Rendimento da atividade agrícola recupera e deve crescer 8,7% em 2023
O rendimento da atividade agrícola, em termos reais deverá aumentar 8,7% este ano, recuperando da queda sem paralelo numa década sofrida em 2022.
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De acordo com a primeira estimativa das Contas Económicas da Agricultura para 2023, publicadas esta quarta-feira, pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), o rendimento da atividade agrícola, em termos reais, por unidade de trabalho ano (UTA), deverá aumentar 8,7%, após um decréscimo em 2022 (-11%).
Para esta evolução foi "determinante" um acréscimo pronunciado do Valor Acrescentado Bruto (VAB) em termos nominais (33,3%), já que, segundo o INE, mais que compensou o decréscimo previsto para os outros subsídios à produção (-47,3%) a pagar este ano.
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Esta variação prevista para o VAB decorre de um aumento do valor da produção superior ao do consumo intermédio (17,6% contra 10,4%), determinado, entre outros fatores, pelo decréscimo nos preços da energia, adubos, cereais e oleaginosas (matérias-primas da alimentação animal) em contraposição ao facto de, no ano passado, o o acréscimo de preços do consumo intermédio foi superior ao da produção.
Em termos reais, ressalva o INE, o aumento do VAB deverá ser bastante inferior (3,0%), verificando-se um acréscimo acentuado do deflator implícito.
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Nos primeiros dez meses do ano, as exportações de produtos agrícolas aumentaram 2,1% face ao mesmo período do ano anterior, em contraste com o decréscimo nas exportações totais (-1%), enquanto as importações aumentaram 3,8%, contra a descida de 3,6% registada nas importações totais.
Os dados da produção
Olhando em concreto para o campo, a evolução nominal prevista para a produção vegetal (21,8%) decorre de acréscimos em volume e, sobretudo, em preço (4,4% e 16,6%, respetivamente), decorrente sobretudo do desempenho verificado nas plantas forrageiras, nos vegetais e produtos hortícolas, nos frutos e no azeite.PUB
As estimativas de produção de cereais apontam para uma diminuição em volume (-3,8%), em resultado de decréscimos em todos os cereais, à exceção do milho e arroz, motivado por condições meteorológicas adversas.
Com efeito, assinala o INE, a campanha cerealífera foi bastante negativa, tendo os preços registado uma diminuição significativa (-23,7%), onde se destaca o trigo, a cevada e o milho, em consonância com a descida dos preços registada nos mercados internacionais, após o período de escassez de cereais (com preços elevados) na sequência da guerra na Ucrânia.
Já no que toca às as plantas industriais, estima-se um aumento de 16,5% da produção em valor, principalmente devido ao aumento do preço (19,9%), uma vez que o volume diminuiu (-2,8%). Neste grupo, destaca-se o girassol com decréscimos de 30% em volume e 43,6% em preço (perspetivando-se uma normalização das cotações nos mercados, após um acréscimo de 54% em 2022, por efeito da guerra na Ucrânia.
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As plantas forrageiras, por seu turno, deverão registar este ano um decréscimo em volume (-18,9%), e um aumento do preço (74,6%), em resultado das condições climatéricas adversas que "prejudicaram significativamente o desenvolvimento das pastagens e o aumento de biomassa da generalidade das culturas destinadas à alimentação do efetivo animal", explica o INE.
Relativamente aos vegetais e produtos hortícolas, prevê-se um aumento em volume de 11,9% que reflete, sobretudo, a evolução dos hortícolas frescos, em particular do tomate para indústria, cuja produção deverá aumentar 31,6% em volume, sendo esta campanha a segunda mais produtiva registada, com o INE a apontar que a qualidade do tomate entregue na indústria transformadora foi elevada, pelo que os preços estão em alta (12,5%).
Já na batata observaram-se aumentos em volume e em preço (12,9% e 34,6%, respetivamente). explica o INE que "as condições climatéricas favoreceram o desenvolvimento vegetativo da batata de irrigação, mas a batata de sequeiro foi prejudicada pela falta de humidade, apresentando calibres muito reduzidos".
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Para os frutos a previsão vai no sentido de um acréscimo da produção em volume (1,4%), para o qual concorreram, sobretudo a maçã (5,0%), o pêssego (10,0%) e as uvas (10,0%). Os preços dos frutos deverão aumentar substancialmente (26,8%), sendo de destacar os citrinos (39,7%), em consequência da diminuição de produção em volume (-4,8%), e as azeitonas, dada a grande procura para produção de azeite (68,4%).
