Exportadoras faturam mais. Ir para fora é difícil
Numa economia pequena e aberta como a portuguesa, crescer significa, para a grande maioria dos negócios, vender para outros mercados - ou mesmo ter presença direta neles. E para olhar lá para fora, é preciso ter músculo financeiro e operacional que só se ganha crescendo, depois de lidar com uma justiça e uma carga burocrática habitualmente criticadas por serem lentas (a primeira) e pesada (a segunda).
Resultado: os dois desígnios alimentam-se mutuamente. Para crescer de forma significativa, é preciso internacionalizar. Mas para internacionalizar é preciso, primeiro, começar a crescer.
PUB
Os números demonstram a importância da internacionalização para a economia como um todo, mas também para o sucesso de cada empresa envolvida.
Em 2024, as vendas ao exterior atingiram o equivalente a 46,6% do produto interno bruto (PIB). O valor representou o segundo ano consecutivo de descida, após o pico de quase 50% atingido em 2022.
Ainda assim, são números muito acima dos verificados na viragem do século (quando pouco passavam dos 25%) ou mesmo do início da década passada. Foi pouco depois da intervenção da troika que o peso das exportações de Portugal no PIB começou a aumentar. É dinheiro injetado na economia portuguesa - com benefícios para as empresas vendedoras e, por arrasto, para as contas públicas.
PUB
Exportadoras têm mais peso no emprego e VAB
Os números mais recentes do Instituto Nacional de Estatística, referentes a 2023, mostram que as companhias que vendem a clientes estrangeiros representam apenas 6,3% das mais de 512 mil sociedades não financeiras (a estas somam-se mais de um milhão de empresas individuais).
São aproximadamente 32 mil empresas com perfil exportador, o que significa que cumprem, no mínimo, um de dois critérios: pelo menos metade do seu volume de negócios vem das vendas de bens ou serviços ao exterior; ou essa proporção é superior a 10%, mas o volume é superior a 150 mil euros.
PUB
Apesar de serem apenas uma pequena parte do tecido empresarial, estas companhias carregam um peso desproporcionalmente grande na economia. Representam 23,7% dos trabalhadores, 35,3% do volume de negócios, 33,3% do Valor Acrescentado Bruto (VAB).
Das mais de 1,5 milhões de empresas em Portugal, cerca de um milhão são individuais. Entre as 512 mil sociedades, existem 32.188 exportadoras. Apesar de serem uma pequena parte do tecido empresarial português (6,3%), estas companhias carregam aos ombros um peso desproporcional na economia. Representam 23,7% dos empregos, 35,3% do volume de negócios e 33,3% do Valor Acrescentado Bruto. A vasta maioria (31.522) são PME, sendo as restantes 666 grandes empresas.
As estatísticas ligam-se indiretamente às das grandes empresas, classificadas desta forma quando têm pelo menos 250 trabalhadores ou o seu volume de negócios é superior a 50 milhões de euros e o ativo líquido está acima de 43 milhões. Os números sugerem que quanto maior se é, mais se exporta. E o oposto: quando mais se exporta, maior se é. Quando os dois conceitos se alinham, o negócio cresce.
PUB
Por um lado, das 32.188 exportadoras, a vasta maioria (31.522) são PME, sendo as restantes 666 grandes empresas. Mas o peso das empresas que vendem ao estrangeiro é muito diferente em cada tipologia. Nas PME, as exportadoras são pouco mais de 6% das empresas desta dimensão. Nas grandes empresas, são 43%.
Ou seja, as exportações são mais frequentes em empresas maiores. E a faturação é muito superior: as exportadoras de grande dimensão garantem um volume de negócios de 112 mil milhões de euros, muito acima dos 75 mil milhões faturadas pelas 31 mil PME. Empregam quase 380 mil pessoas, enquanto as PME dão emprego a 494 mil. Os gastos com pessoal, no entanto, são aproximados: andam à volta de 14 mil milhões de euros nos dois casos, o que mostra que as grandes exportadoras pagam melhor do que as pequenas.
PUB
Mais: em 2023, o pessoal ao serviço das sociedades com perfil exportador aumentou 5,7%, e o VAB somou mais 16,3%. O crescimento do VAB de quem exporta foi superior ao verificado nas restantes (12,3%). As de grande dimensão com perfil exportador registaram um aumento de 24,0% neste indicador e as sem perfil exportador cresceram 14,7%.
Exportar é o primeiro passo. O segundo é ir para lá
Vender para clientes noutros países também pode ser visto como o primeiro estágio de um percurso mais complexo.
PUB
As empresas não devem por isso olhar para a internacionalização apenas no fator exportador, defende a Associação Business Roundtable Portugal (BRP). "Reduzir a ambição internacional à simples venda de produtos noutros países é limitar o potencial de crescimento", diz ao Negócios o secretário-geral da organização. Pedro Gingeira do Nascimento sustenta que "exportar não é sinónimo de internacionalizar, é um primeiro passo. A verdadeira internacionalização implica presença ativa no mercado". Algo que só se consegue com parcerias locais: "Nenhuma empresa chega longe sozinha", explica.
E aqui entra novamente o capítulo da dimensão. "Muitas empresas tentam internacionalizar antes de consolidar operações internas ou profissionalizar a gestão", alerta o secretário-geral da BRP. O que pode ser um problema grave, dado que "a falta de dimensão e de ‘governance’ impede a adaptação a mercados mais exigentes, onde os standards operacionais, regulatórios e comerciais são significativamente superiores".
Mais lidas
O Negócios recomenda