Steve Tsang 09 de Novembro de 2010 às 11:39

O caminho de Taiwan de problemático a conciliador

A “sociedade harmoniosa” que o presidente chinês Hu Jintao está constantemente a defender está a ocorrer nas relações entre a China e Taiwan?

Antes de Ma Ying-jeou ser eleito presidente de Taiwan (conhecido oficialmente como República da China) em Maio de 2008, Taiwan era visto, muitas vezes, na China como “problemático” e foi o principal factor de tensão entre a China e os Estados Unidos. Actualmente, Taiwan tornou-se num tema diplomático secundário porque deixou de dar problemas. De facto, no Diálogo Económico e Estratégico entre a China e os Estados Unidos, Taiwan quase não foi mencionado, com a Coreia do Norte, o Irão e o valor de renminbi a captarem as principais atenções.

Sempre foi injusto demonizar os habitantes de Taiwan simplesmente por quererem o que a maioria das pessoas em todo o mundo têm como garantido: melhorar os seus direitos humanos básicos e o seu meio de vida, incluindo o direito a decidir o seu próprio futuro através de um processo democrático.

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A China, no entanto, rejeitou esse sentimentalismo sobre a auto-determinação. E, como uma potência em crescimento, a China é uma força que os líderes, incluindo os democratas, não ignoram. Durante anos, o Partido Comunista chinês definiu que Taiwan está no “centro do interesse nacional”, apesar de na realidade Taiwan ter existido e funcionado como um Estado virtual durante 60 anos.

Durante muito tempo, a China ameaçou usar a força se a comunidade internacional reconhecesse formalmente a independência de Taiwan. Mas nos últimos tempos, a atmosfera tem vindo a mudar e o rótulo de “problemático”, aplicado durante o antecessor de Ma, o presidente Chen Shui-bian do Democratic Progressive Party (DPP), já não é usado há dois anos.

Claro, que o presidente Ma quer os mesmos direitos que o presidente Chen queria. Mas Ma seguiu uma estratégia diferente. O presidente Ma conseguiu diminuir as tensões com a China ao focar-se nos pontos comuns entre as duas partes. Os líderes consideraram a sua linguagem inofensiva. Ma procura defender os interesses nacionais de Taiwan sem despertar a ameaça da República Popular da China de usar a força. Além disso, Ma procurou aproximar as ligações comerciais e de transporte.

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A estratégia de Ma serve à China, cujos líderes vêem com bons olhos poder evitar o confronto com Taiwan, dados os seus actuais esforços para criar “uma ascensão pacífica”. Além disso, a China não quer ver o DPP e os seus agressivos líderes pró-independência a regressarem ao poder. Quando a popularidade de Ma caiu drasticamente devido aos impactos da crise financeira global na economia de Taiwan, os líderes chineses juntaram-se a Ma para diminuir esses impactos.

Isto permitiu à administração de Ma reivindicar o mérito pela melhoria das relações com a China. Mas as causas fundamentais que estiveram na base de uma ameaça de guerra entre a China e Taiwan – e de conflito entre a China e os Estados Unidos, que há muito tempo decidiu apoiar Taiwan caso a China determinasse o estatuto de Taiwan de forma unilateral – não desapareceram. O Partido Comunista Chinês continua decidido a obrigar Taiwan a aceitar a ideia da “reunificação”, enquanto Taiwan continua determinado a decidir o seu próprio futuro.

Mas os interesses de cada lado não precisam de ser mutuamente exclusivos. O direito à auto-determinação não implica a afirmação de uma independência de jure. Por exemplo, o reconhecimento do direito da Escócia escolher a independência não levou a que a Escócia deixasse o Reino Unido. O que as pessoas em Taiwan querem não é nada mais, nada menos do que o reconhecimento de que podem decidir o seu futuro.

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Dada a sua profunda desconfiança, a China nunca vai acreditar que um presidente do DPP que insiste no direito das pessoas de Taiwan a determinarem o seu futuro não vai secretamente lutar pela independência. Mas, dado que a China sabe que Ma não está a defender a independência, podem permitir com maior tranquilidade o seu compromisso de apoiar a República da China em Taiwan.

Se alguma vez existiu uma oportunidade para a China e Taiwan encontrarem uma forma de assegurar que no futuro não vão existir confrontos, que arrastem os Estados Unidos para um conflito, essa oportunidade é agora. O que Ma deve fazer é forjar um claro consenso em Taiwan de que o debate entre independência e unificação é ilusório. O problema real é saber se ambas as partes podem reconhecer que o povo de Taiwan tem o direito de determinar o seu futuro.

É preciso convencer os líderes chineses de que aceitar este ponto não implica permitir que Taiwan caminhe no sentido da independência de jure. Isto pode exigir que Taiwan abandone a sua tendência para realizar referendos periódicos para mostrarem que têm esse direito. E a República Popular da China vai precisar de reconhecer que a melhor maneira de convencer o povo de Taiwan a aceitar a reunificação é tornar a proposta tão atractiva que ele não possa recusar. Não é necessário definir um calendário para isto acontecer. Como uma potência em crescimento, a China devia estar confiante com o facto do tempo estar a seu favor.

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A todo o mundo interessa impedir que os desacordos entre Taiwan e China se tornem em motivo de confronto militar entre os Estados Unidos e a China. Ma criou as condições necessárias para desactivar o detonador. E é altura de o resto do mundo o ajudar a eliminá-lo para sempre, de modo a que as preocupações globais com Taiwan continuem a perder importância.

Steve Tsang é professor de Taiwan Studies no St. Antony’s College, Oxford University.

Direitos de Autor: Project Syndicate, 2010.

www.project-syndicate.org

Direitos de Autor: Project Syndicate, 2010.

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