António Moita 05 de Agosto de 2018 às 19:45

As férias do Presidente

Deveríamos estar num tempo de forçar o crescimento e aproveitar os ventos de bonança que ainda sopram. Mas provavelmente a política vai atrapalhar.

O roteiro de férias de Marcelo Rebelo de Sousa está carregado de simbolismo e vem confirmar que o seu mandato se continua a basear na proximidade, na rapidez e firmeza da decisão e, claro está, nos afetos. Privilegiar a presença nos locais que mais afetados foram pelos incêndios em 2018 não faz dele um herói. Mas reforça a sua credibilidade e confere-lhe cada vez mais poder no exercício do cargo. Quem diria que algum dia o Presidente da República, à luz da nossa Constituição, conseguiria ter a capacidade de intervenção e de decisão, ou seja, o poder, que Marcelo tem hoje.

Inversamente, os restantes protagonistas políticos vão a banhos para os locais do costume. É normal que o façam e não vem daí mal ao mundo. Mas sempre se poderá dizer que a diferença de comportamentos é bem o reflexo do abismo que separa os palácios de Belém e de São Bento. Gostamos de um e não nos conseguimos aproximar do outro.

PUB

Estas férias marcam também o fim de um ciclo na estratégia presidencial de promover consensos alargados sobre os mais importantes temas da vida nacional. A partir de agora, com as eleições europeias e legislativas no horizonte, é tempo de acentuar diferenças entre partidos e lideranças. Podemos afirmar que verdadeiramente foi neste esforço de convergência que Marcelo centrou mais as suas energias. Talvez tenha ficado a semente. Mas o fruto ainda vem longe.

Se no domínio da prevenção e resposta a calamidades foi possível dar passos importantes e verificar que hoje honra seja feita ao esforço de muitos, de entre os quais cumpre destacar o ministro Eduardo Cabrita, há mais meios, mais bem organizados e se conseguiu uma mudança de mentalidades dos inúmeros e muito diferenciados intervenientes na "indústria" da proteção civil, já ao nível da descentralização, da aplicação dos fundos comunitários, da descentralização ou da correção de desigualdades, os resultados são bem mais modestos.

A partir de agora o Presidente da República irá estar mais centrado na prevenção de outro tipo de calamidades. As de natureza política. A começar no Orçamento e a terminar no cumprimento do mandato do Governo da "geringonça". Evitando excessos, limitando conflitos, impedindo a aprovação de medidas eleitoralistas que ponham em causa o cumprimento das metas e dos compromissos com Bruxelas.

PUB

Deveríamos estar num tempo de forçar o crescimento e aproveitar os ventos de bonança que ainda sopram. Mas provavelmente a política vai atrapalhar. E será por isso que, tal como no destino de férias dos protagonistas, os eleitores irão avaliar de forma muito diferente o comportamento de cada um.

 

Artigo em conformidade com o novo Acordo Ortográfico

PUB

 

Pub
Pub
Pub