Tarifas e depreciação do dólar ditam queda de 86% nos lucros da Altri para 12,4 milhões
A produtora de pasta de papel explica que a incerteza em torno das tarifas norte-americanas levou os preços das fibras a descerem para mínimos, mas antecipa uma melhoria de rentabilidade no último trimestre deste ano.
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A Altri registou nos primeiros nove meses deste ano lucros de 12,4 milhões de euros, o que representa uma quebra de 86,2% face aos 89,6 milhões de resultado líquido que apresentou no mesmo período de 2024. Em comunicado à CMVM, a produtora de pasta de papel explica que o desempenho até setembro foi “afetado pelas variações cambiais e pelas tarifas”, bem como pelo “incidente da turbina da Celbi e pelo ‘ramp-up’ da fibra solúvel na Biotek”.
As receitas totais do grupo somaram 537,7 milhões de euros nos primeiros nove meses do ano, menos 19,7% face ao período homólogo do ano passado, o que atribui “a uma evolução menos favorável dos preços das fibras hardwood assim como a volumes vendidos inferiores, como consequência de um ambiente global menos favorável para o setor”.
Os custos totais também diminuíram em 4,5% para 467,7 milhões, levando a que o EBITDA se tenha situado em 69,3 milhões de euros, 61,5% abaixo do registado nos primeiros nove meses de 2024, correspondendo a uma margem EBITDA de 12,9%. “Este decréscimo é decorrente de condições de mercado menos favoráveis com impacto em preços, ampliada pela evolução bastante desfavorável do dólar”, diz.
José Soares da Pina, CEO da Altri, afirma na mensagem que acompanha o comunicado de prestação de contas, que 2025 “tem vindo a demonstrar a capacidade e resiliência da Altri num contexto muito adverso, com disrupções provocadas pela política americana de imposição de tarifas e que concorrem ativamente para a pressão em baixa no preço das fibras celulósicas, bem como uma depreciação significativa do dólar”.
O responsável salienta que no terceiro trimestre “o preço médio por tonelada de fibras BHKP atingiu 884 euros, o valor mais baixo dos últimos sete trimestres”, para realçar que apesar deste contexto “a Altri continuou a entregar resultados operacionais positivos”.
Para o CEO, “a estabilização da política de tarifas americanas, sobretudo relativamente à China, antecipa melhores perspetivas para os próximos trimestres”.
Nos primeiros nove meses, o volume de produção de fibras celulósicas foi de 810,7 mil toneladas, em linha com o registado no mesmo período de 2024, tendo o volume total de vendas de fibras até ao final de setembro sido de 805,5 mil toneladas, ou seja 2,7% inferior ao período homólogo.
O grupo diz ainda que “mantém a política de otimização dos stocks de produtos acabados, ajustando os níveis de produção às estimativas de vendas, tendo também em conta as paragens programadas”.
Em termos regionais, a Europa (incluindo Portugal) é responsável por 57% das vendas, seguida pelo Médio Oriente e Norte de África com 29%, sendo a Turquia o principal destino neste segmento geográfico.
“Apesar de ser um dos produtores de fibras mais eficientes na Europa, o grupo Altri apresentou uma rentabilidade operacional abaixo dos níveis históricos, sendo que este contexto pouco favorável tem levado a ajustamentos do lado da oferta no setor, restabelecendo algum equilíbrio de procura e oferta”, refere ainda a empresa, frisando que “com um aumento global da procura de fibras, já durante o quarto trimestre, temos assistido a uma recuperação ligeira dos preços de fibras”. Depois de atingir mínimos no terceiro trimestre, o grupo antecipa já “uma melhoria de rentabilidade no último trimestre do ano”.
Políticas norte-americanas afectam
A Altri explica que o segmento de fibras solúveis (DP) foi afetado, especialmente na primeira metade de 2025, pela expectativa do impacto das novas políticas norte-americanas, designadamente na importação de bens têxteis da Ásia para os EUA, o que levou a um decréscimo dos níveis de procura global e de níveis de preços durante o primeiro semestre de 2025. “A situação estabilizou no terceiro trimestre, tendo-se assistido a uma recuperação da procura e a uma estabilização dos preços de DP que se espera que se mantenha para o quarto trimestre de 2025”.
O investimento líquido total realizado pelo grupo até setembro foi de 39,2 milhões de euros, o que compara com 24,5 milhões de euros no período homólogo.
Já a dívida líquida aumentou para 346,5 milhões, o que compara com 213,6 milhões em 2024, o que o grupo diz ser “expectável no nível de investimento relacionado com os vários projetos de diversificação”, como sejam a migração para fibra solúvel na Biotek - cuja conclusão está prevista para o final de 2026 -, a bio produção de ácido acético e furfural na Caima - que deverá terminar na primeira metade do próximo ano -, e a aquisição da AeoniQ, concretizada no último trimestre.
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