O verdadeiro “senhor dos anéis”? Oura Health atinge 11 mil milhões em valorização
Startup finlandesa dobra avaliação em menos de um ano e consolida o Oura Ring como símbolo da ascensão das tecnologias de saúde e fitness.
A Oura Health, fabricante do popular Oura Ring, acaba de entrar no clube das empresas de tecnologia avaliadas na casa dos 11 mil milhões de dólares (cerca de 9,4 mil milhões de euros ao câmbio atual). A marca foi atingida após a conclusão de uma nova ronda de financiamento, a Série E, na qual levantou 875 milhões de dólares (750 milhões de euros) junto de investidores.
Na prática, isso significa que o valor total da empresa, medido pelo preço que os investidores estão dispostos a pagar por uma fatia do seu capital, duplicou em menos de um ano. Em novembro de 2024, na Série D, a Oura tinha sido avaliada em cerca de 5,2 mil milhões. A ascensão meteórica reflete não apenas a procura crescente pelos seus dispositivos, mas também a confiança de investidores de que os anéis inteligentes podem vir a ser um dos segmentos de referência nas tecnologias de saúde.
De acordo com a Bloomberg, em paralelo, a Oura assegurou uma linha de crédito rotativa de 250 milhões de dólares com um consórcio de grandes bancos, incluindo o Bank of America, JPMorgan, Goldman Sachs e Citigroup, reforçando as bases financeiras para acelerar a expansão.
Fundada em 2013 na cidade de Oulu, a 100 quilómetros do Círculo Polar Ártico, a Oura começou de forma modesta, recorrendo ao “crowdfunding” para lançar o primeiro modelo do anel inteligente. Atualmente, é um "unicórnio" improvável, que conquistou espaço num mercado tradicionalmente dominado por “smartwatches”.
Segundo dados da própria empresa, já foram vendidas 5,5 milhões de unidades do Oura Ring desde 2015, das quais 3 milhões apenas no último ano. O resultado foi um salto nas receitas: 500 milhões de dólares em 2024, com projeções de mil milhões em 2025 e 1,5 mil milhões em 2026. “O crescimento da Oura tem sido como um foguetão. Nunca tive um trimestre tão forte em toda a minha carreira”, afirmou o presidente executivo, Tom Hale, em entrevista à Bloomberg. Com mais de 30 anos de experiência no setor, o gestor sublinha que a empresa vive o melhor momento da sua história.
Um dos fatores diferenciadores do Oura Ring é o modelo de subscrição associado ao hardware. O dispositivo custa cerca de 399 euros, mas o acesso total à aplicação requer o pagamento de uma subscrição de 5,99 euros por mês. Atualmente, cerca de 20% da faturação já provém de subscrições. O anel também oferece uma vantagem técnica: o sensor colocado no dedo está mais próximo de uma artéria, recolhendo dados biométricos mais fiáveis do que os registados por dispositivos no pulso.
Essa precisão, aliada à possibilidade de monitorização contínua durante o sono, tornou-o popular não apenas entre entusiastas de fitness, mas também entre executivos de tecnologia, celebridades e, mais recentemente, consumidores comuns. Atualmente, o Oura Ring já marca presença em quatro mil pontos de venda no mundo, com destaque para mercados estratégicos como Japão e Alemanha. O maior cliente institucional é o Departamento de Defesa dos Estados Unidos, que distribuiu dezenas de milhares de unidades a militares para rastrear a fadiga, embora o CEO ressalve que esse contrato representa uma pequena fração das receitas globais.
O crescimento da Oura não passou despercebido no mundo tecnológico. A Samsung lançou o Galaxy Ring em 2024, embora com receção morna, e “startups” como a indiana Ultrahuman e a francesa Circular têm procurado espaço no mesmo nicho. Ainda assim, a Oura mantém-se como líder de mercado e continua a expandir a sua base de utilizadores. Para o futuro, Hale confirma que a empresa está a caminhar para atualizações anuais de hardware, mantendo o anel como produto central. A Oura já firmou uma parceria com a Dexcom para integrar dados de glicemia na aplicação e não descarta novas formas de produto, mas garante que a estratégia permanecerá fiel ao formato de anel.
Apesar da valorização recorde, a Oura não tem planos imediatos para abrir capital em bolsa. “Há vantagens reais em ser uma empresa privada. Não quero dizer que nunca iremos a público, mas também não digo que vamos fazê-lo”, afirmou Hale. O CEO cita exemplos como SpaceX e Stripe, que cresceram mantendo-se privadas, como inspiração. De fora da órbita americana de Silicon Valley e nascida em plena Finlândia, a Oura tornou-se um caso raro: uma empresa de “wearables” que não só sobreviveu, como prosperou num mercado competitivo. Agora, com 11 mil milhões de dólares de avaliação, o “senhor dos anéis” do universo dos dispositivos de saúde tem meios reforçados para continuar a conquistar novos utilizadores e investidores.
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