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Bloqueio à Rússia ameaça criar nova crise alimentar

Os preços das matérias-primas alimentares dispararam, na sequência do congelamento das exportações provenientes da Rússia e da Ucrânia. Um movimento de subida que promete continuar a agravar-se enquanto se mantiver a situação de conflito.

trigo, agricultura, setor agroalimentar
trigo, agricultura, setor agroalimentar Nick Oxford/Reuters
03 de Março de 2022 às 20:37
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O conflito entre a Ucrânia e a Rússia leva pouco mais de uma semana, mas os efeitos da guerra nos preços dos alimentos já é intenso. Do trigo ao milho, passando pela soja, os preços  estão a disparar para máximos, naquele que pode ser o início de uma crise alimentar, num momento em que os preços já vinham a subir.

O congelamento das exportações de matérias-primas da Rússia e Ucrânia devido ao conflito na região está a colocar grande pressão nos preços. O trigo é um dos cereais mais afetados, com a matéria-prima a disparar para máximos de 14 anos, negociando acima dos 11 dólares por alqueire. Já o milho saltou para máximos de 2012, enquanto o óleo de palma e o óleo de girassol atingiram valores inéditos: o primeiro nos 8.000 dólares por tonelada, o segundo nos 76,21 dólares por libra-peso.

A Rússia e a Ucrânia são dois dos maiores exportadores mundiais de matérias-primas agrícolas como o trigo – mais de um quarto das exportações deste cereal vem destes dois países. Com o conflito na região, as exportações estão congeladas, provocando uma quebra das reservas a nível global e o consequente aumento dos preços, que deverá impulsionar ainda mais a taxa de inflação.

O índice da Bloomberg para a agricultura tocou em máximos, com "commodities" como o trigo a escalar mais de 50%, enquanto o milho ou a soja disparam mais de 29% e 28%, respetivamente.

Além da escalada dos preços das matérias-primas agrícolas, o conflito a leste tem acelerado um disparo nos preços da energia e dos metais, naquele que é um verdadeiro "cocktail" explosivo para a carteira dos consumidores. "Nunca assistimos a uma escalada do preço das ‘commodities’ tão repentino e tão forte", realça Henning Gloystein, analista da Eurasia Group, à Bloomberg. O mesmo especialista destaca que "até haver uma descida da escalada significativa, o recorde ou os preços elevados devido a sanções e problemas na cadeia de abastecimento vão continuar para muitas matérias-primas".

Já Scott Irwin, um economista especializado em agricultura da Universidade de Illinois, adianta que espera "o maior choque nos mercados de grãos globais". A última vez que se assistiu a uma crise alimentar foi em 2008, quando os mercados lutavam para sair da crise do "subprime" e a escalada dos preços agravou a situação de países em maiores dificuldades.

Sem uma perspetiva quanto ao fim da invasão à Ucrânia, os bancos de investimento têm vindo a rever as suas estimativas para a subida de preços, prevendo-se que a tendência continue a intensificar-se e a agravar um problema bem identificado: a inflação.

Para a subida do índice de preços irá continuar a contribuir o aumento dos preços da energia. Enquanto o preço do gás natural na Europa voltou a subir ontem e atingiu um novo máximo ao chegar muito perto dos 200 euros por megawatt-hora, o petróleo aproximou-se da fasquia dos 120 dólares por barril. Um valor que poderá ser superado muito rapidamente.

"Se o gás e o petróleo forem sancionados diretamente, o petróleo pode facilmente ir até aos 150 dólares por barril", adiantou Leo Mariani, analista da Keybanc Capital Markets, em declarações ao Negócios. O JPMorgan vai bem mais longe: o banco de Wall Street avisa que se o abastecimento de crude russo continuar com perturbações, o Brent, referência para Portugal, pode escalar até aos 185 dólares.

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