Miguel Luzárraga 19 de Setembro de 2016 às 10:18

Atualização do mercado de ações norte-americano

Os lucros das empresas norte-americanas começam a aumentar, após cinco trimestres consecutivos de quedas.

No caso das ações norte-americanas, o ano de 2016 tem-se caracterizado, por uma forte retoma nos setores defensivos. No primeiro semestre, os setores de telecomunicações e "utilities" aumentaram seis vezes mais do que o resto do mercado. Esta procura de setores defensivos ficou a dever-se aos receios de recessão que imperaram durante o "sell-off" ocorrido em meados de fevereiro, na sequência das ondas de choque que abalaram os mercados após o anúncio do referendo sobre o Brexit. No entanto, o nível de confiança alterou-se em inícios de julho, quando os investidores começaram a concentrar-se mais em setores que oferecem mais oportunidades do que certezas quanto à obtenção de lucros.

Quando analisamos a conjuntura económica, verificamos que o crescimento lento e constante do PIB dos EUA (2,1%, em média) continua a ser um indicador importante sobre a saúde da economia norte-americana no seu todo. A retoma atual poderá prosseguir durante mais alguns anos, pois a curto prazo não se vislumbram sinais que apontem para o fim do período de alta do mercado, o qual geralmente é provocado por três fatores (iminência de recessão, preocupações decorrentes dos preços das "commodities" ou acentuados aumentos das taxas de juro) que não se perspetivam por agora.

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O cerne da economia dos EUA continua a ser o consumidor, dado que o consumo privado representa 70% do PIB, e o consumidor norte-americano continua a beneficiar da melhoria do rendimento líquido das famílias e da baixa taxa de desemprego, a qual foi descendo gradualmente até se cifrar em menos de 5%, tendo a maior parte dos postos de trabalho sido criados em serviços financeiros e de informação, um sinal importante de que a economia continua a produzir postos de trabalhos bem remunerados.

 

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O forte incremento das vendas no setor automóvel é um indício da retoma do consumo e faz antever uma continuação deste ciclo. O setor da construção ainda não é capaz de fazer face ao aumento da procura por parte de uma população em crescimento, o que indica que ainda não atingimos o auge do ciclo económico. Além disso, no que toca à acessibilidade do mercado de habitação para os norte-americanos e o modo como gerem o orçamento familiar, verificamos que a percentagem de rendimento disponível para o pagamento de dívidas apresenta um valor bastante razoável. Por outras palavras, os norte-americanos, de modo geral, têm margem suficiente para assumir novos créditos e financiar o consumo privado.

 

Os lucros das empresas começam igualmente a entrar em terreno positivo, após cinco trimestres consecutivos de crescimento negativo, em grande parte devido à valorização do dólar e à queda de preços do setor energético. Devido à inversão destas tendências, iremos provavelmente chegar ao final deste ano com crescimentos positivos dos lucros.

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Na atual conjuntura, as empresas norte-americanas recorrem a várias estratégias interessantes para pagar aos seus acionistas. Estamos em crer, por exemplo, que o setor financeiro irá beneficiar do chamado "rendimento total", em que a liquidez das empresas é representada por uma percentagem significativa do total de ativos, o que permite o crescimento em dividendos por ação e em recompra de ações próprias. Esta tendência não é exclusiva do setor financeiro: em termos médios, as empresas incluídas no Índice S&P 500 continuam a aumentar os dividendos por ação, e este ano prevemos que o crescimento global de dividendos se cifre nos 8%.

 

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Em termos gerais, apesar dos pontos fracos da economia norte-americana, mantemos a nossa convicção de que o crescimento económico poderá continuar a contribuir para a subida de preços do mercado, pois o consumidor norte-americano mantém o seu poder de compra. Existem certamente algumas adversidades no que diz respeito à confiança. Prevemos que a Reserva Federal (Fed) venha a subir as taxas de juro, pelo menos uma vez este ano, mas qualquer atuação neste sentido será muito gradual, e a Fed continua a depender da evolução da conjuntura económica.

 

Os investidores estão naturalmente preocupados com a iminente eleição presidencial nos EUA. Embora a cobertura das eleições vá certamente dominar as atenções, estamos em crer que aquelas terão um efeito relativamente limitado no mercado de ações, o que se deve à composição heterogénea do Congresso norte-americano. Embora seja possível que o partido democrata venha a recuperar o controlo do Senado nestas eleições, é praticamente garantido que a Casa dos Representantes continuará sob a alçada dos republicanos, ficando o Congresso num impasse, à imagem dos últimos anos.

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Como investidores, não podemos elaborar carteiras nem assentar as nossas decisões de investimento em premissas decorrentes de sondagens de opinião: temos de nos concentrar nos fundamentos. Neste sentido, a situação atual dos mercados de ações dos EUA parece sustentada, atendendo às previsões que apontam para a continuação do crescimento da economia e para o aumento dos lucros das empresas. 

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