2022 trouxe mais custos e menos exportações aos vinhos nacionais
De norte a sul do país, passando pelas ilhas, produtores de diferentes dimensões estão a ter ruturas de alguns vinhos, devido a atrasos no fornecimento e até à falta de vários materiais, como garrafas.
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Poças: “Não descartamos novos aumentos de preços até final do ano”
As vendas da Poças aumentaram 20% na primeira metade deste ano, tendo as exportações crescido 13%, "embora com performances muito variadas, conforme o país e tipologia de cliente", salienta o CEO, Pedro Pintão.
"Genericamente há um retrocesso no ‘off-trade’ (grande distribuição), que cresceu muito durante o período de pandemia, e um crescimento acentuado no ‘on-trade’, uma vez que há um retomar da atividade na restauração", explica o responsável.
Para além do aumento dos custos, o produtor do Douro está confrontado com "imensos atrasos nos fornecimentos", o que o faz também atrasar a execução das encomendas. "Alguns clientes de maior dimensão já ajustaram o seu ciclo de compras, comprando com mais antecipação. Outros não, o que leva, invariavelmente, a ruturas", afirma o CEO.
A Poças já subiu os preços dos seus vinhos no início do ano, um aumento que variou em função do mercado e tipologia de produtos, mas Pedro Pintão assegura que "não foi suficiente para permitir manter margens de comercialização, dado que já sofremos novos aumentos dos nossos fornecedores". Por isso, afirma, "não descartamos novos aumentos de preços até final do ano, mas parece-nos que será inevitável escolher entre manter margens ou quotas de vendas".
Quanto às perspetivas para a segunda metade de 2022, o gestor adianta que alguns clientes já "deram intenções de compras para o último trimestre", que estão alinhadas com o ano de 2021. No entanto, acrescenta, "também já sentimos em alguns mercados alguma expectativa de retração, com perspetivas de diminuição de compras e trading-down".
Caminhos Cruzados: "Houve vinhos que demoraram mais a sair para o mercado"
A Caminhos Cruzados, do Dão, está a crescer quer no mercado nacional como no de exportação, garante a diretora-geral, que considera que este ano "está a ser de recuperação".
Lígia Santos explica que a empresa já trabalhava com "planeamento e muita antecipação", mas, "mesmo assim, no cenário atual, fomos confrontados com quebras de produtos com os quais habitualmente trabalhávamos".
Segundo a responsável, as consequências foram de vária ordem. "Tivemos de nos adaptar, alterar alguns produtos e, em outros casos, houve vinhos que demoraram mais a sair para o mercado", refere, assegurando que a Caminhos Cruzados está hoje a trabalhar ainda com maior antecipação para não falhar prazos.
Com a subida dos preços das matéria-primas e dos transportes, a produtora já teve de fazer "alguns ajustes" ao preço do produto final, mantendo Lígia Santos a perspetiva de que na segunda metade do ano continuará "a tendência de crescimento". "Espero que se verifique uma estabilização de preços, bem como de prazos de entrega", afirma.
Picowines: “Prazos de entrega hoje são contados aos meses”
A Picowines teve na primeira metade deste ano "o melhor primeiro semestre de sempre nas exportações", tendo atingido já "o valor com que foi fechado" 2021, diz Pedro Cavaleiro, diretor-geral desta cooperativa, que prevê crescer no mercado internacional a "dois dígitos". "Tenho em crer que o mercado internacional será, no espaço de pouco anos, um dos principais mercados para a cooperativa", aponta.
A Picowines definiu para este ano como objetivo um aumento das vendas em 25% a 30%, admitindo Pedro Cavaleiro que contra si tem "o atraso na velocidade de fornecimento (quando disponível sequer)", o que veio "atrasar muitos dos tempos previstos para conclusão de alguns trabalhos".
Por outro lado, a cooperativa da ilha do Pico teve também necessidade de "repensar algumas das linhas pela absoluta indisponibilidade de garrafas de uma certa capacidade ou uma certa cor de vidro".
