Não ao Bloco Central
O fantasma do Bloco Central reaparece ciclicamente no debate político. Pode-se perceber que, entre analistas da área económica e política, o tema pareça recorrentemente oportuno ou contingente. Realmente, as fragilidades estruturais da nossa economia tornam-se mais patentes e preocupantes em ambientes recessivos, deixando os agentes económicos e sociais mais inquietos quanto ao futuro.
Ora, as perspectivas de futuro têm apontado como provável a eventualidade de nenhuma força política poder vir a obter claramente uma maioria absoluta e, simultaneamente, apontam para o crescimento dos partidos à esquerda do partido socialista com um discurso mais radical.
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Logo, se não existir um resultado que garanta, só por si, a realização de um governo estável ao centro, aumenta a incerteza e a dúvida quanto à capacidade do sistema político gerar soluções e entendimentos que sustentem a desejável acção reformista e moderada dum futuro governo. E este raciocínio é, em resumo, o que torna justificável e pertinente a análise sobre o Bloco Central na comunicação social. Porém, do mesmo passo, esta análise comporta uma avaliação muito pouco lisonjeira para os partidos envolvidos no exercício.
De facto, o tema do Bloco Central ganha força analítica na razão inversa da fraqueza potencialmente exibida quer pelo PS quer pelo PSD.A fraqueza do PS tenderá a aumentar na medida em que o actual partido do governo se mantenha encalhado nas sondagens sem dinâmica de crescendo eleitoral, ou exiba crescente dependência face a uma estratégia autónoma de Manuel Alegre, ou ainda se mostre demasiado condicionado ou mesmo refém do crescimento eleitoral do Bloco de Esquerda, ou simplesmente se revele incapaz de se mostrar credível face aos resultados alcançados nestes quatro anos.
A fraqueza do PSD aprofundar-se-á na razão directa da persistência da actual desvantagem eleitoral face ao PS mostrada pelas sondagens, da eventual inconsistência de posições e atitudes que venham a ser tomadas pelos seus dirigentes mais mediáticos ou remotamente da pura dificuldade de percepção ou medo por parte do eleitorado do que poderá representar o projecto de reforma a defender perante o País.Deixando o caso do PS para comentário dos socialistas, só posso advogar para o PSD que este se aplique em vencer estas fraquezas de partida, rejeitando categoricamente qualquer cenário de Bloco Central.
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Em primeiro lugar, qualquer dúvida a respeito do futuro posicionamento do PSD face a soluções de governo partilhado apenas agrava a sua fraqueza como pretendente à vitória nas eleições legislativas. Neste aspecto, portanto, não pode haver lugar nem a equívocos nem a “gaffes”.
O PSD não poderá nunca ser visto como a muleta de governo do partido socialista simplesmente porque o PSD deve ter a ambição de ser a alternativa de governo ao partido socialista. E essa alternativa deve ser real e não meramente formal, razão porque um governo conjunto destes dois partidos constituiria uma contradição política nos seus termos ou uma obra de prestidigitação. Em qualquer caso, este Bloco Central, se pré-anunciado ou pré-consentido representaria um esvaziamento político da alternativa democrática afirmada pelo PSD e, se concretizado sem pré-anúncio, redundaria numa traição ao eleitorado e assim cairia no descrédito político e reforçaria o extremismo parlamentar.
Em segundo lugar, o País precisa desesperadamente dessa alternativa real para poder mudar de vida. A estabilidade de um governo de Bloco Central liderado pelo partido socialista funcionaria, perversamente, como uma espécie de balão de oxigénio para prolongar uma política que o eleitorado não teria desejado que se mantivesse nos actuais termos.
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E um Bloco Central liderado pelo PSD, além da contradição política atrás apontada, nunca veria a luz do dia por nem sequer encontrar quem, no seio da derrota socialista, tivesse coragem de o defender à esquerda.A razão porque os partidos das franjas vêm conquistando cada vez mais simpatia, sobretudo entre os mais jovens, e acumulando um potencial voto de protesto deve-se justamente ao descrédito no actual sistema que não proporciona verdadeiras alternativas. Por isso reina a ideia de que “são todos iguais” e de que “não há esperança”.
Para escapar a esta armadilha, que enfraquece a democracia e os principais partidos, é preciso restituir autenticidade e honra aos compromissos eleitorais e saber romper com a amálgama programática em que os sucessivos governos têm vindo a cair.Para o PSD, o importante é mostrar que pode, no curto e médio prazo, lidar com a actual crise de modo politicamente mais competente que o PS e sem comprometer um futuro de mudanças sérias nas políticas públicas.
Mas, sobretudo, o que será decisivo é convencer hoje o eleitorado de que, no médio e longo prazo, uma via não socializante é indispensável para assegurar o crescimento, a justiça social e o respeito pela autonomia e dignidade das pessoas.
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Acredito que o País anseia pela afirmação clara desta alternativa e poderá premiar com a vitória, não o calculismo mas a genuína ambição de mudar.
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