Moody’s avalia dívida de Portugal. E pode subir a "nota"

A agência de notação financeira pronuncia-se esta sexta-feira. Os analistas ouvidos pelo Negócios apontam para que a perspetiva suba de estável para positiva. E pode haver até uma melhoria do rating.
Pedro Catarino
Carla Pedro 16 de Maio de 2025 às 10:00

A Moody's tem agendada para esta sexta-feira, 16 de maio, a revisão da classificação da dívida soberana de Portugal e o mais provável é que se alinhe com as restantes agências de rating e eleve o "outlook" (perspetiva para a evolução da qualidade da dívida) de estável para positivo, segundo os especialistas que falaram com o Negócios.

A agência atribui atualmente a Portugal a nota A3, o que corresponde ao sétimo grau da categoria de investimento de qualidade (ou seja, quatro níveis acima de "lixo"). Foi em novembro de 2023 que subiu o rating para o clube do A, altura em que o "outlook" foi revisto em baixa, de positivo para estável. Nas duas avaliações do ano passado, em maio e novembro, a Moody’s optou pelo status quo – mas agora, mesmo em vésperas de novas eleições legislativas, poderá decidir melhorar a perspetiva para o mesmo patamar que a Standard & Poor’s e a Fitch. E até mesmo optar por um "upgrade" da própria classificação.

PUB

É precisamente esse o entendimento de Filipe Silva, diretor de investimentos do Banco Carregosa. "Dado o grande dinamismo que a economia tem conseguido apresentar, acho que a agência tem margem para poder subir o rating e passar o 'outlook' para positivo", sublinha ao Negócios.

"Portugal tem conseguido manter um crescimento, sustentado nas exportações e turismo, apesar da desaceleração global que enfrentamos. Ao mesmo tempo, o rácio de dívida sobre o PIB tem caído, estando abaixo dos 100%, dando uma maior confiança aos investidores, fator que se acaba por traduzir no ‘spread’ que atualmente temos versus a Alemanha, que é de 50 pontos-base", aponta Filipe Silva como razões para o otimismo.

Além disso, Portugal tem conseguido apresentar excedentes orçamentais primários, o que demonstra um controlo do défice, refere o responsável do Banco Carregosa. Do ponto de vista político, frisa ainda, "não existem sinais de rutura institucional ou de políticas económicas desestabilizadoras".

PUB

Também Jens Peter Sørensen, analista-chefe do Danske Bank, aponta vários fatores para que a agência possa elevar a perspetiva de Portugal – não vendo, pelo menos por enquanto, um "upgrade" da notação. "A Moody’s tem estado mais distanciada do que as restantes agências no que toca à avaliação de Portugal, dado que vimos subidas do rating por parte da S&P e da DBRS em 2025 e vimos a Fitch a manter o país com perspetiva positiva", diz ao Negócios. "Por isso, e atendendo ao contínuo desempenho sólido da economia portuguesa, vemos no Danske Bank uma forte possibilidade de melhoria do ‘outlook’, de estável para positivo".

E há mais. "Olhando para as contas públicas, Portugal continua a ter um pequeno excedente orçamental. Além disso, o panorama para o crescimento também é melhor", refere Sørensen – mas ressalvando que "muito disto está já incorporado, pelo que o impacto no mercado [de uma melhoria da perspetiva] deverá ser pequeno".

No relatório divulgado em novembro passado, quando decidiu não mexer no rating nem na perspetiva de Portugal, a Moody’s aludiu à possibilidade de a esperada tendência mais positiva de robustez económica e orçamental no país poder ser contrabalançada por "potenciais fatores descendentes, como uma procura externa mais fraca e a implementação mais complexa de políticas devido à fragmentação parlamentar". Entretanto, o país vai de novo a eleições.

PUB

A agência sublinhou também, na última avaliação, que a classificação de A3 refletia ainda alguns desafios, como "o ainda elevado rácio de dívida pública, e comparado com países com rating semelhante, embora este rácio tenha descido consistentemente desde o pico de 2020". A economia competitiva e diversificada, os níveis relativamente elevados de riqueza e a elevada força institucional eram, nessa altura, os fatores que sustentavam a notação.

Pub
Pub
Pub