Relativamente à produção de vinho, e excetuando algumas subregiões da região dos vinhos verdes e da região da Beira Interior, prevêem-se aumentos globais de produtividade da vinha, o que conduzirá a uma produção próxima dos 7,3 milhões de hectolitros, superior em 10% ao ano anterior e uma das mais elevadas das últimas duas décadas.
Por fim, para o azeite prevê-se que haja um decréscimo em volume (-8,3%) no ano civil de 2023 (abrange parte da campanha 2022/2023 e parte da campanha 2023/2024), em consequência da acentuada baixa de produção de azeitona da campanha 2022/2023, que não foi compensada pelo aumento de produção da atual (2023/2024).
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Relativamente ao preço do azeite em 2023, estima-se um acréscimo acentuado (69,2%), em resultado da produção extraordinariamente baixa da campanha anterior, que provocou altas cotações do azeite no mercado nacional. Para além disso, reforça o INE, o preço do azeite é também influenciado, quer pela baixa acentuada dos "stocks" nacionais, em resultado de maior procura, quer pelos mercados internacionais, onde a Espanha se destaca como o maior produtor mundial. Nos últimos anos a produção de azeite espanhol tem sido baixa e os preços muito elevados, o que tem influenciado o mercado português".
Para a produção animal antevê-se um acréscimo nominal face a 2022 (12,5%), em resultado do aumento dos preços de base (15,5%), uma vez que o volume deverá registar um decréscimo (-2,6%), com as produções de bovinos, suínos, aves, leite e ovos a serem determinantes para essa evolução.
Em concreto, segundo o INE, estima-se um decréscimo em volume (-8,5%) na produção de bovinos, decorrente da diminuição dos abates, quer de vitelos quer de bovinos adultos, perspetivando-se um acentuado aumento dos preços de base (22%). O aumento acentuado dos custos de produção (sobretudo da alimentação) e a falta de pastagens devido à seca severa, condicionaram a produção, o que por sua vez determinou o aumento das importações. Por outro lado, refere o INE, no mercado espanhol, o preço das novilhas vivas tem sido mais elevado, o que tem originado um aumento da exportação para Espanha, contribuindo também para a redução da oferta. A insuficiência da oferta nacional e a influência de preços mais elevados em Espanha proporcionaram o acréscimo do preço dos bovinos.
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À semelhança dos bovinos, os suínos deverão decrescer em volume (-4,2%) e aumentar substancialmente em preço (23,0%). O decréscimo do volume decorre da redução dos abates de todas as categorias de suínos. O acentuado aumento do preço é consequência da procura, não só nacional, mas também de Espanha, onde se observou uma diminuição de produção devido, sobretudo, a problemas sanitários, aumentando a procura de porcos vivos em Portugal.
Para os ovinos e caprinos prevêem-se decréscimos do volume e preço da produção (-19,3% e -2,8%, respetivamente), em resultado de um menor abate de animais, quer jovens quer adultos. De acordo com o INE, verifica-se a venda destes efetivos por parte do produtor, em consequência da dificuldade em recrutar mão de obra, assim como o aumento dos custos dos alimentos e outros consumos intermédios.
Já nas aves de capoeira são expectáveis aumentos do volume (3,3%) e do preço (6,2%), sendo de destacar o contributo do frango e do pato para o acréscimo em volume. A carne de frango vai de encontro às opções de consumo de carnes mais saudáveis e de produtos de baixo preço. A produção é de ciclo curto, com baixo risco, pelo que é mais atrativa face a outras atividades avícolas, nomeadamente o peru. O aumento da produção de pato reflete, parcialmente, a recuperação da atividade nas unidades de produção de grande dimensão, que foram atingidas por focos de gripe aviária em 2022.
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O aumento de preço observa-se em todas as aves de capoeira e decorre do aumento dos custos de produção.
Para a produção de Leite, são estimados acréscimos do volume (1,8%) e do preço de base (16,3%). O aumento de preço deve-se sobretudo ao leite de vaca, diz o INE, indicando que efetivamente houve uma recuperação do preço do leite ao produtor, de modo a cobrir os custos de produção, aumentando os preços no consumidor. Adicionalmente, a definição de um conjunto de ajudas extraordinárias para os produtores de leite, visando a compensação do aumento dos custos de produção e a estabilização do mercado também contribuíram para esta evolução, acrescenta o INE.
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