inês Sousa Real, do PAN, a resposta do Governo "chegou tarde".

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E o pós-eleições?

A meio do debate, todos os líderes políticos foram questionados sobre as ilações a retirarem no dia a seguir às eleições. Quase todos foram "politicamente corretos", insistindo que o que estava em causa no momento atual é a vitória.

Foi esse o sentido da reposta de Luís Montenegro, estando a trabalhar num único cenário de vitória, mas acabou por não responder se saía em caso de derrota nas eleições legislativas. "Todos os indicadores não colocam essa circunstância política [derrota] como admissível", afirmou.

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Também Pedro Nuno Santos disse estar convicto de uma "viragem política e no início de uma nova fase" no dia 18, deixando sem resposta a insistência dos jornalistas. "Estamos a trabalhar para ganhar estas eleições", indicou.

André Ventura, que recordou que o partido tem congresso já marcado para este ano, disse que não "equaciona esse cenário [de demissão]. O líder do Chega acredita que o partido não vai perder muitos deputados, com a "maioria das sondagens a darem um aumento do número de deputados".

Apenas Rui Tavares, do Livre, admitiu fazer uma "reflexão pessoal" sobre a liderança, lembrando que a porta-voz do partido Isabel Mendes Lopes nada terá a ver com essa ponderação.

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Já Mariana Mortágua, do BE, disse estar convicta de que "não vai ter pior resultado" do que nas legislativas do ano passado (manteve os cinco deputados) e Paulo Raimundo do PCP, reconhecendo que os quatro deputados são "insuficientes" para "combater a direita", assumiu que "todas as derrotas e vitórias são coletivas".

Inês Sousa Real, do PAN, acredita que vai manter a representação parlamentar (deputada única) ou mesmo recuperar o grupo parlamentar, deixando para o pós-eleições autárquicas uma reflexão sobre os resultados.

O último debate entre todos os partidos com assento parlamentar ocorreu no dia em que o ex-Presidente da República e antigo primeiro-ministro, Cavaco Silva, entrou na campanha, com um artigo de opinião no Observador com a defesa de Luís Montenegro que considera ter sido  alvo de uma "campanha de suspeitas e insinuações" da oposição e de "alguma comunicação social", centrada "em boa parte" na devassa da sua vida privada.

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