Com "mundo do avesso", jovens querem inovar e contribuir para a democracia
Como é que os jovens encaram o mundo atual, marcado por tensões geopolíticas e um maior protecionismo? Quatro representantes de diferentes áreas setoriais – empreendedorismo, finanças, educação e ação humanitária – ouvidas na conferência do Negócios consideram, apesar de o mundo "estar do avesso", os jovens devem afirmar a sua vontade de inovar e de contribuir para um mundo mais tolerante e democrático.
No painel sobre os desafios das novas gerações na conferência do Negócios "#O Poder de Fazer Acontecer 3.0", estiveram à conversa Mariana Gorjão Henriques, diretora da Fintech House, Amélia Santos, cofundadora da Innuos, Cármen Fonseca, professora de relações internacionais na NOVA-FCSH, e Joana Feliciano, responsável de comunicação e relações externas de Portugal com ACNUR (a agência da ONU para os refugiados).
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Mariana Gorjão Henriques começou por destacar que, "mesmo neste mundo do avesso, há empresas a serem criadas e há muita vontade dos jovens em inovar, principalmente no setor financeiro", que é, muitas vezes, encarado como estando "mais distante do mundo dos jovens". A diretora da Fintech House referiu que, desde o arranque do ano, um terço das startups criadas arrancaram pela mão dos jovens e o investimento nas fintechs da Europa tem aumentado, apesar dos recuos na globalização.
"Apesar do ano ter começado bastante instável, terminou com resultados bastante positivos", referiu. Segundo a jovem empreendedora, houve um decréscimo de 20% no investimento no setor a nível global, mas na UE cresceu "à volta de 20%". "São dados muito positivos. A Europa tem mostrado cada vez mais resiliência e mais maturidade no ecossistema. Há muita proatividade e avanços tecnológicos".
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Também na área do empreendedorismo, Amélia Santos considera que a inteligência artificial (IA) vem trazer grandes "desafios" aos jovens, já que a tecnologia existente pode assumir parte das funções empresariais que são hoje atribuídas aos júniores quando terminam a faculdade. Porém, cofundadora da Innuos entende que pode ser vista também como uma "oportunidade", porque permite aos jovens qualificarem-se noutras áreas mais especializadas. Porém, é trabalhar o "sentido crítico", sobretudo nas escolas.
No mundo académico, Cármen Fonseca destacou que "os jovens estão mais envolvidos nos temas políticos", mas que isso "não significa que votem mais". A esse maior envolvimento – que é feito sobretudo por via da participação em manifestações e ações de protesto –, a professora atribui o facto de os jovens "confiarem menos nos políticos e nas instituições", por não verem uma resposta direta às suas necessidades, como é o caso da habitação, bem-estar social, emprego ou segurança.
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Numa nota menos positiva, Joana Feliciano afirmou que, em termos humanitários, este ano está a ser "extremamente difícil", devido ao aumento da deslocação forçada – motivada por fenómenos climáticos, guerras e violações de direitos humanos – e aos cortes de financiamento na ACNUR e noutras organizações humanitárias a nível mundial, impulsionada pela Administração Trump. "Quando fazemos cortes, estamos a escolher entre quem vive e quem morre", lamentou.
No ano passado, o número de refugiados disparou para 123 milhões e, este ano, a expectativa é de que esse número aumente ainda mais, sobretudo devido ao conflito no Médio Oriente. Dessas pessoas forçadas a abandonar as suas casas devido a guerras ou fenómenos climáticos, 41% são crianças e mais de metade são mulheres, o que evidencia a grande desigualdade criada por este tipo de crises que são "cada vez mais duradouras".
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E o que é fundamental para apoiar os jovens neste contexto? Amália Santos considera que a palavra-chave é "integrar". "Apoiar mais o empreendedorismo", diz Mariana Gorjão Henriques. Para Joana Feliciano, é preciso "democratizar a solidariedade" e, para Cármen Fonseca, é necessário "democratizar a educação" para que os jovens possam ter "capacidade de atuação democrática e tolerante".
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