Luís Marques Mendes 26 de Novembro de 2017 às 21:03

A avaliação de Marques Mendes a António Costa e aos ministros

As notas da semana de Marques Mendes nos seus comentários na SIC. O O ex-ministro e antigo líder do PSD faz uma avaliação aos dois anos do governo da geringonça, começando pelos ministros e terminando em António Costa. A liderança do PSD e a polémica do Infarmed também estão em foco.

 

2       ANOS DE GOVERNO

PUB

 

  1. Evocação de dois anosEsta evocação de dois anos de governo acontece no pior momento da vida do Governo e, sobretudo, num período de uma grande contradição:
  • Por um lado, o Governo está em alta nas sondagens e tem a economia em alta;
  • Por outro lado, politicamente está a viver um tempo como nunca viveu: à deriva, fragilizado, descoordenado, parecendo um governo esgotado e de mera gestão.

 

PUB

  1. Cerimónia de Evocação de 2 Anos: foi um acto de propaganda. Atá aí tudo normal. Os governos costumam fazê-lo. Acho é que representa um acto de propaganda sem qualquer eficácia:

a)      Primeiro: as perguntas são demasiado genéricas para suscitarem emoção. Se fossem especialistas a perguntar, outro galo cantaria!

b)      Segundo: é tudo muito longo, o que torna a cerimónia uma maçada.

PUB

c)      Terceiro: soa a publicidade. E o que soa a publicidade não é eficaz em política.

 

  1. O Governo – em dificuldades – pensa que o seu problema é de comunicação. Logo, que se resolve comunicando mais e melhor. Engana-se. O seu problema é político. Só se resolve com política. Com coordenação política, com iniciativa política, com decisão política. E isso é que falta.

PUB

 

AVALIAÇÃO DO GOVERNO

 

PUB

 Os Melhores Ministros

  • Mário Centeno – Apesar da ajuda da economia europeia, tem inequívocos resultados a apresentar.
  • Santos Silva – O pensamento político mais sólido do Governo.
  • Vieira da Silva – Um peso pesado que é referência de solidez e dredibilidade.
  • Maria Manuel Leitão Marques – Uma Ministra discreta mas eficiente.
  • Matos Fernandes – Uma boa surpresa. Politicamente inteligente e reformador.
  • Adalberto Campos Fernandes – Concilia conhecimento técnico com visão política. Apesar da precipitação do Infarmed.
  • Pedro Marques – Outro Ministro que surpreendeu pelo pragmatismo e pela eficácia.

 

PUB

Ministros que Satisfazem

  • Francisca van Dunen – Uma Ministra competente mas aquém das expectativas na acção e nos resultados.
  • Capoulas Santos – Se a reforma florestal resultar, passará a ser um dos bons ministros. Para já é só papel.
  • Ana Paula Vitorino – Uma boa técnica que tarda em assumir uma acção marcante.
  • Manuel Heitor – Outro Ministro competente mas demasiado discreto.
  • Caldeira Cabral – É excelente pessoa e a economia tem resultados. Mas precisava-se de mais dinâmica e peso político.
  • Eduardo Cabrita – Como Ministro Adjunto foi demasiado apagado. Como MAI pode vir a ser um óptimo Ministro.
  • Azeredo Lopes – Nesta qualificação é manifestamente o Ministro que mais está na corda bamba. Não é o responsável por Tancos mas o fantasma de Tancos não o larga.

 

PUB

Ministros que Não Satisfazem

  • Castro Mendes – Tem sido um Ministro relativamente irrelevante.
  • Tiago Brandão Rodrigues – Um erro de casting. No Ministério ou manda Mário Nogueira ou manda a Secretária de Estado Alexandra Leitão.

 

PUB

Mais Que Ministro

  • Pedro Nuno SantosUm Secretário de Estado que já devia ser Ministro. É, na prática, o Ministro dos Assuntos Parlamentares e o principal responsável pelo bom funcionamento da geringonça. O único Secretário de Estado que se destaca e um Secretário de Estado que tem influência que a maioria parte dos Ministros.

