A alegoria da virgem nas casas de alterne
O mais recente escândalo sobre as suspeitas do currículo académico de Feliciano Barreiras Duarte, o secretário-geral do PSD escolhido por Rui Rio, reforça a ideia dos erros de "casting" da equipa do novo líder do maior partido da oposição.
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Já a escolha de Salvador Malheiro e Elina Fraga era suficientemente polémica. E se no caso do autarca de Ovar até se percebia a opção por causa da recompensa da campanha eleitoral interna, em relação a Elina Fraga, acusada de ser gastadora na gestão da Ordem dos Advogados e estando sob escrutínio da justiça, Rio deu um tiro voluntário no pé. Agora é o caso do homem que escolheu para gerir a máquina partidária, um cargo que Rio exerceu durante a liderança de Marcelo Rebelo de Sousa.
As dúvidas sobre a veracidade dos currículos académicos dos políticos não são novidade. Aliás, já mereciam um estudo académico aprofundado na área da sociologia, porque estes episódios revelam muito sobre a camada em que é recrutado o pessoal que por insistência e resiliência acaba por ganhar poder nas máquinas partidárias. O que é notável é que pessoas com algumas aspirações escrevam coisas falsas em currículos, quando é tão fácil escrutinar essa informação.
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O curioso é que Rui Rio é um político que não tem nada a esconder na vida: guarda as despesas e os pagamentos feitos com um rigor quase religioso, conserva as facturas e até os canhotos dos livros dos cheques, não vá alguém ter alguma dúvida sobre uma eventual conta pessoal de 1993.
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Em termos públicos e políticos, Rio tem um estatuto semelhante ao das virgens. Mas ao olharmos para as pessoas que escolheu para o rodear na liderança do PSD, dá a impressão de que essa escolha foi feita por alguém habituado a fazer "castings" para concursos televisivos, como a "Casa dos Segredos".
Na edição que agora decorre do "reality show" televisivo, havia uma pessoa que até fundou um clube das virgens, mas para o concurso ter audiência, outras concorrentes têm um currículo mais parecido com quem já frequentou casas de alterne.
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É o mesmo contraste que se encontra na equipa de Rui Rio, destruindo um dos principais activos políticos do líder do PSD.
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É mais uma aplicação da lei de Gresham à política partidária. A má moeda tende a expulsar do mercado a boa moeda, e a imagem dos dirigentes escolhidos por Rio a contas com processos judiciais vai contaminar a imagem do próprio líder.
Mas esta teimosia de Rio também está relacionada com a sua limitada visão sobre o Estado de direito e a separação de poderes. Se dependesse de Rio, a justiça teria mais respeitinho e pouco ou nada se saberia sobre processos que incomodam os políticos.
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Saldo positivo: gestão da dívida pública
Os ventos têm sido favoráveis à gestão da dívida pública. Esta semana, o IGCP colocou 1.250 milhões de euros em títulos de dívida a 10 e 27 anos, com os custos mais reduzidos de sempre em ambas as emissões. O montante não é elevado, mas vale pelo registo positivo das taxas de juro.
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Foram colocados 925 milhões de euros em obrigações do Tesouro com maturidade em Outubro de 2028, com uma "yield" de 1,778%. Os títulos com maturidade em Fevereiro de 2045 foram emitidos à taxa de 2,8%.
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Saldo negativo: a maquilhagem do Montepio
As manobras contabilísticas quase que fazem acreditar em milagres como a transformação de prejuízos em lucros na Associação Mutualista Montepio por força de perder a isenção fiscal em sede de IRC. É uma manobra que, a curto prazo, parece pura alquimia, mas que tem risos. A maquilhagem não apaga os problemas estruturais da instituição que conta com mais de 600 mil associados, mas melhora a imagem de uma associação que precisa de sócios para reforçar o capital do banco Montepio.
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Algo completamente diferente: a chuva é mesmo sinal de bom tempo
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Depois de um longo período sem chuva, com a maior parte do território em seca extrema, o fim do Inverno trouxe precipitação a sério, agora sob o nome de tempestades baptizadas por ordem alfabética. Já vamos na letra G, de Gisele. Por hábito, nos jornais, nas televisões, na rádio ou na internet, chove e só se houve falar de mau tempo. Um péssimo nome, inadequado, porque não se deve chamar mau tempo a condições meteorológicas que trazem esperança aos agricultores, enchem as barragens de abastecimento de água e tornam possível a produção eléctrica sem utilização de combustíveis fósseis.
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