Indústria cripto já rivaliza com o lóbi dos combustíveis fósseis em Washington
O último grande ato eleitoral nos EUA deixou uma coisa clara: o lóbi cripto está em ascensão e veio para ficar. Depois de terem deixado uma pegada substantiva nas presidenciais de novembro do ano passado, os Comités de Ação Política (PAC, na sigla em inglês) ligados aos ativos digitais já angariaram 263 milhões de dólares para gastarem nas eleições intercalares do próximo ano - um valor superior ao despendido pelo lóbi dos combustíveis fósseis no sufrágio que acabou por ser vencido por Donald Trump.
Estes comités começaram a ganhar influência nas presidenciais de 2012, ano em que Barack Obama conseguiu conquistar o segundo mandato à frente dos destinos dos EUA. São entidades independentes que não se podem coordenar com a campanha que apoiam nem dar dinheiro diretamente aos candidatos, mas que podem pagar por anúncios favoráveis a este — ou desfavoráveis ao seu opositor.
PUB
O valor já angariado para as chamadas "midterms", que vão ser realizadas daqui a pouco mais de um ano, é ainda mais surpreendente quando comparado com o que a Fairshake (a maior PAC do setor) gastou no ano passado. Ao todo, esta entidade investiu mais de 130 milhões de dólares no último ato eleitoral, tendo já mais 141 milhões prontos a servir os interesses dos seus candidatos. Juntando os 100 milhões da Fellowship e os 21 milhões da Digital Freedom Fund, a indústria das cripto está pronta a desembolsar mais do dobro do que nas presidenciais, de acordo com documentos entregues à Comissão Federal de Eleições norte-americana, citados pela Bloomberg.
O sucesso alcançado no último ato eleitoral, com o setor a conseguir eleger 53 dos 58 candidatos apoiados pela indústria, explica o reforço nas verbas. Os republicanos acabaram por ficar com a maioria nas duas câmaras que compõe o Congresso norte-americano e os resultados não poderiam ser mais satisfatórios: só este ano, o órgão legislativo dos EUA passou dois importantes pacotes que levaram a uma maior integração dos criptoativos no sistema financeiro - além de ter confirmado uma série de nomes para posições regulatórias relevantes, como Paul Atkins como presidente da Securities and Exchange Commission (o regulador norte-americano).
PUB
No entanto, a estratégia de apoiar o candidato mais pró-cripto existente, seja republicano ou democrata, parece já não estar em cima da mesa. Com a pegada de Donald Trump a fazer-se sentir cada vez mais na indústria, estas PAC estão a unir esforços para apoiar apenas candidatos conservadores, de forma a que os republicanos mantenham a maioria nas duas câmaras do Congresso e que o setor fique nas "boas graças" do Presidente norte-americano.
Com o "Genius Act" (peça legislativa que estabelece um enquadramento para as "stablecoins" - moedas digitais indexadas a um ativo mais seguro) aprovado, a indústria cripto está agora a apoiar esforços para mudar quem faz a supervisão do setor. O foco imediato é um projeto de lei sobre a estrutura do mercado dos ativos digitais que traria mudanças radicais à sua regulação e daria mais poder à Commodity Futures Trading Commission - agência que tem sido mais favorável ao setor.
(Este artigo foi publicado inicialmente na newsletter cripto do Negócios, que é enviada aos subscritores todas as quintas-feiras às 11:30 horas. Se quiser receber esta newsletter, pode subscrever aqui.)
PUB
Saber mais sobre...
Saber mais Regulação Fundos de investimento Política Eleições Washington D.C. Estados Unidos Donald Trump Barack Obama Paul Atkins Freedom FundNão sejamos parolos!
Mais lidas
O Negócios recomenda