 

PUB

O Líder

  • António Costa

– Num Governo que é o mais unipessoal de todos os que tivemos até hoje, o PM é o abono de família do Governo. Se o PM age bem, o Governo funciona bem. se o PM age mal, o Governo funciona mal.

PUB

– Na acção do PM, há nestes 2 anos duas fases: o antes de Pedrógão e o depois de Pedrógão. Antes, sempre em alta; depois, com altos e baixos. Ultimamente com demasiadas fragilidades.

Mas está a fazer história. Na estabilidade política e no crescimento económico. E se chegar ao fim da legislatura é o candidato mais sério a ganhar as eleições de 2019.

 

PUB

AVALIAÇÃO DO GOVERNO

 

Pontos Positivos

PUB

  • Estabilidade política e paz social – Uma mais-valia.
  • Reforço do sistema financeiro – Uma acção certeira.
  • Crescimento económico – Um marco importante, apesar da ajuda europeia.
  • Saída da lista negra dos défices excessivos – Um momento histórico.
  • Devolução de rendimentos – Uma medida justa, apesar do calendário arriscado.

 

Pontos Negativos

PUB

  • Ausência de medidas de fundo – É um governo sem instinto reformador.
  • Falta visão de futuro – É chapa ganha, chapa gasta.
  • Fraca redução do défice e da dívida – É a maior oportunidade desperdiçada.
  • O drama dos incêndios – Símbolo de irresponsabilidade.
  • O puxão de orelhas de Marcelo – O pior momento na vida do Governo.

 

Em conclusão:

PUB

  • Um Governo que, na estabilidade e na economia, suplantou as expectativas; na visão política, desilude – não reforma nem prepara o futuro; e, nas causas, começa a dar a sensação de que está esgotado.

 

DESAFIOS DE ANTÓNIO COSTA

PUB

 

  1. Primeiro desafio: levar a legislatura até ao fim.
  • Se levar o mandato até ao fim, será sempre um vencedor. Fará história e apresentar-se-á como garante da estabilidade.
  • Se não chegar ao fim, terá sempre de lidar com o efeito derrota. Significa que a geringonça falhou e ele foi o seu ideólogo.

 

PUB

  1. Segundo desafio: ter a economia em alta e o desemprego em baixa, de forma sustentável.
  • Conseguir este objectivo pode ser duplamente importante: em termos nacionais, porque esta será a legislatura com o maior crescimento do século; depois, porque em termos eleitorais as pessoas votam sobretudo com a carteira e com o dinheiro que têm no bolso.

 

  1. Terceiro desafio: saber lidar com os seus parceiros e com os seus adversários.
  • Relação com parceiros: a geringonça, tal como a conhecemos, acabou. O PS estará cada vez mais sozinho e cada vez menos acompanhado. PCP e BE serão cada vez mais oposição e menos solidários com o Governo. Tudo isto vai criar problemas ao PS. Gerir esta nova etapa sem impasses é o grande desafio de Costa.
  • Relação com adversários: o PSD vai ter um novo líder. E o PM vai querer dialogar com ele. Se conseguir, isso será uma grande vitória para o PM. Apresentar-se-á ao eleitorado com um trunfo imbatível – o líder que consegue dialogar com todos, à esquerda e à direita.

PUB

 

  1. Último desafio: obter uma maioria absoluta.
  • Este é o desafio mais desejado, mais difícil de alcançar e o que vai ter, desde já, consequências nefastas para o país.
  • É que o Governo vai entrar desde já em modo de campanha eleitoral. Eu receio que vamos ter 2 anos (2018 e 2019) de campanha eleitoral permanente. A campanha começou hoje.
  • Um desastre para o país – É que em modo de campanha eleitoral tomam-se medidas que não se devem tomar e não se tomam aquelas que se devem tomar.
  • Conclusão: corre o risco de nem governar nem vir a ter a maioria absoluta.

