Luanda atira entrada da Unitel em bolsa para 2026

A última data avançada para a privatização da operadora previa a conclusão da entrada em bolsa até ao final do primeiro semestre de 2025.
O governo liderado pelo presidente João Lourenço pretende reduzir a presença estatal na economia.
Ampe Rogério / Lusa
Lusa 11:33

O secretário de Estado para as Finanças e Tesouro de Angola garantiu à Lusa que a operação para entrada em bolsa da operadora de telecomunicações Unitel estará "certamente" fechada no primeiro trimestre de 2026.

Em entrevista, à margem das Reuniões Anuais do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional (FMI), em Washington, Ottoniel dos Santos indicou que o programa de privatizações está a entrar numa fase final e que os ativos "estão a ser preparados para serem já alienados".

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"Alguns vão ser alienados através de mecanismos fora de bolsa. Teremos no primeiro trimestre de 2026, na sequência da operação que foi feita agora com o Banco de Fomento Angola, a entrar também a Unitel (...). O processo para que possamos ter a Unitel na bolsa já está em curso e teremos certamente no primeiro trimestre de 2026 esta operação fechada, bem como todas as outras operações que estão previstas no programa", disse.

A última data avançada para a privatização da operadora previa a conclusão da entrada em bolsa .

A operação prevê a venda de 15% do capital da Unitel através de uma Oferta Pública Inicial na bolsa angolana.

A privatização parcial da Unitel faz parte do Programa de Privatizações (ProPriv) do Governo angolano, que visa reduzir a presença estatal em setores estratégicos e fomentar a participação do setor privado.

Envolve a venda de 15% do capital da Unitel através de uma Oferta Pública Inicial na Bolsa de Dívida e Valores de Angola, de acordo com um despacho presidencial de 23 de agosto de 2024.

O processo de privatização foi inicialmente anunciado no ProPriv 2019-2022, que incluía a alienação de 195 empresas e ativos estatais, entre eles a Unitel, a petrolífera estatal Sonangol e a diamantífera Endiama.

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A Unitel é parceira do BPI no Banco de Fomento de Angola.

A Unitel é parceira do BPI no Banco de Fomento de Angola (BFA), que foi recentemente alvo de uma oferta pública de venda de 29,75% do capital e entrou na bolsa de Luanda. A operadora pública vendeu 15% do capital e o banco português alienou 14,75%. Cada um tem agora aproximadamente 33% do capital. 

Questionado sobre como é que o FMI avalia o programa de privatizações que está em curso, o secretário de Estado observou que a receção tem sido positiva do ponto de vista dos investidores nacionais, mas também do potencial que tem para transmitir a visão do Executivo de "tornar o setor privado, de facto, o campeão da economia" angolana.

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De acordo com Ottoniel dos Santos, o plano do Governo passa pela economia ser liderada via setor privado, com as entidades privadas a conseguirem "absorver choques mais facilmente".

"Esta é uma das questões que o FMI tem vindo também a defender junto dos países, no sentido de que quando houver situações exógenas como as que houve em abril, especialmente por conta de externalidades que nenhum dos países estava a contar, especificamente relativamente às tarifas [norte-americanas], o setor privado poder mais concretamente fazer a sua adaptação e ultrapassar esses desafios", afirmou.

Permitir que seja o setor privado a liderar o crescimento da economia e do Produto Interno Bruto (PIB) angolano, e, em especial, o PIB não petrolífero, faz parte do plano do executivo.

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"Temos muitos ganhos a obter com essas iniciativas e contaremos sempre com o apoio, quer do FMI, quer do Banco Mundial, para podermos ter estes programas com bom sucesso", acrescentou.

O secretário de Estado advogou ainda que os processos de privatização ajudam a acelerar a diversificação da economia e, consequentemente, a reduzir a dependência do petróleo.

Na última avaliação sobre Angola, o FMI falou do aumento de riscos.

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Indagado pela Lusa sobre que riscos são esses, o governante apontou para o "risco de liquidez".

"Estes riscos foram, de alguma forma, ultrapassados com a emissão recente que fizemos de Eurobonds no mercado internacional de 1,75 mil milhões de dólares [1,50 mil milhões de euros] e que, na verdade, mostra o grande caminho que a economia angolana tem vindo a fazer no sentido de manter os investidores internacionais não só alinhados e informados relativamente ao que se vai fazendo a nível (...) de reformas internas, mas também a capacidade de reembolsar os valores que estão a ser investidos nos nossos 'bonds'", defendeu.

Ottoniel dos Santos argumentou que a sustentabilidade da dívida pode ser reforçada através da gestão de novo endividamento, procura de novas linhas de financiamento e de novos instrumentos, como o 'debt-for-development swap', que tem sido promovido pelo Banco Mundial e que visa ajudar os países a diminuir o peso do endividamento, gerando ou canalizando a receita proveniente desta diminuição para setores como, por exemplo, a educação, explicou.

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O governante sublinhou ainda que a sustentabilidade da dívida pode passar igualmente por "olhar para outros mercados, como do Médio Oriente e asiático, assim como mercados onde Angola possa efetivamente fazer emissão de dívida", uma vez que "80% a 85% dos investidores estão baseados em regiões como Estados Unidos e Reino Unido", segundo uma análise feita pelo executivo sobre os investidores nos Eurobonds angolanos.

"Portanto, temos aqui espaço para diversificar, para entrar para estes mercados, e assim melhorarmos também a sustentabilidade da nossa dívida pública, que neste momento está a 55% do nosso PIB, que está abaixo daquilo que está definido como sendo o limite, de 60%", acrescentou.

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