Ouro negro: uma década de sobressaltos

As cotações do crude viveram, nos últimos 10 anos, muitos altos e baixos. Depois de, em 2023, rondarem os 100 dólares, parecem agora longe de regressar em breve a esse patamar.
Carla Pedro 06 de Janeiro de 2025 às 09:30

Os últimos 10 anos têm sido uma autêntica montanha russa para os preços do petróleo.

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Depois das quedas de 2015, o ouro negro regressou aos ganhos em 2016 e 2017, para depois voltar a cair no ano seguinte. Em 2019 fixou-se em terreno positivo, mas em 2020 – com a pandemia, o braço de ferro entre os membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e seus aliados (OPEP+) e a falta de espaço de armazenamento – foi de novo ao vermelho, tendo chegado nos EUA a atingir valores negativos pela primeira vez na sua história.

Embora 2021 não tenha sido o ano em que a pandemia ficou para trás, os avanços nos programas de vacinação contra a covid ajudaram a que o otimismo regressasse – e a procura também –, dando assim valores muito positivos ao crude, que valorizou mais de 55%. Já em 2022 voltou a subir, mas pouco, depois de viver um ano conturbado ao sabor da guerra na Ucrânia, das sanções contra Moscovo e das retaliações de Putin, com a elevada inflação a fazer mossa e a chamar ao palco uma subida de juros por parte de muitos bancos centrais.

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Em 2023, praticamente todas as projeções falharam, já que a esperada subida dos preços não se verificou na matéria-prima. As cotações chegaram a estar a rondar os 100 dólares em Londres e o Banco Mundial chegou mesmo a estimar no final de outubro que, num cenário mais adverso, o crude poderia chegar aos 150 dólares – com o conflito entre Israel e o Hamas a alimentar essa perspetiva caso a ofensiva se alargasse a mais países do Médio Oriente. Mas as previsões gerais saíram goradas. A China não teve a esperada retoma económica, que viria acompanhada por um aumento da procura, o petróleo russo continuou a fluir – apesar das sanções do Ocidente – e as Reservas Estratégicas de Petróleo dos EUA não foram totalmente reconstituídas, como o Presidente Joe Biden esperava, depois de o país ter recorrido a 180 milhões de barris no ano anterior.

Chegados a 2024, as estimativas apontavam para um ano mais promissor para os preços do crude. Mas, uma vez mais, não foi o que aconteceu. Apesar das tensões geopolíticas e do aumento dos riscos de escalada de conflitos, o crude teve um saldo anual negativo, tanto em Londres como em Nova Iorque, penalizado sobretudo pela fraca procura por parte da China e pela valorização do dólar (muito à conta dos altos juros da Fed). E chegou mesmo a negociar abaixo dos 70 dólares, o que não acontecia desde 2021.

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"Os preços do Brent oscilaram entre os 68 e os 92 dólares por barril em 2024. Nos primeiros quatro meses do ano negociaram em valores mais altos, tendo transacionado em valores mais baixos na segunda metade. Os juros diretores norte-americanos, que se mantiveram elevados durante mais tempo do que o previsto, e a fraca procura por parte da China ao longo do ano acabaram por ser os responsáveis pela queda dos preços na segunda parte de 2024", sublinha Giovanni Staunovo, analista de "commodities" do UBS, numa análise a que o Negócios teve acesso. 

Agora que, para 2025, as previsões são mais pessimistas, irá o ouro negro surpreender com um desempenho superior aos prognósticos?

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