"Foi bastante desafiante conseguir pensar, prever e estar de acordo com a expectativa do mercado. Eventualmente tivemos algumas ruturas de stock que estamos prontamente a repor", adianta.
Para Pedro Cavaleiro, o impacto da subida de preços tem sido "brutal" e "seria impossível ser apenas a margem a conseguir suportá-lo". Até agora, a Picowines tem tentado uma combinação de subidas de preços e sacrifício das margens, no entanto "com o avançar para novas colheitas temo que a estratégia já não possa ser a mesma e teremos que invariavelmente ver o preço dos vinhos a aumentar", afirma.
"Penso que devemos todos ser críticos em relação à forma como tudo foi acontecendo e perceber se estes aumentos de preços são todos absolutamente justificados na ordem que os temos visto a acontecer. São brutalidades de 100% ou mais em alguns casos", refere o responsável, que diz estar "em crer que algumas empresas que fornecem esses produtos não só não estão a adotar uma postura de "parceria" e "sacrifício partilhado" (tendo em conta esta fase desafiante para todos) como ainda podem estar de forma bastante subtil a aumentar as suas margens".
Pedro Cavaleiro acredita que o resto deste ano "vá ser ainda mais desafiante", já que "o aumento dos preços dos produtos de embalagem e a sua constante indisponibilidade é outro problema para o qual não existe qualquer tipo de resposta".
Além dos preços estarem cada vez mais altos, "os prazos de entrega hoje são contados aos meses", lamenta o responsável da cooperativa vitivinícola do Pico.
Niepoort: “Já começamos a sentir uma certa contração”
As vendas da Niepoort subiram 14% até junho, mas José Teles, administrador da empresa, explica que estes resultados se devem "à conquista de novos mercados e não tanto aos nossos mercados tradicionais", assim como à preponderância do mercado nacional, "onde se registou um crescimento significativo".
No que respeita à exportação, a Niepoort está em linha com o ano passado, explicando José Teles que "o crescimento que tivemos decorreu essencialmente no mercado nacional".
De acordo com o responsável, a empresa registou alguns decréscimos nas vendas, sobretudo em dois mercados, Suíça e Alemanha, em consequência da guerra da Ucrânia e de outras condicionantes.
Ainda assim, refere que neste momento "verificamos que o canal HORECA (Hotéis, Restaurantes e Cafés) está a comprar mais, enquanto que no mercado ‘off trade’, os supermercados, nota-se uma ligeira retração, principalmente no da Suíça, onde se regista um decréscimo de cerca de 50%".
Apesar desta quebra, José Teles garante que "estes valores foram compensados pelo mercado nacional e outros, como o Brasil, Noruega e Canadá, bem como por outros mercados onde a Niepoort está presente, que são mais de 80".
O administrador revela que a empresa está a sentir "constrangimentos a todos os níveis, principalmente nos preços, onde os aumentos foram gritantes". "O agravamento dos custos deu-se não só no mês de janeiro, como é normal, mas também ao longo de todo o semestre, em diferentes matérias-primas, nomeadamente em garrafas, cápsulas e caixas de cartão", explica.
Outro dos problemas com que está a ser confrontado neste momento é o "lead time" de entrega destes materiais. Como consequência, "as nossas linhas de produção e linhas de engarrafamento têm de, por vezes, ser alteradas, o que faz com que não consigamos respeitar os planeamentos previamente feitos para otimizar as nossas linhas de produção, na medida em que nos deparamos semanalmente com a falta de entrega de materiais, sobretudo de garrafas e cápsulas de estanho e de alumínio".
Em face da subida dos custos, a estratégia da Niepoort tem sido sacrificar margens, na ordem dos 8%. "Fizemos um ajuste de preço no mês de janeiro e optámos por não repercutir mais os aumentos nos preços. Esta estratégia justifica-se admitindo que esta situação será ultrapassada", diz.
