Associação Montepio: oposição quer "muito mais" na habitação
A lista de oposição à assembleia de representantes do Montepio defende que a produção de habitação seja a linha central de atuação da mutualista e que seja feito "muito mais" do que previsto, disse Mota Saraiva à Lusa.
"A Associação Mutualista pode intervir para a ajudar diretamente os associados e a questão da habitação é fundamental neste momento, a todos os níveis, para todas as gerações. A Associação Mutualista nos anos 30 do século passado tinha uma componente bastante expressiva de investimento na habitação para os associados. Neste momento é pouco expressiva - é óbvio que já houve pressão nossa, Virgílio Lima já apareceu com um programa sobre essa matéria - e pode ser feito muito mais", disse o líder da lista B, Tiago Mota Saraiva, em entrevista à Lusa.
Segundo o arquiteto e professor universitário, a atual administração fez recentemente propostas na área da habitação e já foram aprovadas na Assembleia de Representantes, mas considerou que tem de ser feito mais.
Além do impacto nos associados, a lista B considera que a dimensão do grupo Montepio fará com que essas medidas tenham impacto, face à crise de habitação.
Segundo Mota Saraiva, a mutualista tem atuado na habitação sobretudo através de financiamento de crédito (através do Banco Montepio) e de fundos de investimento e tem de ser sobretudo produtora de habitação "a rendas acessíveis para os seus associados".
Defendeu ainda que, através do grupo, crie linhas próprias de financiamento para cooperativas de habitação.
Mota Saraiva considera que estes investimentos serão seguros, pois o imobiliário valoriza-se historicamente e há a garantia física do imóvel.
"Durante muitos anos, sobretudo nas últimas décadas, o Montepio virou-se para uma lógica de produzir capital (...). Nós queremos dar o passo atrás e dizer assim 'vamos ajudar os associados muito mais diretamente do que estávamos a ajudar'", explicou o arquiteto.
Para a lista B, a mutualista tem um "impacto estrutural na sociedade portuguesa" de que há pouca noção mesmo entre os associados. Para se ter noção da grandeza, disse, em 2024 os gastos consolidados ascenderam a 1.500 milhões de euros, superando entidades como a Câmara Municipal de Lisboa (gastos de 1.000 milhões de euros) e bem acima do Benfica (cerca de 200 milhões de euros).
"A escala do Montepio é uma escala estrutural para o país. (...) Acho que a maioria dos associados não percebe a escala que a associação tem neste momento. Somos a maior associação da Península Ibérica. São os maiores mutualistas da Europa", disse.
Mota Saraiva afirmou ainda que a lista B quer reconstruir a relação de afeto entre associados e a mutualista, que muitas vezes a usam de forma utilitarista, para ter desconto num crédito ou acesso a serviços médicos, e se envolvem pouco na associação.
Isso, considerou, também se deve a estar gerida por um grupo de pessoas muito fechada sobre si mesma e em que passa pouca informação para os associados.
A Associação Mutualista Montepio Geral - com mais de 600 mil associados - tem em 19 de dezembro eleições para os órgãos associativos dos próximos quatro anos (2026-2029).
Para a gestão da mutualista (mesa da assembleia geral, conselho de administração e conselho fiscal) há uma lista única (Lista A), liderada por Virgílio Lima, presidente da mutualista desde 2019.
Já para a assembleia de representantes (uma espécie de parlamento onde são discutidos os temas estratégicos da mutualista, com 30 pessoas eleitas por método proporcional) foram apresentadas duas listas, a lista A, que volta a propor Vítor Melícias como primeiro nome, e a lista B, com Mota Saraiva a cabeça de lista.
Além de Tiago Mota Saraiva, pela lista B, os candidatos seguintes são Francisco Alhandra Duarte (ex-diretor do banco Montepio), Marta Silva (gestora cultural, integra a assembleia de representantes atual), Ana Silva (investigadora) e Carlos Areal (reformado bancário do Montepio, integra a assembleia de representantes atual). Faz ainda parte da lista Andreia Galvão (deputada do BE).
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