O ideal é que todos se percam... até pelo "pinta-beiço"
Mais do que uma cidade que convida os forasteiros a descobrir as suas expressões culturais, Guimarães afirma-se como "berço" do turismo criativo, desafiando quem chega a apurar a sua própria criatividade, a experimentar.
Lábios coloridos em serviço "Expresso"Na tasca do Clemente, os "habituais" ocupam todas as mesas e a opção é beber a malga de verde tinto no balcão de pedra
Mais do que uma cidade que convida os forasteiros a descobrir as suas expressões culturais, Guimarães afirma-se como "berço" do turismo criativo, desafiando quem chega a apurar a sua própria criatividade, a experimentar. E até mesmo a viver na cidade. A "residência artística" chamou as classes criativas de todo o mundo a passarem ali temporadas, que podem ir de uma semana até a um ano completo, fazendo dela "um sítio amigável à produção artística". Os argumentos são uma cidade europeia com uma escala humana, bom património, infra-estruturas e gastronomia, preços baixos e um povo hospitaleiro.
Se o Turismo de Portugal disponibilizou oito milhões de euros para a promoção externa (5,3 milhões já comprometidos); a Fundação Cidade de Guimarães pensou "um conjunto de estímulos para uma nova forma de fazer turismo nas cidades", diz o director, Carlos Martins.
O projecto "mi casa es tu casa" permitiu aos turistas verem a cidade por dentro, levando 30 concertos à sala-de-estar dos vimaranenses, que lhes abriram as portas e ofereceram vinho e presunto. No Instituto do Design, os turistas podem fazer o próprio 'merchadising', como o 'pin'. O "Descobrir Guimarães" espalhou um conjunto de sinaléticas que, mais do que fazer com que as pessoas encontrem as coisas, quer que elas se percam.
A designer gráfica Maria João Macedo é a mentora do "Mapa para Viajantes Curiosos", que aguarda a segunda tiragem após ter esgotado. É um guia de turismo alternativo, escrito por vimaraneses, para "oferecer aos viajantes uma experiência real", daquelas que só os residentes têm. Como a comida e o vernáculo de Augusta (ver pág. 56) ou o tradicional 'pinta-beiço' - vinho verde tinto -, que Clemente Freitas serve em malga "desde o dia do Euro".
A forma como as pessoas de Guimarães se relacionamcom a Capital Europeia da Cultura é a memória mais forte e permanente dos visitantes. Aqui é claramente o factor mais decisivo naquela que é a experiência da visita.CARLOS MARTINS Director-executivo da Fundação Cidade de Guimarães
Na Tasca Expresso nunca se transaccionou em escudos e só uma minoria dos turistas vai além de espreitar e fotografar, sacudindo as moscas, que voam em círculos. As quatro mesas são escassas até para os habituais clientes, de boina na cabeça, palito em equilíbrio sábio no canto da boca e barrigas avançadas. O anfitrião da tasca, que "até vem no roteiro do chinês", é daqueles com um gosto sádico de tornar difícil a mais banal e circunstancial troca de impressões. Só à quarta tentativa (quando já não era bem uma tentativa) concede uma trégua e situa o produtor do verde tinto em Ribeira de Pena. E sem se perceber porquê, partilha a lição do pai: "nunca me mandou trabalhar. Só me dizia: à 'meia hora' come-se, às 11h [da noite] fecha-se a porta [de casa]". Na tasca, Clemente bate-a todos os dias às 20h.
A frase "Acho que os portugueses são muito amigáveis e delicados. É disso que gostamos. E queríamos andar nas montanhas, por isso viemos para Norte".
Mais lidas