UEFA quer gigantes do streaming em jogo pelos direitos da Liga dos Campeões

A remodelação do processo de licitação da UEFA pode abrir contratos globais e de maior duração, alterando o equilíbrio entre televisões tradicionais e plataformas digitais no futebol europeu.
Sedat Suna/Epa
João Silva Jesus 13:42

A UEFA prepara uma mudança profunda na forma como comercializa os direitos de transmissão da Liga dos Campeões, numa tentativa de atrair gigantes do streaming como a Netflix e a Amazon. , a entidade que gere o futebol europeu vai permitir que emissoras e plataformas digitais apresentem propostas em vários mercados ao mesmo tempo, um passo que contrasta com o modelo atual, em que cada país licita em momentos diferentes, dificultando ofertas consolidadas.

O novo sistema, que deve entrar em vigor já na próxima ronda de negociações para o ciclo 2027-2033, pode incluir ainda a possibilidade inédita de transmitir jogos a nível global sob um único contrato. De acordo com a Bloomberg, a UEFA também avalia voltar a assinar contratos de maior duração, algo que tinha sido restringido há mais de 20 anos, quando a Comissão Europeia pressionou para limitar acordos a três anos, com o objetivo de aumentar a concorrência.

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O interesse por contratos mais longos não surge por acaso. Nos Estados Unidos, a UEFA assinou em 2022 um acordo de 1,5 mil milhões de dólares com a Paramount para garantir a transmissão da Liga dos Campeões até 2030, um negócio que se revelou bem-sucedido e deu maior previsibilidade financeira. Este acordo, conduzido pela Relevent Sports, abriu caminho para que a agência norte-americana passasse também a gerir a venda global dos direitos de media e patrocínios da UEFA a partir de 2027.

A estratégia surge num momento em que as , mas ainda de forma cautelosa. A Netflix, por exemplo, limitou-se até agora a eventos pontuais, como o Home Run Derby da Major League Baseball e jogos de Natal da NFL, transmitidos pela primeira vez em 2024. Segundo a ESPN, a empresa já assinou contratos multimilionários para adquirir direitos do WWE Raw a partir de 2025 e, mais recentemente, surpreendeu ao garantir a , nos Estados Unidos. No entanto, continua a evitar pacotes integrais de competições de longa duração como a Liga dos Campeões.

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Já a Amazon tem dado passos mais firmes no futebol europeu. De acordo com a Bloomberg, a empresa detém direitos de transmissão da Liga dos Campeões no Reino Unido até 2027 e também em mercados como Alemanha e Itália, tornando-se um dos parceiros mais relevantes da UEFA no universo digital.

A mudança também reflete a pressão por mais receitas. As competições de clubes da UEFA – Liga dos Campeões, Liga Europa, Conference League e Supertaça Europeia - geram atualmente cerca de 4,4 mil milhões de euros por temporada. Com o novo formato da Champions, que aumentou o número de jogos, as receitas televisivas subiram 18% nos seis maiores mercados europeus, de acordo com dados da consultora Enders Analysis, citados pela Bloomberg.

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Apesar do potencial, o avanço do streaming sobre o futebol europeu não está livre de riscos. Casos recentes revelam fragilidades técnicas: em 2024, a Netflix enfrentou uma ação coletiva após falhas de transmissão no combate entre Jake Paul e Mike Tyson, segundo a . Além disso, a entrada de plataformas globais pode gerar resistência de televisões tradicionais, sobretudo em países como França, Espanha e até Portugal, onde os jogos continuam a ser transmitidos e largamente consumidos na televisão.

Ainda assim, a UEFA parece convencida de que a abertura ao streaming é inevitável. “Os critérios de avaliação não se limitarão à força financeira das propostas, mas também ao alcance e ao apoio promocional”, disse uma fonte próxima do processo citada pela Bloomberg. Essa lógica favorece empresas que conseguem combinar tecnologia, escala e marketing global, atributos que se alinham ao perfil de gigantes como Netflix e Amazon.

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