Labubus perdem brilho e Pop Mart já vale menos 13 mil milhões em Hong Kong

A dependência da Pop Mart nos Labubu gera dúvidas entre analistas, após a queda das ações e sinais de arrefecimento no mercado secundário dos brinquedos.
Jens Kalaene/picture-alliance/dpa/AP Images
João Silva Jesus 11:00

A Pop Mart International Group, a fabricante chinesa responsável pela febre dos bonecos Labubu, atravessa uma correção acentuada nas bolsas de Hong Kong, depois de meses de uma das maiores valorizações do mundo em 2024 e 2025.

As ações da empresa caíram quase 9% numa só sessão, a maior perda desde abril, após o JPMorgan ter revisto a recomendação do título de “overweight” para “neutral”, apontando a ausência de catalisadores fortes no curto prazo e uma avaliação considerada excessivamente otimista. Apesar desta queda, os títulos da companhia continuam a registar uma valorização superior a 180% no acumulado do ano, permanecendo como o melhor desempenho do índice Hang Seng. No total, a correção desde o pico de agosto já apagou cerca de 13 mil milhões de dólares do valor de mercado da empresa.

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O abalo nas ações acompanha sinais claros de arrefecimento no mercado secundário dos brinquedos da marca. , os preços de revenda de alguns modelos de Labubu sofreram quedas expressivas: por exemplo, um chaveiro cor de algodão doce perdeu cerca de 30% do valor em dois meses, enquanto uma série de figuras em poses de ioga caiu 37% desde março. Outro conjunto de bonecos, vendido originalmente por 99 yuan, estava a ser negociado em setembro entre 140 e 160 yuan em plataformas de revenda, bem abaixo dos 200 a 300 yuan observados em julho, segundo dados compilados pelo banco de investimento Jefferies.

O JPMorgan atribui estas descidas ao forte aumento da produção. A capacidade fabril da Pop Mart cresceu quase dez vezes em relação ao primeiro trimestre do ano, levando a uma maior oferta e consequente perda de escassez que sustentava os preços. Ainda assim, os analistas destacaram que a empresa mantém uma sólida carteira de propriedade intelectual e capacidade de monetização, apontando que quatro séries de brinquedos fora da linha “Monsters”, que inclui os Labubu, ultrapassaram mil milhões de yuans em vendas no segundo trimestre.

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Apesar disso, a perceção de que o fenómeno Labubu pode não ser sustentável levanta dúvidas sobre a trajetória futura. Segundo a Bloomberg, o JPMorgan reduziu o preço-alvo para dezembro de 2026 em 25%, para 300 dólares de Hong Kong, e alertou que qualquer pequena falha operacional ou notícia negativa pode ter impacto desproporcionado na cotação. O rácio entre recomendações de compra e o total de recomendações caiu para 91%, o nível mais baixo em um ano.

A incerteza pressiona uma avaliação já exigente. O Financial Times refere que a Pop Mart negocia a cerca de 29 vezes o lucro estimado para os próximos 12 meses, enquanto a Bloomberg aponta um múltiplo próximo de 23 vezes. Analistas da Morningstar notam que a queda recente poderá aumentar a urgência para a empresa diversificar o seu portefólio e lançar novas personagens capazes de sustentar a procura, reduzindo a dependência excessiva da linha Labubu.

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As ações da Pop Mart fecharam esta segunda-feira nos 259 dólares de Hong Kong, abaixo do pico de 336 registado em agosto. A capitalização bolsista ronda 347 mil milhões de dólares de Hong Kong, o equivalente a cerca de 45 mil milhões de dólares norte-americanos, , mesmo após a recente correção.

O desafio da Pop Mart será provar se consegue transformar um sucesso viral em crescimento duradouro. A empresa planeia lançar antes do Natal uma nova versão de Labubu, bem como produtos de animação e brinquedos interativos. Porém, segundo a Bloomberg, esses projetos ainda têm “baixa visibilidade” quanto ao impacto nas receitas. Para já, o entusiasmo em torno do “ugly-cute” mais famoso da China parece dar sinais de cansaço, e os investidores observam com cautela se a companhia conseguirá reinventar o fenómeno que a levou ao topo do mercado global de brinquedos.

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