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"O investimento nas redes elétricas tem sido descurado"

As causas do apagão de 28 de abril ainda estão a ser investigadas, mas Gonçalo Moura Martins e António Ramalho realçam um conjunto de factos que hoje é possível afirmar. Novo episódio do podcast Partida de Xadrez vai para o ar esta segunda-feira.

01 de Junho de 2025 às 16:33

Pouco mais de um mês depois do apagão que deixou a Península Ibérica às escuras durante cerca de 10 horas, e numa altura em que causas continuam a ser investigadas, Gonçalo Moura Martins afirma, no 33.º episódio do podcast Partida de Xadrez, que vai para o ar esta segunda-feira no site do Negócios e nas principais plataformas, que há seis factos que já hoje podemos afirmar.

Desde logo, frisa, "o mercado ibérico e a sua interligação têm sido um sucesso, conduzindo à energia mais barata da União Europeia, segundo a Eurostat, apesar da mais pesada fiscalidade". Por outro lado, "Portugal é autossuficiente" já que "dependeu só do mercado interno após o incidente e por longos dias".

O gestor salienta também que "não falta capacidade na geração, havendo redundância de capacidade e de tecnologia" e que "não há qualquer evidência de um ciberataque ter estado na origem do incidente" de 28 de abril. Realça ainda que os preços apenas aumentaram pelo facto de o sistema estar ainda "a absorver a diferença" entre a eficiência que tínhamos quando íamos comprar a Espanha e a compra da nossa energia. E identifica o investimento nas redes como um problema.

"Enquanto a política energética tem-se centrado na geração de energia renovável, o investimento nas redes tem sido descurado", afirma, para defender que a tensão que existe entre concessionários e regulador "nem sempre tem sido resolvida no sentido de melhorar a capacidade da transmissão, a sua digitalização ou o software de gestão desta eficiência".

O incidente – o maior apagão na Europa nos últimos 20 anos – ocorreu às 11h33, altura de elevada produção solar em Espanha, o que levou a que se especulasse sobre a responsabilidade das energias renováveis. Para António Ramalho, "a estratégia e a opção de Portugal pela energia renovável foi triplamente bem sucedida: permitiu uma redução das emissões totais de CO2, da dependência energética com uma redução das importações e do consumo de energia primária".

"Não é um apagão de curto prazo que neutraliza o sucesso das estratégias de longo prazo que definimos", afirma o gestor, para quem, no entanto, "o sucesso do mercado ibérico não implica menor atenção à eficácia da rede de distribuição, à inovação dos processos de armazenamento e à capacidade de produzirmos energia num mix de produção sempre mais atualizado".

"Criámos um mercado muito eficiente à escala ibérica, mas, infelizmente, não tem conexões suficientes", diz ainda, acrescentando que "não faz sentido nenhum pormos um risco adicional em cima de um mercado muito sofisticado, como o mercado ibérico, pela simples razão de que os franceses não querem concorrência".

Em sua opinião, a energia nuclear, por exemplo, "é um assunto que merece ser estudado dentro deste quadro e não contra este quadro".

Os dois gestores avisam ainda que os projetos de megacentros de dados e a reindustrialização da nossa economia vão exigir investimento nas redes "porque os níveis de exigência de intensidade energética são muito maiores" e os "seus consumos energéticos não são passíveis de ser realizadas com a estrutura que temos".

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