Para José Teles, embora os meses de junho e julho tenham corrido bastante bem, "as perspetivas para o final do ano não são tão simpáticas, devido aos problemas que o continente europeu enfrenta e que prevemos que se mantenham, como falhas no fornecimento de alguns dos materiais, principalmente de garrafas".
Por outro lado, "começamos a sentir uma certa contração", refere. "As estatísticas do setor apontam justamente nesse sentido, levando a crer que após o mês de julho se verifique uma contração das vendas, principalmente nos mercados próximos do epicentro da guerra", diz.
Quanto ao mercado nacional, "enquanto houver o pico do turismo, e tendo em conta que funcionamos basicamente no canal Horeca, a situação é boa. Mas admito que após estes meses haverá um decréscimo e possivelmente não vamos atingir o orçamento previsto no início do ano".
Por isso, a Niepoort tem em vista a abertura de novos mercados, em diferentes continentes, "para compensar e assim atingir o orçamento estimado".
Torre de Palma: “Comprámos garrafas para os primeiros seis meses”
A Torre de Palma Wines regista um aumento de 15% nas vendas até junho, face ao semestre homólogo de 2021, muito graças ao mercado nacional, "que recuperou os níveis de consumo perdidos durante a pandemia", diz Luísa Rebelo, proprietária e diretora-geral, que refere, no entanto, que "nas últimas semanas, este mercado deu alguns sinais de estagnação, talvez derivado da conjuntura económica atual".
Já relativamente aos mercados externos, a responsável salienta que "a balança oscilou mais", lembrando que "a subida gigante do preço dos contentores e a sua escassez fez com que alguns adiassem as compras".
A produtora explica que, com o alerta dado pelos seus fornecedores em 2021 para a possível escassez de materiais, como garrafas de vidro, "fizemos um planeamento e optámos por comprar garrafas que nos garantissem stocks para os primeiros seis meses". "Foi uma decisão que pesou nas contas de 2021, mas que foi de extrema importância", assegura.
A Torre de Palma fez um aumento de 10% no preço do produto final no início de 2022, o qual "foi calculado unicamente para absorver o impacto da subida dos materiais de embalamento e custos da operação provocados pela covid-19". No entanto, diz Luísa Rebelo, "o início da guerra na Ucrânia veio agravar nomeadamente o setor energético e como consequência tivemos várias escaladas dos preços daí associados".
Apesar das adversidades, Luísa Rebelo acredita que 2022 irá ser o "melhor ano". Isto porque "os mercados externos estão com excelentes indicadores neste segundo semestre" e a feira da ProWein (Alemanha) realizada em maio "já nos abriu novos clientes e mercados com encomendas realizadas".
"Os vinhos estão a ter uma aceitação muito boa sobretudo nas gamas premium e mais exclusivas. Aqui, quase que o preço é inelástico! Podemos fechar o ano com 50% de crescimento na exportação", diz.
Quinta do Portal: “Impacto da guerra afetou seriamente alguns mercados”
A Quinta do Portal aumentou as vendas em 16% até junho, mas Manuel Castro Ribeiro explica que, "em termos efetivos, o impacto no valor acrescentado é nulo, uma vez que grande parte do valor das vendas foi transferido para os produtores de consumíveis", como garrafas e caixas de transporte, que subiram "os preços muito acima do vinho engarrafado".
"O ano de 2022 tem tido um conjunto de vicissitudes completamente anormais e que acabam, no caso da Quinta do Portal, e no dia maioria das empresas do setor, por se refletir nas vendas", afirma o diretor-geral da empresa.
O responsável destaca a dificuldade crescente no abastecimento de matérias-primas e a subida contínua de preços de secos e de energia, mas também o impacto da guerra na Ucrânia, que afetou "seriamente alguns dos nossos mercados". Para o responsável, não é igualmente de menosprezar o efeito "do aumento muito significativo nos preços dos transportes internacionais".