 

PUB

A LIDERANÇA DO PSD

 

  1. Primeiro apontamento: esta é uma campanha que não entusiasma ninguém. Primeiro, porque é uma campanha demasiado virada para dentro; depois, porque é uma campanha excessivamente burocrática. Falta política. Faltam temas políticos e debate político mobilizador.

PUB

 

  1. Segundo apontamento: há uma falha de ambos os candidatos. É na política. Um e outro estão a fugir ao confronto com António Costa. Um e outro estão a fugir a apresentar as suas diferenças políticas em relação ao PS e ao Governo. Um e outro estão a fugir a explicar a sua estratégia política, programática e eleitoral. E isto é uma falha enorme:
  • O líder do PSD é candidato a PM, logo, deve falar para o país.

 

PUB

  1. Terceiro apontamento: apesar de continuar a ser uma disputa muito equilibrada, pressentem-se duas tendênciasPedro Santana Lopes parece ter uma ligeira vantagem no aparelho partidário; Rui Rio, ao contrário, parece levar algum avanço no chamado voto livre dos militantes.

 

  1. Último apontamento: debates entre os candidatos. Estamos a mês e meio da eleição e não há nenhum debate marcado. Isto não é compreensível. No início, Santana Lopes exagerou ao sugerir a ideia de 20 debates. Agora Rui Rio exagera ao não dar abertura para um ou dois debates. Nunca se verificou uma eleição interna sem, pelo menos, um debate público.

PUB

 

A POLÉMICA DO INFARMED

 

PUB

  1. Sou um grande defensor da descentralização e da desconcentração dos serviços. E já disse mesmo que o Estado se devia obrigar a, quando cria um novo serviço, instalá-lo obrigatoriamente fora de Lisboa.

 

  1. Posto isto, acho esta decisão um completo disparate.

PUB

a)      Primeiro, porque isto não é um plano estruturado de descentralização. Nem sequer um prémio de consolação para o Norte. Isto é uma medida pontual e desgarrada destinada apenas a evitar que se discutisse a derrota que Portugal teve em Bruxelas com a Agência do Medicamento. Isto é politiquice barata.

b)      Segundo, porque esta é uma decisão tomada em cima do joelho. A prova é que o Governo decidiu e só agora é que vai estudar. Tudo ao contrário do que deve ser. Normalmente estuda-se primeiro e decide-se a seguir. Parece uma brincadeira de crianças.

c)      Terceiro, porque esta é uma transferência de fachada. Para o Norte vai a sede, a placa e a Direcção do Infarmed. Em Lisboa fica tudo o resto. Conclusão: há um desmembramento do Infarmed que só é prejudicial. E o Porto, na prática, não ganha nada. Só me surpreende que o Porto ainda agradeça esta fantochada.

PUB

d)      Quarto: decidir sem ouvir ninguém, designadamente os trabalhadores, é de muito mau gosto. Ainda por cima, vindo de um Governo de esquerda. Não é que os trabalhadores devem ser o único ou principal critério de decisão. Mas num serviço altamente sofisticado como o Infarmed, isto pode ser um convite à perda de trabalhadores altamente qualificados ou à sua desestabilização, o que é péssimo para o interesse público.

 

  1. Mas este caso tem ainda uma leitura política.
  • Desde 15 de Outubro (dia da última tragédia dos incêndios), todas as semanas temos um caso a "manchar" a imagem do Governo.
  • Foi o desastre dos incêndios; foi a remodelação em circuito fechado; foi o caso da legionella; foi o episódio do Panteão; foi a questão dos professores; é agora o Infarmed. E o mais que virá a seguir.
  • O governo está meio à deriva e o PM a perder o pé.

PUB

 

 

Pub
Pub
Pub