Mutualista Montepio: oposição defende cortes nos salários dos administradores
Tiago Mota Saraiva encabeça a Lista B, que apenas concorre à assembleia de representantes, que acompanha e escrutina a gestão. O presidente Virgílio Lima tem reeleição garantida. As eleições estão marcadas para 19 de dezembro.
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A lista da oposição à assembleia de representantes da mutualista Montepio defende cortes nos salários dos administradores, considerando que os valores se comparam erradamente com os pagos na banca, disse em entrevista o cabeça de lista, Tiago Mota Saraiva.
A Associação Mutualista Montepio Geral - com mais de 600 mil associados - tem em 19 de dezembro eleições para os órgãos associativos dos próximos quatro anos (2026-2029).
Para a gestão da mutualista (mesa da assembleia geral, conselho de administração e conselho fiscal) há uma lista única (lista A), liderada por Virgílio Lima, presidente da mutualista desde 2019.
Já para a assembleia de representantes (uma espécie de parlamento onde são discutidos os temas estratégicos da mutualista, com 30 pessoas eleitas por método proporcional) foram apresentadas duas listas, a lista A, que volta a propor Vítor Melícias como primeiro nome, e a lista B, com Mota Saraiva a cabeça de lista.
Em entrevista à Lusa, Mota Saraiva considera que é desproporcionado o volume de gastos que a mutualista tem com os membros de órgãos sociais (cerca de 2,3 milhões de euros em 2024), explicando que isso acontece porque a mutualista faz comparar os salários dos gestores aos pagos na banca, quando se devia "comparar ao terceiro setor, à economia social", ainda que o grupo Montepio seja dono do Banco Montepio.
"Defendemos a compatibilização com aquilo que é o setor social, com o que são os rendimentos dos órgãos sociais de outras associações e não da banca. A Associação Mutualista não tem de se comparar à banca", afirmou o arquiteto e professor universitário.
O candidato (que já nas eleições de 2021 integrou uma lista de oposição, liderada por Eugénio Rosa) afirmou que a lista B não tem já um valor de corte definido mas que quer levar esse tema à assembleia de representantes.
Um dos princípios dessa revisão salarial, acrescentou, é também a subida do salário mínimo no grupo e que o salário máximo seja uma proporção desse para que os dirigentes também tenham incentivo no aumento das remunerações mais baixas.
Questionado sobre por que razão não concorre a lista B à gestão, Mota Saraiva disse que entenderam que a administração deve concluir dossiês, como a revisão do código mutualista com o Governo, e porque querem focar-se na assembleia de representantes para levar a cabo tarefas como a revisão de estatutos, "fundamental para garantir alguma dose de democraticidade dentro da associação".
O objetivo da lista B é eleger 16 representantes para ter a maioria dos membros do órgão associativo e poder forçar a transparência de informação e o escrutínio, disse. A lista usa como trunfo agregar como apoiantes pessoas como António Godinho e Pedro Corte Real, que no passado se candidataram em listas da oposição.
Entre os apoiantes da lista B estão figuras como Carvalho da Silva (ex-dirigente da CGTP), Helena Roseta (ex-deputada pelo PSD e pelo PS) e Marina Gonçalves (ex-ministra do PS).
Na revisão de estatutos, a lista B quer também quotas de género, considerando que os órgãos associativos são muito dominados por homens e mais velhos.
"A associação mutualista tem 58% de mulheres e 48% de homens como associados. No entanto, enquanto nós nos quatro primeiros da nossa lista temos duas mulheres e dois homens, na lista de Vítor Melícias a primeira mulher está em oitavo lugar [Guta Moura Guedes]", disse.
Quanto às notícias de que Tomás Correia (ex-presidente do Montepio) é acusado dos crimes de abuso de confiança e branqueamento de capitais e questionado sobre se a gestão devia fazer inspeções a atos de gestão passados, Mota Saraiva foi cauteloso e disse que tem havido um caminho de valorização do grupo e saneamento apesar do legado problemático.
"Eu não defendo só que se limpe [o grupo] das pessoas que têm um passado relacionado com Tomás Correia mas temos de limpar os estragos do que foi esta ideia ultramercantilizada da associação", afirmou.
Tiago Mota Saraiva também foi crítico para com Vítor Melícias, por enquanto presidente da mesa da assembleia geral ter tido posições próximas de Tomás Correia, mas não defendeu taxativamente que Melícias deixe de ser candidato mas que seja o próprio a fazer a avaliação se tem condições para continuar.
"Vítor Melícias era o braço direito nas assembleias gerais. Fazia barreira a qualquer pergunta e ridicularizava qualquer pergunta, qualquer questionamento de Tomás Correia, que falava alto e humilhava cada associado que ali fosse questionar" a sua gestão, disse.
Além de Tiago Mota Saraiva, pela lista B, os candidatos seguintes são Francisco Alhandra Duarte (ex-diretor do banco Montepio), Marta Silva (gestora cultural, integra a assembleia de representantes atual), Ana Silva (investigadora) e Carlos Areal (reformado bancário do Montepio, integra a assembleia de representantes atual). Faz ainda parte da lista Andreia Galvão (deputada do BE).
A Associação Mutualista Montepio Geral registou lucros de 210 milhões de euros em 2024, mais 87,5% face a 2023.
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