As exportações da Quinta do Portal ficaram na primeira metade deste ano "em linha com o ano anterior", mas Manuel Castro Ribeiro diz contar "com uma recuperação no segundo semestre, face à carteira de encomendas atual e às expectativas que nos são transmitidas pelos nossos clientes".
Segundo explica, é no mercado de exportação, nomeadamente em países fora da União Europeia, que mais se faz sentir o impacto dos prazos de entrega de consumíveis onde não é viável fazer stocks de segurança para a totalidade de matérias-primas utilizadas.
O responsável sublinha ainda as grandes dificuldades no abastecimento de várias matérias-primas. "Habitualmente, conseguíamos prazos de entrega entre uma a duas semanas, salvo raras exceções. Atualmente, há fornecedores a solicitarem encomendas com dois meses de antecedência face à data prevista de entrega", diz.
Por outro lado, acrescenta, há ainda uma dificuldade nas orçamentações "já que o setor trabalhava normalmente com preços únicos para um ano".
"Numa empresa fortemente exportadora como é a Quinta do Portal, com uma multiplicidade de produtos, nem sempre é possível fazer stocks de segurança para todos os consumíveis. A maioria dos secos (nomeadamente rótulos e cápsulas), dada a variedade de referências que utilizamos, apenas são pedidas em função das nossas encomendas", salienta, explicando que isso "obrigou-nos a ser mais assertivos nas previsões, a maior diálogo com os clientes internacionais e, sobretudo, alguma simplificação e homogeneização de referências utilizadas".
Os casos mais complicados, diz, são os das garrafas e das caixas de madeira, em que o mercado global não conseguia ser satisfeito pela capacidade disponibilizada pela indústria durante vários meses. "Tivemos de criar stocks de segurança, a partir do momento que nos apercebemos de um acréscimo significativo de dificuldades", refere.
Manuel Castro Ribeiro diz ainda que a subida de preços da maioria das referências da Quinta do Portal "foi múltipla ao longo deste primeiro semestre", ainda que saliente que se torna "muito difícil no mercado de retalho transferir e fazer entender várias subidas de preços ao longo do ano".
Até ao momento, a tabela de preços foi alterada duas vezes, "situação que já não ocorria há muitos anos", adianta o responsável, frisando que "num mercado fortemente concorrencial e com fácil substituição de produtos por marcas alternativas, houve um número grande de produtores que resistiu a subir mais rapidamente os preços do que o mercado impunha".
"Creio que em breve entraremos numa nova normalidade, em que os preços do vinho engarrafado terão de refletir o aumento de custos que as empresas suportaram e que incorporaram parcialmente na sua margem durante este primeiro semestre", diz, considerando que a subida de preços "é tanto mais imperativa quanto o produto tem margens pequenas, uma vez que estamos a falar de subidas nalguns casos de mais de 40% numa única matéria-prima".
"O valor do vinho e da uva terá sido, numa garrafa, a componente que menos subiu ao longo deste processo",afirma.
Para a segunda metade do ano, o responsável diz estar bastante cauteloso quanto a uma melhoria de margens e de resultados.
"A nossa carteira de encomendas é confortável e o mercado entrou num novo normal. No entanto, os mercados de exportação continuarão afetados pela continuidade da guerra, nomeadamente os mercados europeus, e por um empobrecimento das populações de uma forma transversal", frisa o diretor-geral da Quinta do Portal. "Os produtores de vinho necessitam que os abastecimentos venham de novo a ser feitos em condições concorrenciais e sem escassez", apela.
Quinta Dona Matilde: “Conto que o boom do turismo continue a ajudar crescimento no mercado nacional”
A Quinta Dona Matilde tem as vendas do primeiro semestre em linha com 2021, que já tinha sido bastante parecido com o volume de vendas em 2019, "o melhor ano de sempre" desde que o projeto de vinhos do Douro e Porto começou, em 2007.
