João Carlos Barradas 23 de Agosto de 2016 às 19:24

O vício e a virtude

Nem ela, nem ele, são merecedores de confiança para a maioria do eleitorado e à medida que a campanha avança notícias e rumores de fraudes, duplicidades, mentiras e omissões cavam um fosso cada vez mais fundo entre potenciais votantes e os candidatos à Casa Branca.

Hillary Clinton não era tida por honesta por 59% dos inquiridos no início de Agosto numa sondagem para a ABC/Washington Post, enquanto 62% pensavam o mesmo de Donald Trump e, desde então, os juízos sobre a integridade moral dos candidatos dificilmente terão melhorado.

 

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Trump continua sem divulgar as suas declarações de rendimentos e a demissão do director de campanha Paul Manafort por espúrios serviços a Viktor Yanukovitch, o  falhado homem de Moscovo na corrupta política da Ucrânia, veio avivar suspeitas sobre os negócios do magnata de Nova Iorque.

 

Hillary, por seu turno, acarta com as consequências de ter mentido reiteradamente sobre o uso de um servidor pessoal para gerir a correspondência electrónica como secretária de estado, prática inédita e à margem da lei.

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Até Novembro o FBI terá de divulgar, em parte ou na totalidade, 14 900 emails, pretensamente pessoais, que conseguiu recuperar depois dos advogados de Hillary terem rastreado e eliminado metade da correspondência, entregando, em Dezembro de 2014, mais de 30 mil mensagens electrónicas relativas a assuntos oficiais.

 

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Outros emails vindos a público esta semana, por via de um processo movido pela organização conservadora Judicial Watch, comprovaram como Huma Abedin, uma das colaboradores mais próximas de Hillary, geriu, entre 2009 e 2013, pedidos de doadores da Fundação Clinton para encontros ou favores da secretária de estado.

 

Bill Clinton anunciou, entretanto, que caso Hillary seja eleita deixará de recolher donativos para a Fundação que angariou mais de 2 mil milhões de dólares para iniciativas humanitárias desde 1997.

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Para obviar a conflitos de interesses não serão aceites contribuições do estrangeiro e proceder-se-á, também, a uma reestruturação das actividades.

 

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Os Clinton admitiram, assim, eventual risco de conflito de interesses, algo que aparentemente não lhes ocorreu após a eleição da antiga primeira dama para o Senado onde representou Nova Iorque entre 2001 a 2009.

 

O presidente Obama tão pouco fez caso do risco de conflito de interesses ao nomear Hillary para secretária de estado e, pelo lado democrata, cumpre-se, agora, a tradicional contrição num típico acto de hipocrisia, renovando a perene homenagem do vício à virtude.

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Elevando a parada e disparando mais rápido do que própria sombra, Trump prossegue, por sua vez, uma campanha desvairada - ignorando prioridades e grupos-alvo, hostilizando o próprio Partido Republicano - e os abusos, ofensas e incoerências fazem-se sentir cada vez mais nas sondagens.

 

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A democrata lidera em estados-chave como a Flórida ou Pensilvânia capazes de lhe garantirem uma maioria no Colégio Eleitoral, ainda que por margens pouco confortáveis, comprovando que o temível e demagógico adversário de Hillary é também, paradoxalmente, o maior trunfo da candidata.

 

Por mais conformados que os eleitores estejam quanto ao amoralismo dos candidatos só nos próximos meses se verá a que ponto a dúbia ética pessoal de Clinton a prejudicará na captação de indecisos e independentes.

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Hillary tanto poderá soçobrar por culpa própria e ante a virulência demagógica de Trump ou vencer repondo um mínimo de sanidade política, ainda que pouco ética.

 

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Jornalista

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