REN estima ganhos de 3,2 mil milhões com interligações e quer mais investimento nas redes
A REN – Redes Energéticas Nacionais defendeu o reforço das interligações elétricas e o investimento contínuo nas redes como fatores decisivos para a eficiência, segurança e resiliência do sistema elétrico, sublinhando que Portugal obteve ganhos económicos acumulados de cerca de 3,2 mil milhões de euros com a forte ligação ao sistema espanhol, disse o administrador da operadora de redes, João Conceição.
O responsável salientou ainda que as interligações têm sido decisivas para a segurança de abastecimento, recordando que, durante períodos de seca severa, evitaram a necessidade de recorrer a deslastres controlados de consumo em Portugal. “As interligações são um tema que, para nós, tem muito mais vantagens do que riscos”, afirmou na audição na Comissão de Ambiente e Energia, no âmbito do Grupo de Trabalho sobre o apagão de 28 de abril 2025.
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“O facto de estarmos muito interligados com a Espanha permitiu beneficiar de preços bastante competitivos, associados à forte produção solar espanhola”, afirmou, acrescentando que, num exercício preliminar da REN, esses ganhos são estimados em cerca de 3,2 mil milhões de euros nos últimos quatro anos.
Segundo João Conceição, o apagão teve origem num problema de controlo de tensão no sistema elétrico espanhol, que desencadeou oscilações e uma subida abrupta da tensão, levando à quebra da frequência e ao colapso quase simultâneo das redes na Península Ibérica às 11h33 do dia 28 de abril “A causa principal identificada no relatório factual é um problema de controlo tensional”, afirmou, explicando que, em apenas quatro segundos, o sistema perdeu estabilidade.
No momento do incidente, o sistema português operava dentro dos critérios europeus de segurança, apontou Conceição, realçando que a produção eólica e solar representava cerca de 46% e que, com a hídrica, “as renováveis contribuíam para cerca de 62% do consumo em Portugal”. Espanha, acrescentou, apresentava uma produção renovável ainda mais elevada, próxima de 92%.
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Com a falha no sistema espanhol, Portugal passou automaticamente de importador a exportador de eletricidade. “Há um salto nas trocas internacionais de cerca de 2.400 MW”, explicou João Conceição, numa tentativa quase imediata de apoiar o sistema vizinho. Essa resposta revelou-se insuficiente para travar o colapso geral, levando à interrupção total do fornecimento nos dois países.
O apagão que deixou Portugal e Espanha às escuras a 28 de abril foi classificado pelos peritos da Rede Europeia de Operadores de Redes de Transporte de Eletricidade (ENTSO-E) como o mais severo dos últimos 20 anos na Europa - e, mais do que isso, como o primeiro do género: um colapso provocado por uma cascata de sobretensões locais que rapidamente se espalhou pela Península Ibérica.
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Os peritos realçaram que este evento foi considerado o maior apagão na Europa em mais de duas décadas, deixando sem eletricidade Portugal e Espanha durante mais de 10 horas e levando ao colapso das comunicações e à interrupção de serviços essenciais como transportes ou pagamentos.
Na mesma audição, o CEO da REN, Rodrigo Costa, destacou que houve contacto permanente com o Governo desde o primeiro momento e que a hipótese de ciberataque foi rapidamente despistada após contacto com o Serviço de Informações de Segurança. Para a REN, as lições do apagão ibérico reforçam a necessidade de acelerar o investimento em infraestruturas, modernizar as redes e aprofundar a integração dos mercados elétricos europeus, garantindo simultaneamente eficiência económica e segurança de abastecimento, afirmando que não é possível garantir que não ocorrerão novos apagões.
"O nosso serviço é um dos melhores da Europa e as coisas estão bem, mas estamos sujeitos a acidentes, estamos sujeitos à cibersegurança e estamos sujeitos a desastres naturais", afirmou. "A única coisa que há a fazer é estar bem preparados para recuperar" em caso de novo apagão.
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Para garantir a resiliência da rede energética nacional e robustecer a capacidade de resposta das infraestruturas críticas, o Governo aprovou, em julho, um pacote de 31 medidas com um custo de 400 milhões de euros.
Entre as medidas, está a duplicação das centrais a prestar o serviço de arranque autónomo do sistema (black start), somando as centrais de Baixo Sabor e do Alqueva às da Tapada do Outeiro e de Castelo de Bode.
Está previsto um compensador síncrono que visa a “regulação automática de tensão e alocação de massa girante – inércia – contribuindo para limitar a taxa de variação (RoCoF) e a amplitude dos desvios de frequência. Até janeiro de 2026 será lançado um leilão de 750 megavolt-ampere (MVA) de sistema com base em armazenamento de baterias; será lançado um concurso em apoios para melhorar a capacidade de resposta de infraestruturas críticas, como hospitais, empresas de águas e energia.
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