No entanto, de acordo com Filipe Barros, as exportações, quer em valores absolutos, quer em percentagem, caíram, representando agora cerca de 20% das vendas totais, quando há um ano estavam acima dos 50%. Para o gestor, estes valores têm duas leituras.
"A primeira tem a ver com o mercado nacional que em 2021 sofreu com a pandemia" e em 2022 "’abriu’ e teve ainda a ajudar um ‘boom’ no turismo pelo que cresceu para valores próximo ao ano pré-pandemia".
A segunda leitura tem a ver com as exportações este ano, "em que devido ao desencadear de uma guerra, aumento de inflação e consequente aumento das taxas de juro e risco de uma nova crise da dívida em alguns países da Europa levou a que as importações em território europeu diminuíssem ou fossem adiadas na expectativa que a situação acalmasse um bocado".
Também o mercado norte americano, nomeadamente os Estados Unidos, com o receio do aumento das taxas de juro e de uma nova recessão fez compras mais prudentes ou aguardou mais para final do ano para perceber qual o desenrolar da situação, explica.
Contudo, diz o responsável da Quinta Dona Matilde, "nesta fase estamos mais otimistas para estes mercados uma vez que a quase paridade do dólar face ao euro tornou as exportações para este mercado mais apetecíveis".
Filipe Barros recorda ainda que na pandemia e no pós-pandemia o frete de envio de contentores por via marítima subiu 3 a 4 vezes. E salienta que a Quinta Dona Matilde também não escapou aos atrasos nos fornecimentos dos materiais.
"O que antes eram três semanas agora passou para o dobro, mas tivemos o cuidado de fazer um planeamento antecipado e já contando com esse alargamento dos prazos de entrega conseguimos engarrafar e embalar os vinhos que tínhamos previstos", afirma o responsável, admitindo ter havido "um caso ou outro mais pontual em que o fornecimento, nomeadamente de garrafas, atrasou em bastante tempo o engarrafamento de um vinho em particular".
Filipe Barros admite ainda que "estamos a sofrer com o aumento dos preços, nomeadamente do material", principalmente das garrafas para o vinho que "tiveram aumentos de quase 60% em relação a 2021".
Segundo relata, "as mesmas garrafas que comprei para o nosso vinho gama de entrada há um ano atrás custaram agora mais 57% do que em 2021. Também as caixas de cartão subiram cerca de 40% e já tinham vindo a subir em anos anteriores. Ao nível da viticultura, sente-se o aumento da mão-de obra, embora em percentagem mais moderada, cerca de 6 a 7%, dos produtos fitossanitários para as vinhas e gasóleo agrícola, sem esquecer o aumento na eletricidade que subiu para o dobro e o triplo", lamenta.
Neste cenário, diz, "obviamente que já fizemos aumentos de preços nos nossos vinhos este ano e poderemos fazer novamente".
Até agora, "os distribuidores têm entendido a situação, mas de maneira nenhuma os aumentos dos preços cobrem os aumentos das matérias-primas", afirma, admitindo no entanto recear "que um novo aumento para final do ano principalmente no mercado nacional possa chocar com a nova realidade em que o consumidor final perdeu poder de compra com a inflação".
Para a segunda metade deste ano, Filipe Barros diz estar "para já otimista". "Estou a contar que o boom do turismo continue a ajudar o crescimento no mercado nacional e que a quase paridade do dólar face ao euro ajude com as exportações para o mercado norte americano".
Já quanto às exportações para o Norte da Europa afirma estar "mais receoso". "Temo que o continuar desta guerra e que a perda de poder de compra via inflação das ‘commodities’ e dos produtos de primeira necessidade leve a um decréscimo de compras de produtos não tão essenciais como o vinho e a uma mudança de hábitos de idas frequentes ao restaurantes".
