O amor e o coração na produção de ecoblocos
A Cânhamor é uma empresa portuguesa dedicada à produção de ecoblocos de construção à base de cânhamo, representando “uma ideia muito disruptiva porque em Portugal ainda não ouvíamos falar muito disto”, afirmou José Francisco Matos, responsável de Campo da empresa, vencedora da Categoria Novos Projetos da 13.ª edição do Prémio Nacional de Agricultura em 2024. Segundo o responsável, este galardão “deu visibilidade a uma iniciativa de pequena dimensão” e contribuiu para a “credibilização” da empresa. Atualmente, “já temos perto de 170 casas em cânhamo construídas em Portugal”.
A Cânhamor foi fundada em 2021 por Elad Kaspin, empresário que “veio da Palestina com a família e acabou por comprar um pequeno monte junto à barragem do Monte da Rocha. Apaixonou-se e escolheu as proximidades para fazer esta fábrica”, contou José Francisco Matos. O projeto contou com o apoio financeiro de Khalid Mansour. “Instalou-se num dos concelhos menos favorecidos do Baixo Alentejo e está a dar emprego local, são cerca de 40 pessoas. Foi pelo coração que foi feita a opção”, reforça.
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O cânhamo é descrito como uma “cultura ancestral” que “contribui significativamente para a redução da pegada de carbono”, sendo “um sumidouro de carbono”. Inicialmente, a empresa dependia de matéria-prima francesa, pelo que “todos os blocos que estão no mercado foram feitos com aparas que vieram de França”. O objetivo, sublinha José Francisco Matos, é “produzir cá, transformar e construir com cânhamo português, em Portugal”, o que deverá acontecer “até ao final do próximo ano. Estamos a tentar fazer nascer uma cultura nova com as suas exigências particulares”.
Para o cultivo de cânhamo, a empresa recorre a drones “para observar os campos e localizar manchas que podem sinalizar algum problema em que tenhamos de intervir, alterar a rega ou aplicar algum bioestimulante, por exemplo”. Utiliza ainda sistemas de rega com “sondas de medição de humidade do solo e controlo dos pivôs à distância”.
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A transformação industrial da palha de cânhamo divide-se em três componentes. “A fibra, que pode ir para os têxteis ou outras aplicações. O que chamamos aparas, a parte celulósica dos talos, que é a nossa matéria-prima para depois fazermos os blocos. E um subproduto, que é um pó”, detalha José Francisco Matos. A linha de fabrico dos blocos “utiliza a última tecnologia a nível mundial, com robôs, automação e digitalização”.
Está prevista uma ampliação da fábrica com “a substituição da descorticadora por uma de muito maior capacidade”, de forma a consolidar “a produção de cânhamo no campo”. Até ao momento, o investimento tem sido “100% privado”, embora esteja em preparação “uma candidatura a fundos comunitários para a ampliação de uma parte da fábrica”.
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