Carlos Tavares: Crescimento da burocracia é "um cancro" para sociedade europeia
Num cenário de grande incerteza geopolítica e de competição aguerrida entre a China e os Estados Unidos (EUA) no plano comercial, a Europa “está a correr o risco de se desqualificar para fazer parte dos três grandes blocos deste planeta”. É o que diz o gestor português Carlos Tavares, que teceu duras críticas ao excesso de burocracia e tecnocracia na União Europeia (UE).
Na conferência Millenium Portugal Exportador 2025, que se realiza esta segunda-feira em Santa Maria da Feira, Tavares referiu que esta “desqualificação é a consequência de um certo número de coisas que não se diz aos europeus”. “Não se pode dizer aos europeus que vamos protegê-los com uma riqueza que não estamos a criar”, sublinhou o ex-líder da fabricante de automóveis Stellantis. Como tal, diz que “a Europa tem de entrar na corrida e perder a sua ingenuidade, o que significa produzir mais num mundo que tem um Produto Interno Bruto (PIB) estabilizado”.
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Para aumentar a produção, o gestor sublinha que o bloco europeu deve reduzir drasticamente a quantidade de burocracia e tecnocracia. “Temos um problema que é um cancro da nossa sociedade europeia e portuguesa que é o crescimento da tecnocracia e da burocracia”. “Temos de sair desta rota onde estamos a consumir recursos raros para fazer face à burocracia e tecnocracia em vez de investirmos esses recursos para criar mais riqueza”. Caso contrário, advertiu o gestor português, “vamos ser o fusível da tensão entre os EUA e a China”.
Nesta linha, Carlos Tavares nota que “a luta de poder entre a liderança europeia e os países europeus está-se a fazer através de um instrumento que se chama os regulamentos”, que criam eles próprios mais burocracia e tecnocracia.
Sobre o setor automóvel em específico, o ex-líder da Stellantis disse que esta indústria tem “um grande futuro pela frente”, mas que a Europa fez um erro gravíssimo ao ter “decidido uma tecnologia em vez de decidir um objetivo”, aludindo à obrigação imposta pela UE de que os automóveis produzidos no Velho Continente terão de ser neutros em emissões a partir de 2035. Apesar de sublinhar que a intenção de reduzir as emissões é nobre e que se deve manter, ressalva que “não se deve impor a tecnologia, mas sim fazer uma regulamentação que é neutra em tecnologia para permitir aos engenheiros desta indústria escolher a que é a mais acessível, a mais limpa e a mais segura”. “Este é um caso espetacular de arrogância intelectual e dogmatismo [por parte da UE] que tem um custo enorme”, concluiu o gestor.
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