José Esteves 14 de Outubro de 2025 às 22:30

Menos auditório, mais aeroporto

Os formatos de ensino são estratégia. “Falar durante horas” não é pedagogia — é fadiga. O que interessa é envolver, desafiar e medir o impacto. Online de qualidade e hibridez bem desenhada democratizam o acesso e trazem perfis que nunca escolheriam um modelo 100% presencial. E não, o “tudo presencial” não vai voltar — este país existe, chama-se nostalgia.

Começou um novo ano letivo e, na Porto Business School, temos excelentes notícias: acabámos de entrar no ranking do Financial Times (FT) dos melhores programas de Executive MBA do mundo. Este resultado junta-se ao nosso Global Online MBA, que pôs, pela primeira vez, uma escola de negócios portuguesa no top 10 mundial do ranking FT para MBA online.

A Porto Business School reforça assim a sua posição como referência global em educação executiva, reconhecida pela sua inovação pedagógica, pela integração da inteligência artificial nos programas e pelo compromisso com a sustentabilidade e o impacto social positivo.

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Neste início do ano académico 2025/2026, atingimos também um recorde de alunos nas pós-graduações e nos MBA. Nos programas MBA, crescemos mais de 20% e reunimos mais de 35 nacionalidades — tanto em sala como no Zoom. No MBA Online, o crescimento foi de cerca de 40%.

Nada disto aconteceu por acaso. Foram dois anos de redesenho, aposta firme na internacionalização e trabalho consistente de marca. Mais do que números, este resultado prova que Portugal pode, de facto, jogar na primeira liga. Porque internacionalizar não é uma nota de rodapé. É o centro da estratégia. O país pode continuar a exportar talento ou pode tornar-se um destino onde o mundo quer estudar e trabalhar. Para isso, as universidades têm de sair à rua, erguer a cabeça e jogar fora: mostrar marca, construir prestígio, estar onde o mercado está. Menos auditório, mais aeroporto.

O estudante internacional não compra só um plano de estudos. Compra marca, reputação, rede, experiência. Quer ver a escola nos palcos certos, a falar com as pessoas certas, a abrir as portas certas. Aqui tropeçamos: pouca presença consistente em feiras e conferências, pouco recrutamento direto nos mercados-alvo, narrativas de valor que cabem num folheto… e ficam na gaveta. As “business schools” perceberam cedo que são “brand travels”: a marca viaja quando nós viajamos com ela — e regressamos com candidatos, não apenas com fotografias.

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O primeiro passo é simples de dizer e difícil de executar: estar lá fora. Calendário anual de eventos globais. Equipas de admissões em cidades-chave. “Roadshows” com alumni. “Open classes” em universidades parceiras. Ligações a “career services” e hubs tecnológicos. Onde há talento, tem de haver Portugal — com mensagem clara, identidade forte e metas por mercado. Depois, seguir o fio. Responder rápido. Acompanhar o candidato. Tirar atrito do processo. Se a resposta demorar mais do que um voo Lisboa–São Paulo, já perdemos metade do interesse.

Vem depois a prova social. Rankings. Casos de sucesso. Empregadores que recrutam. Projetos com empresas internacionais. O currículo conta — mas conta mais como o ativamos. Programas vivos, atualizados, com desafios reais e ligações ao território (energia, mar, turismo, saúde, indústria), combinados com “briefs” globais e “living labs”. O mundo valoriza o universal e distingue o que tem raiz. Portugal tem raiz; falta amplificar.

Os formatos de ensino são estratégia. “Falar durante horas” não é pedagogia — é fadiga. O que interessa é envolver, desafiar e medir o impacto. Online de qualidade e hibridez bem desenhada democratizam o acesso e trazem perfis que nunca escolheriam um modelo 100% presencial. E não, o “tudo presencial” não vai voltar — este país existe, chama-se nostalgia. O que importa é a experiência: interação verdadeira, avaliação exigente, serviço de nível internacional. Quando isto acontece, a nacionalidade deixa de ser barreira e a marca cresce para lá das fronteiras. 

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Internacionalizar é também construir ecossistema. Parcerias com empresas globais e tecnológicas para projetos e certificações reconhecidas. Graus conjuntos com escolas de referência. Redes de alumni que funcionam como embaixadores. Presença em “think tanks” e media internacionais. Reputação é hábito com provas.

Agora, o capítulo menos romântico. Burocracia: vistos que tardam, exigências que mudam, serviços que não se falam. Há processos que só precisam de um carimbo — é sempre o do gabinete que fecha à hora de almoço. Um canal expresso para estudantes e investigadores faria milagres terrenamente possíveis. Empregabilidade em inglês: faltam estágios e funções “entry level” que acolham talento internacional; em muitas empresas, o português ainda é muralha. A língua é património, não tem de ser “firewall”. Habitação estudantil: escassa e cara; nem tudo pode ser “vista de mar”. Resolver estas três frentes é, também, estratégia de marca-país.

Há hábitos a afinar. O culto do estatuto que atrasa decisões. Reuniões onde se discute tudo e decide pouco. Egos XXL que ocupam três cadeiras e meia. Marcas fortes precisam de decisões rápidas e consistentes. Menos solenidade, mais execução.

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A governação e o financiamento têm de alinhar com a ambição. Autonomia para inovar em formatos. Incentivos à captação internacional. Apoio à digitalização pedagógica. Métricas que valorizem impacto internacional: não só publicações, mas reputação, empregabilidade, investimento atraído. Isto não é apenas educação; é desenvolvimento económico. Dito de outra forma: cada bom aluno internacional é um pequeno plano de exportação.

Portugal tem trunfos: segurança, qualidade de vida, fuso horário amigo, custos competitivos, ecossistema empresarial em crescimento. Falta transformar trunfos em plano: mercados-alvo definidos, presença anual garantida, mensagens consistentes, metas públicas e “follow-up” profissional. Marca é repetição, coerência e serviço — com um sorriso e menos papelada.

O caso recente da Porto Business School mostra que é possível. Quando a marca aparece, entrega e reaparece, o país ganha. O resto é hábito, método e rigor. Se é para jogar fora, que seja já. Provámos que a pista existe e que o avião descola. Falta voar mais alto e mais longe, de forma regular. Bilhete emitido, porta de embarque à vista.

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