Desenvolvimento: uma questão de liderança
No fim do primeiro semestre, o Banco de Portugal (BdP) atualizou as suas previsões para a economia portuguesa. De acordo com o BdP, a estimativa é que Portugal cresça 1,6% neste ano, (abaixo dos 2,3% previstos em março) e 2,2% em 2026. Temos, claramente, um problema de desenvolvimento. Como tal e num contexto global volátil, complexo e, genericamente, não favorável, cabe refletir sobre quais podem ser os caminhos, as diferentes alternativas que, conjugando recursos e vontades, possam levar ao desenvolvimento e, consequente, ao crescimento, do país.
Na realidade, não se trata de um problema novo. No último século, foram raros e curtos os períodos em que a economia portuguesa se apresentou com um comportamento sustentadamente favorável. Mas é, simultaneamente, um desafio novo, porque os tempos são novos, os matizes que se apresentam são diferentes e, sobretudo, por uma questão de visão face a um futuro marcadamente disruptivo. Como sempre, qualquer alternativa deverá passar pela definição de uma Estratégia.
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Por onde começar? Desde logo é incontornável a consideração da geopolítica. Refiro-me a elementos como os cenários de guerra, a nova demografia e a débil identidade da Europa, os novos centros de poder político, financeiro e económico, mas também a fenómenos à escala global como a globalização que ultrapassa fronteiras e gera concorrência à escala mundial, e a conectividade de pessoas e empresas que estabelece um espaço único de convivência ao nível planetário. Todos estes fenómenos são impulsionadores da mudança e, como tal, geradores de fortes custos de ajustamento, mas também de inúmeras oportunidades.
Igualmente importante é entender a articulação entre economia e sociedade, ou seja, compreender a sua relação recíproca. A polarização da sociedade, as desigualdades e as novas fragilidades sociais confrontam-nos diariamente com a questão de que sociedade estamos a criar e levam-nos à reflexão sobre, até que ponto, a economia está, verdadeiramente, ao serviço das pessoas e do bem comum. É fácil responder que ambicionamos uma sociedade inclusiva, justa e humana. Mas, sentimos a responsabilidade de fazer com que assim seja? Vivemos e trabalhamos em coerência com este compromisso pessoal?
E como concretizá-lo? Em primeiro lugar, é fundamental criar agilidade organizacional, seja na administração pública, seja nas empresas e instituições em geral. Simplificar processos, redesenhar equipas e serviços, derrubar barreiras culturais, potenciar o desenvolvimento dos colaboradores, criar ambientes otimistas e humanos são exemplos de medidas que contribuirão decididamente para o aumento da competitividade de qualquer organização.
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Também o investimento na inovação e a adoção generalizada da inteligência artificial acompanhada da qualificação dos colaboradores e captação de talento com competências diferenciadoras pode gerar um efeito multiplicador na criatividade e na adaptabilidade a novos contextos de mercado, nos resultados das empresas e na satisfação e na fidelização das suas pessoas.
Por último, há que fazer tudo isto acontecer, com tudo o que exige de lucidez, convicção e sentido da responsabilidade. Há que liderar os acontecimentos com uma visão grande dos desafios e não como mero exercício de ambição pessoal ou empresarial. Este atuar genuinamente generoso e intenso é a expressão de uma atitude perante a vida e, consequentemente, perante os problemas, própria dos verdadeiros líderes. Mas a atitude não é suficiente, qualquer líder necessita de saber interpretar os sinais do mundo, navegar na complexidade e na incerteza, posicionar o negócio, definir estratégias de atuação e unir as pessoas. Por isso, é hoje determinante a formação continuada, a preparação de líderes de forma integral.
Estamos perante um momento civilizacional de mudança e a nossa resposta não pode ser a de meros espectadores ante as mudanças que vemos acontecer. Mais do que ver, há que fazer. E fazer não apenas mais, mas sobretudo melhor. Não apenas o melhor para respondermos às exigências do futuro, mas sobretudo o melhor para o futuro que os nossos filhos e netos viverão.
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Este é o tempo de construir este legado, nas empresas e na sociedade. Temos recursos e muito boas vontades e a conjugação entre ambos é uma poderosa força motriz. Vamos lá!
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