Quinta das Murgas: “Temos em stock garrafas de anos anteriores que iremos utilizar”
A Murgas Wines arrancou 2022 com um crescimento nas vendas de quase 50% até junho, o melhor ano para o produtor de Bucelas que só agora iniciou as exportações dos seus vinhos para os EUA e Brasil, o que também contribuiu para o aumento registado no semestre. Até dezembro espera ainda abrir outros mercados externos.
João França considera, no entanto, que "a situação atual é dramática, com o aumento continuado dos preços dos materiais de engarrafamento, transportes e dos custos em geral", mas produzir em menor escala, diz, traz "também algumas vantagens no que toca à compra de garrafas".
"Temos ainda em stock garrafas de anos anteriores que iremos utilizar em engarrafamentos deste ano, e que ajudará certamente a equilibrar um pouco as contas, tendo em conta o aumento absurdo do custo do vidro", diz.
Na produção de uvas, o responsável fala igualmente num "grande desafio", começando "pela escassez de mão de obra para trabalhar no campo, seguindo-se o aumento das faturas, dos produtos fitofármacos em que muitos deles quase triplicaram de preço, o aumento do custo do combustível e, por fim, as alterações climáticas e a falta de água têm vindo a provocar períodos de seca e quebras na produção".
A Murgas Wines, diz, tem feito os possíveis para não aumentar os preços dos vinhos e tem vindo a absorver alguns custos dentro dos possíveis, "no entanto, e com a subida abrupta dos custos de produção será inevitável um aumento no preço do vinho de forma a compensar".
"Apesar de tudo o que se tem passado no mundo, para o resto do ano de 2022 as perspetivas para a Murgas são bastante boas", diz o responsável, que garante estar a sentir o aumento da procura pelos seus vinhos, o que o leva a contar este ano duplicar a produção, ainda que faça notar que "as nossas produções são e serão sempre pequenas" e continuarão "fora das grandes superfícies comerciais".
Adega de Favaios: “Estamos todos preocupados com o que irá acontecer”
Apesar das vendas terem atingido os objetivos no primeiro semestre, a Adega de Favaios notou um ligeiro abrandamento das vendas durante o mês de junho, tendência que se agravou em julho. Nas exportações está cerca de 7% abaixo em relação aos valores do ano passado.
Mário Monteiro refere que a cooperativa tem sentido algumas falhas de fornecimento de materiais, tanto para embalamento como de produtos enológicos, mas "foram casos pontuais que rapidamente foram ultrapassados, não tendo havido consequências para a nossa atividade".
Os aumentos dos preços de todos os produtos utilizados na preparação e venda dos vinhos "obrigaram-nos a subir o valor de venda". "Dadas as elevadas percentagens que foram aplicadas em alguns desses produtos, a Adega de Favaios não teve hipótese de sacrificar as suas margens uma vez que elas já são mínimas, não esquecer que somos uma cooperativa. Fomos por isso obrigados a subir o produto final", frisa.
Para a segunda metade do ano, Mário Monteiro diz que gostaria de acreditar que será ainda razoável, mas "infelizmente acredito cada vez menos nisso e portanto estamos todos preocupados com o que realmente irá acontecer".
Casa Relvas: ” Aumentos fizeram com que produtos deixassem de existir”
As vendas da Casa Relvas cresceram cerca de 5% até julho, mas as exportações recuaram os mesmos 5%.
"Todos os materiais de embalamento têm tido, durante o ano de 2022, aumentos bastante significativos. Para além destes aumentos tem havido ao longo deste primeiro semestre falhas em alguns destes materiais e um aumento geral nos prazos de entrega", diz o CEO Alexandre Relvas, frisando que "estes constrangimentos levaram a um grande aumento de custo de produção, assim como bastantes ruturas de alguns produtos".
O produtor de vinho alentejano revela ainda que "estes aumentos nas matérias secas, sacrificaram a margem de alguns produtos e fizeram com que outros produtos deixassem de existir". É que, acrescenta, "embora haja um aumento generalizado de preços, e uma tentativa de vender vinhos de maior valor acrescentado, seria praticamente impossível repassar aos clientes todos os aumentos sofridos".
