Tribunal venezuelano executa embargo contra Teixeira Duarte por alegadas dívidas comerciais
A Teixeira Duarte está desde 1978 (há 45 anos) na Venezuela, onde desenvolveu vários projetos, principalmente na área da construção civil.
Funcionários de um tribunal venezuelano executaram uma medida de embargo preventivo contra a construtora Teixeira Duarte Engenharia e Construções SA, por alegadas dívidas comerciais, avançou na quinta-feira a imprensa venezuelana, mas a empresa diz que as alegações são "fraudulentas".
Segundo o jornal digital Notícias de Barquisimeto, a decisão do tribunal foi executada em 01 de março último, nas instalações da empresa "Tegaven - Teixeira Duarte e Associados", filial local da construtora portuguesa por dívidas não pagas pela casa-mãe, sediada em Portugal, a um empresário venezuelano cujo nome não foi divulgado.
Na decisão do tribunal, divulgada parcialmente pela imprensa venezuelana, lê-se que a "medida de embargo preventivo sobre bens móveis" deve cobrir o valor de 4,8 milhões de dólares, o dobro do valor pedido de 2,4 milhões de dólares, mais o valor dos custos do processo judicial.
Contactada pela Lusa, fonte oficial da empresa portuguesa disse que "a medida de arresto preventivo sobre a Teixeira Duarte na Venezuela foi promovida por um cidadão venezuelano e baseada em alegações fraudulentas, estando em curso a correspondente reação judicial por parte da Teixeira Duarte".
O grupo garantiu ainda que "a referida situação não é apta a gerar qualquer impacto nas contas da Teixeira Duarte". A empresa não confirmou os valores avançados pela imprensa venezuelana.
Em outubro de 2021, a empresa estatal venezuelana Bolivariana de Puertos SA (Bolipuertos), que administra vários terminais marítimos no país, rescindiu a "aliança estratégica" com a construtora portuguesa Teixeira Duarte na gestão do porto marítimo de La Guaira, a norte de Caracas.
A decisão da Bolipuertos foi confirmada à agência Lusa por uma fonte da construtora portuguesa, em Portugal, que adiantou que a Teixeira Duarte não concorda com a decisão da estatal venezuelana.
Segundo a fonte, "a referida decisão, no essencial, apoia-se na alegação de que estará incumprida uma obrigação contida no plano de negócios e no contrato de gestão relativa ao desenvolvimento de um nó de transbordo e negócios visando o crescimento do comércio internacional da Venezuela".
Entretanto, segundo fonte diplomática, em Caracas, a Teixeira Duarte entregou a gestão do terminal marítimo venezuelano à Bolipuertos, o que deveria acontecer apenas em 2037, segundo o acordo assinado entre ambas empresas.
Em 17 de janeiro de 2017 o Presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, assinou uma "aliança estratégica" entre a Bolipuertos e a Teixeira Duarte Engenharia e Construção, para transformar La Guaira no primeiro grande porto marítimo da América do Sul e Caraíbas.
Segundo o então ministro venezuelano dos Transportes, Ricardo Molina, a Teixeira Duarte investiu 40 milhões de dólares (34,36 milhões de euros ao câmbio atual) no projeto de melhoramento e ampliação do Porto de La Guaira.
A Teixeira Duarte está desde 1978 (há 45 anos) na Venezuela, onde desenvolveu vários projetos, principalmente na área da construção civil.
Em 2008, com a assinatura de um acordo de cooperação bilateral entre Portugal e a Venezuela, realizou aquela que é considerada a primeira grande obra de infraestruturas da empresa, a Ampliação e Modernização do Porto de La Guaira, em que participaram cinco mil profissionais, 200 deles oriundos de Portugal e o resto venezuelanos.
A obra foi orçamentada em quase 400 milhões de dólares (377,5 milhões de euros).
A construtora explorava uma pedreira, a Conluvar, no leito do rio Naiguatá, no Estado venezuelano de Vargas, e uma fábrica de tijolos de cimento, ambas criadas para apoiar a construção do Porto de La Guaira.
As negociações incluíram ainda o projeto de prolongamento da autoestrada Cota Mil (Caracas), cujas obras se encontram paralisadas desde há vários anos, e que uniria a cidade de Caracas com o vizinho Estado de La Guaira.
Ainda em 2014, a Bolipuertos e a Teixeira Duarte assinaram uma ata para o desenvolvimento do projeto de engenharia, construção e reabilitação e ampliação dos terminais de silos nos portos venezuelanos de Puerto Cabello e Maracaibo.
Em setembro de 2019, o Ministério Público da Venezuela pediu à Bolipuertos cópias de vários documentos, entre eles os relacionados com a aprovação dos relatórios de contas e da "Aliança Estratégica" com a Teixeira Duarte, no âmbito de uma investigação sobre a gestão da construtora portuguesa.
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