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Pedro Passos Coelho
30 de Junho de 2009 às 12:46

Ganhar a adesão do País

Não há dúvida de que se respira hoje, no País, um clima completamente diferente do de ainda há três semanas. O resultado das eleições europeias, com a expressiva vitória do PSD, despoletou um sentimento importante que já hoje embala a opinião pública e o tom predominante na comunicação social.

Não há dúvida de que se respira hoje, no País, um clima completamente diferente do de ainda há três semanas. O resultado das eleições europeias, com a expressiva vitória do PSD, despoletou um sentimento importante que já hoje embala a opinião pública e o tom predominante na comunicação social.

Esse sentimento é o de que, afinal, o partido socialista e o governo chefiado pelo Eng. Sócrates são derrotáveis e de que se pode vir a construir uma alternativa real de governo em torno do PSD.

Claro que a derrota dos socialistas nas europeias não pode ser extrapolado com ligeireza para as legislativas. Trata-se de eleições com significados muito diferentes, bem atestados pelo nível de abstenção que tradicionalmente as separa. Mas é importante reter o efeito psicológico que foi obtido: estão criadas as condições de partida para derrotar o actual governo nas eleições, falta agora tratar de criar as condições para construir uma vitória útil do PSD.

Pode esta questão parecer uma chinesice mas não é. Há muito debate feito, na esfera da estratégia e da táctica políticas, sobre se são os governos que perdem as eleições ou se são as oposições que os ganham. E, claro, não existe uma resposta absoluta a esta questão. Dependendo das circunstâncias, umas vezes são os governos que revelam maior mérito nas suas derrotas - talvez o mais frequente. Outras vezes é a oposição que consegue furar a monotonia política e mobilizar vontades susceptíveis de constituir o núcleo de uma alternativa. As circunstâncias particulares estão relacionadas com aspectos de natureza conjuntural, tal como a duração e fase concreta dos ciclos políticos, e outros mais estruturais, como o nível de dependência económica e social face às máquinas públicas e aos detentores do poder estabelecido.

Seja como for, e qualquer que seja a opinião que se tenha no nosso caso concreto, o que tem agora cada vez mais interesse é saber em que medida a estratégia eleitoral a seguir pelo potencial ganhador, que é o PSD, pode influenciar de modo importante a sua capacidade reformadora em caso de vitória. Trata-se, evidentemente, dum problema que envolve as questões relacionadas com as condições de governabilidade ou do por quanto se ganha, e as implicadas pelo nível de adesão gerado em torno das políticas propostas ou do como e para quê se ganha.

Este problema é muito relevante hoje por duas razões. A primeira é que, nas condições económicas que actualmente vivemos, envolvendo problemas estruturais complicados e adversidades conjunturais muito severas, um governo com fracas condições de governabilidade pode estar condenado ao fracasso sério. Imagine-se a situação aritmética das últimas eleições europeias no resultado de Setembro, ou seja, o PSD claramente vitorioso sobre o PS mas com uma maioria absoluta no Parlamento entre socialistas, comunistas e bloquistas. Uma tal vitória, proporcionada pelo falhanço dos socialistas, não deixaria muito espaço ao governo para sequer governar com normalidade, quanto mais para reformar as principais políticas públicas. Além do risco de um tal governo se poder ver substituído por uma coligação forçada à sua esquerda.

Mas a segunda razão é que pode não ser fácil arrancar do País um resultado muito largo com a promessa de políticas reformadoras à altura dos problemas que defrontamos. Ganhar as eleições com grande expressão eleitoral, em particular com uma maioria absoluta, pode ser a consequência instrumental e natural de um programa mobilizador que o País abrace e que queira ver executado. Mas verá o País como mobilizador e positivo um programa de reformas que implica, na maior parte das políticas públicas, uma orientação de efeito menos popular por implicar restrições adicionais?

Finalmente, e mesmo supondo que a orientação a seguir fosse a de disfarçar um tal programa para supostamente não assustar o eleitorado, poderia um governo com esta orientação ganhar as eleições com conforto aritmético e conseguir implementar um programa para o qual não havia mobilizado claramente o País? Isto é, apesar da legitimidade formal, teria o governo força reformadora para prosseguir uma acção de reforma para a qual não obtivesse a adesão positiva do País?

Este é o dilema que o PSD enfrenta e com o qual deverá confrontar o eleitorado. À primeira vista, o PSD parece inclinar-se para a solução mais difícil mas mais recompensadora. Não escondendo ao País que as reformas serão difíceis, falando pois verdade e apresentando um programa de acção ambicioso a pensar no futuro, pode tornar mais difícil o retorno eleitoral. Mas estará a cumprir um desígnio democrático muito importante que é o de oferecer uma alternativa não meramente funcional ou formal mas substancial, que não pode impor a Portugal mas que deve esperar que os Portugueses subscrevam e adiram. A melhor solução eleitoral é, assim, conseguir mostrar que um programa de reformas difíceis pode ser mobilizador e trazer, em simultâneo, a marca esperança. Acredito firmemente que só o PSD está em condições de oferecer esta alternativa e de conseguir a adesão do País para um caminho novo. Pode ser uma esperança árdua mas é uma esperança.

Militante do PSD, gestor

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