Mercado espera que Milei altere plano económico e avance com reformas, dizem analistas
Analistas ouvidos pela Lusa consideram que os mercados esperam do Presidente argentino que mude o regime cambial para aumentar produtividade e reservas, a par de reformas estruturantes para as quais ganhou capital político nas legislativas de domingo.
"Milei não tem mais desculpas. Ganhou uma oportunidade extraordinária para avançar: um resultado eleitoral, inesperado e contundente, e um apoio inédito dos Estados Unidos. Tem agora uma plataforma enorme para uma mudança. Milei não pode mais alegar falta de apoio, nem falta de dinheiro, nem risco político", diz à Lusa o economista Luis Secco, diretor da consultora Perspectivas.
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No dia após as eleições, a bolsa de Buenos Aires subiu 22,18%, as ações de companhias argentinas em Wall Street subiram até 50%, a taxa de risco-país caiu 40% e a moeda argentina valorizou-se 6% face ao dólar americano.
No entanto, no dia seguinte, essa queda do dólar foi cortada em quase 3% porque os agentes económicos esperam uma desvalorização do peso argentino. Saem mais divisas das que entram no país.
"Milei precisa de um plano económico mais consistente, principalmente no que diz respeito ao regime cambial. O programa económico revelou-se fraco, com um tipo de câmbio desalinhado, com défice na conta-corrente e que não permite acumular reservas. As importações crescem mais do que as exportações, o turismo emissivo é muito superior ao receptivo. A expectativa do mercado é de que haja uma correção ou um novo plano", aponta Luis Secco.
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Milei terá de definir como será o regime cambial daqui para frente. O peso argentino está artificialmente valorizado como forma de conter a inflação. Essa valorização tem feito a economia perder competitividade. Os agentes económicos veem a necessidade imediata de encontrar um equilíbrio para o valor da moeda argentina.
"O consumo caiu muito. As empresas estão praticamente paradas. A indústria também está muito complicada. A inflação baixou no país, mas a custa de uma queda no consumo interno. Os empresários estão assustados com as oscilações constantes da economia argentina. A cada dois anos, temos uma crise. O governo venceu nas urnas e ganhou tempo para construir na segunda metade do mandato o que faltou no primeiro", descreve à Lusa Juan Ignacio Di Meglio, diretor de assuntos públicos da consultora LLYC.
Nos últimos dois meses, o Presidente argentino atribuía ao risco de uma vitória da oposição as turbulências no mercado financeiro. No último mês, perante as dúvidas do mercado quanto à capacidade de pagamento da dívida argentina e à continuidade do atual regime cambial, Milei recorreu a um inédito socorro financeiro do Tesouro norte-americano.
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O aliado ideológico Donald Trump ofereceu-lhe uma linha de 'swap' (troca de moedas) entre a Reserva Federal dos Estados Unidos e o Banco Central da Argentina por 20.000 milhões de dólares, além de diretas intervenções no mercado de câmbio argentino para conter a desvalorização do peso e a possibilidade de uma linha de crédito de bancos privados norte-americanos por outros 20.000 milhões de dólares.
Trump condicionou a concretização da ajuda a uma vitória eleitoral do Presidente argentino, que aconteceu no passado domingo, quando o partido de Milei, La Libertad Avanza, obteve 40,7% dos votos válidos, exatamente nove pontos à frente da principal corrente opositora, o Peronismo, que governou o país entre 2003 e 2023, com exceção do período entre 2015 e 2019.
Javier Milei ficou a 22 deputados e a 13 senadores de conseguir quórum e maioria para aprovar reformas estruturantes, a começar pela laboral. As reformas permitirão que, paulatinamente, Milei substitua o financiamento externo por investimentos diretos necessários para o êxito do seu plano económico. Para conseguir os votos que lhe faltam, precisa de negociar com os governadores que têm incidência sobre os legisladores.
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O Presidente convocou os governadores para uma reunião na Casa Rosada, sede do Governo, nesta quinta-feira (30). Numa tentativa de conciliar interesses, Milei quer assegurar a governabilidade. Em troca de alianças, vai receber o pedido de verbas para questões básicas como construção de obras de infraestrutura. Há dois anos, o ajuste fiscal de Milei não permite a construção de estradas no país.
"A bola está do lado do Presidente; não dos governadores, mas, com um triunfo eleitoral, o poder de negociação de Milei aumentou enormemente. Deve negociar com cuidado para não ceder o equilíbrio fiscal, mas tem margem de manobra. O presidente também precisa dos governadores para receber os investimentos porque é nas províncias onde estão as reservas de minerais e de energia", indica Luis Secco.
"Milei precisa das reformas. Se não conseguir a maioria parlamentária para isso, terminará como um governo numa zona cinza sem fazer as mudanças profundas que a Argentina requer. Será um governo de transição. Por sorte, está tudo a favor de Milei e só depende dele", conclui Juan Ignacio Di Meglio.
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