Para a segunda metade deste ano Alexandre Relvas adianta que já sente as disponibilidades de matérias secas a entrar na normalidade, no entanto, relativamente aos seus preços considera que "é uma incógnita, pois dependerá muito da evolução dos preços da energia nos próximo meses".
Quinta da Côrte: “Mantivemos as nossas tabelas de preços”
A Quinta da Côrte, um projeto recente, que está ainda a desenvolver a distribuição e tem uma produção muito limitada, diz que o planeamento que fez "mitigou em grande parte os constrangimentos de fornecimento de matérias secas". "Em janeiro, já estávamos a realizar encomendas para prevenir esta possibilidade", disse Bruno Ramos, diretor comercial da empresa, que quer fechar este ano com um recorde de 33 mil garrafas vendidas.
Em termos de exportações, o responsável assegura que "os mercados internacionais têm mostrado uma tendência crescente", adiantando no entanto que um mercado que no primeiro semestre não cresceu face a 2021, foram os EUA.
Ainda assim, acredita que este ano irá "superar as vendas previstas", explicando que para a Quinta da Côrte "a tendência de vendas baseia-se em cerca de 70% no segundo semestre".
Por essa razão, diz o responsável do produtor do Douro, "acreditamos fechar o ano de 2022 com vendas recorde. Também devido ao mercado nacional que se tem demonstrado em bom crescimento".
Bruno Ramos adiantou ainda que em janeiro de 2022 a empresa levou a cabo "a natural atualização de tabelas de preços com o compromisso de as revermos em janeiro de 2023". Neste sentido, assegura que apesar do agravamento dos custos "mantivemos as nossas tabelas de preços a todos os nossos parceiros".
Quinta de Monforte: “Subidas de preços chegaram a 100%”
A Quinta de Monforte, que está ainda numa fase muito inicial de prospeção e estabelecimento de parcerias comerciais, só quer fazer balanços de 2022 no final do ano.
A produtora de vinho verde assume atraso nos engarrafamentos e acabamento do produto em consequência de subidas de preços que "em alguns casos chegaram a 100%" .
Apesar do agravamento dos custos, a empresa entendeu não subir preços, optando por sacrificar as suas margens.
Herdade Vale d’ Évora: “Algumas referências entraram em rutura”
Na Herdade Vale d’Évora, as exportações têm estado paradas desde o início da pandemia, mas a expectativa é que ainda este ano faça vendas para o Brasil, Angola e a Alemanha.
Mas em termos de vendas, "apesar de todas as dificuldades, o primeiro semestre correu-nos bem", garante o produtor do Alentejo, que, ainda assim, notou "alguma quebra em determinados períodos"
Relativamente aos constrangimentos em termos de fornecimento de materiais para embalamento, refere que tem sido "muito complicado, pois todos os fornecedores subiram significativamente os preços e, praticamente, todos eles têm dificuldade em cumprir os prazos de entrega".
Uma situação que "prejudica-nos imenso em termos de prazos e custos, pois atrasa-nos os procedimentos, de engarrafamentos, colocação do produto no mercado e a gestão de stock torna-se muito complicada", diz, adiantando que "algumas referencias entraram em ruptura pois não conseguimos os materiais nos prazos pretendidos".
A subida dos custos está a sacrificar margens de venda à Herdade Vale d’Évora já que, "apesar de termos subido o preço do produto, essa subida não acompanha o aumento". Até agora a empresa atualizou os preços dos seus vinhos em 40 cêntimos por garrafa.
"É um mercado muito concorrencial e as subidas de preço têm de ser muito controladas pois corre-se o risco de ficar fora do mercado e perder clientes", salienta.
Para a segunda metade do ano, o produtor diz ter "boas expectativas". "Contamos crescer em volume de vendas em relação a 2021, que por sinal, foi um ano que, apesar de todas as vicissitudes, acabou por ser melhor que o 2019", afirma.
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