EUA preparam maior alívio das regras bancárias desde a crise financeira de 2008
Os reguladores norte-americanos deverão apresentar este verão uma proposta para reduzir os requisitos de capital dos grandes bancos, numa medida que marca o maior retrocesso nas proteções pós-crise financeira em mais de uma década. A informação está a ser avançada pelo Financial Times.
Os Estados Unidos estarão prestes a avançar com um dos maiores recuos nas regras bancárias desde a crise financeira de 2008, com a administração Trump a abrir caminho a uma nova vaga de desregulação.
De acordo com o Financial Times, os reguladores preparam-se para reduzir o chamado rácio suplementar de alavancagem (Supplementary Leverage Ratio, ou SLR, na sigla em inglês), que exige que os grandes bancos mantenham capital de alta qualidade face aos seus ativos totais, incluindo empréstimos e derivados.
A intenção tinha sido já sinalizada pelo secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Scott Bessent, que anunciou no mês passado uma reforma da atividade bancária no país.
"Temos de adotar uma abordagem diferente, não devemos confiar a tomada de decisões dos Estados Unidos a organismos internacionais. Em vez disso, devemos efetuar a nossa própria análise desde o início para determinar um quadro regulamentar que seja do interesse dos Estados Unidos", afirmou na altura.
A medida surge após anos de pressão intensa por parte do setor bancário, com instituições como o JP Morgan e o Goldman Sachs a argumentarem que estas exigências dificultam a concessão de crédito e a competitividade, ao penalizarem até a detenção de ativos considerados de baixo risco, como a dívida pública dos EUA.
A regra foi introduzida em 2014, como parte das reformas adotadas após a crise financeira de 2008, com o objetivo de reforçar a solidez do sistema bancário e evitar novos colapsos que possam desencadear crises globais. Na altura, os governos tiveram de injetar milhares de milhões de dólares para salvar bancos que assumiram riscos excessivos sem capacidade de resposta.
A possível flexibilização do SLR é vista com preocupação por alguns analistas e reguladores, que consideram inoportuno reduzir exigências prudenciais num contexto de elevada volatilidade nos mercados e de incerteza quanto à política económica da administração Trump.
"Dado o estado do mundo, não parece o momento certo para aliviar os padrões de capital," comentou Nicolas Véron, investigador sénior do Peterson Institute for International Economics, ao FT.
No entanto, a perspetiva de aliviar os encargos regulatórios parece ter conquistado os decisores políticos nos EUA. Jay Powell, presidente da Reserva Federal, já tinha afirmado em fevereiro que era necessário repensar a estrutura do mercado de dívida pública e que a calibragem do SLR poderia ser revista.
A alteração poderá permitir que os bancos reforcem a sua presença no mercado de dívida pública, ajudando a reduzir os custos de financiamento do Estado e aproximando os requisitos norte-americanos dos padrões internacionais.
Atualmente, os maiores bancos dos EUA devem manter capital de nível 1 equivalente a pelo menos 5% da sua exposição total, enquanto os grandes bancos europeus, chineses ou japoneses operam com rácios entre 3,5% e 4,25%.
De acordo com o The Guardian, a notícia surge num momento em que se nota um movimento semelhante no Reino Unido. A chanceler britânica, Rachel Reeves, afirmou em novembro que a regulamentação pós-crise pode ter ido longe demais e apelou à promoção de maior assunção de risco por parte do setor financeiro.
Mais recentemente, o Banco de Inglaterra adiou novamente a implementação das regras de Basileia 3.1, ponderando os efeitos do regresso de Trump à Casa Branca.
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