O cair da máscara
Dia-a-dia uma realidade vai emergindo cada vez com mais força: o governo, em particular o primeiro-ministro, mostra-se impotente para manter a máscara com que, ao longo do seu mandato, foi iludindo os portugueses.
De decepção em decepção quanto a anúncios de investimentos salvadores que acabam por não acontecer - do que a Qimonda é um triste exemplo -, às contradições delicadas entre Vital Moreira e José Sócrates sobre a estratégia europeia de apoio ao actual presidente da Comissão - Durão Barroso -, passando pela persistente recusa de reforço ao combate à corrupção por via da criminalização do enriquecimento ilícito, José Sócrates vai revelando, no terreno das dificuldades que o País atravessa, a sua verdadeira natureza, que o tempo da bonança dos três primeiros anos de mandato mascarou: a suposta capacidade de realização, afinal, não existe, fica-se pelo anúncio; a suposta coerência de rumo, afinal, não existe, vagueia conforme a oportunidade eleitoral a satisfazer; a suposta determinação no combate à corrupção, afinal, não existe já que é incapaz de dar o passo que pode contribuir de forma decisiva para minorar essa chaga que arrasa a livre concorrência, destrói a competitividade, impede a igualdade de oportunidades e mina a confiança na administração pública, nesta se incluindo a classe política.
PUB
Da fase do "peito feito", supostamente triturador de tudo o que fosse impeditivo de realizar as reformas que o País carece, resta apenas a persistente e obsessiva tentativa de, face a qualquer facto que seja perturbador para o Governo, ou em particular para o primeiro-ministro, desviar a atenção dos portugueses para outro tipo de "agenda".
Foi esse o último ensaio, a propósito da matéria da Segurança Social. O primeiro-ministro tentou, demagogicamente, agravar os receios que os portugueses têm quanto ao futuro das suas pensões. Falou da suposta vontade de privatização da Segurança Social, por parte do PSD, contra a inabalável manutenção da mesma no sector público, por parte do PS. No estilo pouco rigoroso que o caracteriza, o primeiro-ministro, galvanizado com a queda das bolsas que tanto penaliza as empresas portuguesas, deu em confabular - ao bom estilo do ministro Santos Silva - sobre o que seria uma Segurança Social à medida do PSD. Para isso, não se coibiu de faltar, mais uma vez, à verdade: falou de privatização onde se propunha um sistema misto, omitiu o carácter facultativo, para todos os actuais pensionistas, da parte a capitalizar e "esqueceu" a obrigatória garantia de, pelo menos, um fundo público na gestão da capitalização.
Sem êxito, o Governo tentou desfocar o que hoje é objecto da nossa atenção: a incompetência do governo para minimizar os efeitos da crise, para inverter a linha de rumo que tem conduzido Portugal a uma cada vez maior divergência em relação à Europa e, agora com mais evidência, a alegada e pública crise de credibilidade que paira sobre a forma como vários membros do governo exercem as suas funções.
PUB
São cada vez mais perturbadores os sinais públicos da instabilidade que paira sobre instituições estruturantes do Estado de Direito, sobre a essencial separação de poderes e sobre a necessária, e cada vez mais ausente, autoridade do Estado. Instabilidade que tem como ponto nevrálgico a forma de governação que este Executivo prossegue, em que dia-a-dia, facto a facto, cai a máscara do rigor, da isenção e da independência que nos tentaram fazer crer existir.
O Governo, em especial o primeiro-ministro, está hoje refém da sua natureza bipolar: no mar da sua incompetência, navega entre a depressiva ideia de vitimização, de forças que ninguém consegue descortinar, e a eufórica declaração de anúncios, em que já quase ninguém consegue acreditar. Sinal de esgotamento, que nenhuma máscara consegue já esconder!
Advogado e Vice-Presidente do PSD Assina esta coluna mensalmente à segunda-feira
PUB
Mais Artigos do autor
Mais lidas
O Negócios recomenda