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Maria de Fátima Carioca - AESE
10:15

A coragem de uma esperança ativa

O Natal irrompe nos últimos dias do ano como um sinal silencioso de que o transcendente habita o quotidiano e de que a esperança mais do que um conceito é uma presença.

Natal. Transcorridos mais de dois milénios desde o nascimento de Jesus, após tantos Natais já comemorados, que significado tem ainda para as nossas vidas? Revivemos uma riqueza de tradições nascidas nos mais diversos contextos, ligadas a histórias, gerações, sensibilidades diferentes. Cada uma delas, à sua maneira, convida-nos a revisitar o mais íntimo de nós mesmos e a deixarmo-nos transformar. Impulsiona-nos a um caminho que nos leva à própria alma: um lugar onde o coração se expressa, onde tocamos o transcendente e respiramos a nossa humanidade. Neste regresso anual ao mistério do Natal, aprendemos que nenhum tempo, também o nosso, se faz verdadeiramente novo sem uma luz que o ilumina e o aquece, que lhe dê sentido e o renove. Arriscar-se a percorrer este caminho é um bom exercício que recomendo fazer nesta quadra natalícia.

Este tempo de Natal marca também o fim de mais um ano civil e, por isso, é também propício a pormos em perspetiva o ano que, em breve, se iniciará. Assim, olhar 2026 é o exercício que agora vos proponho.

Ao observar os desenvolvimentos mais recentes na economia global e no mundo em geral, começam a tornar-se visíveis alguns movimentos estruturais ao nível global que, embora ainda em evolução, merecem particular atenção e exigem clara orientação. Destaco três.

1. Um enquadramento internacional em transição, com maior pluralidade de atores

A arquitetura económica internacional vive hoje um processo de reequilíbrio. Os Estados Unidos, que durante décadas assumiram um papel fortemente estabilizador nas regras e instituições globais, têm vindo a adotar uma postura mais seletiva na forma como exercem essa influência. Este reposicionamento, associado ao crescimento de outras potências económicas, resulta num contexto internacional mais plural, onde as dinâmicas de cooperação e competição coexistem com maior intensidade.

Para a atividade económica, isto traduz-se num ambiente mais complexo e menos linear, exigindo maior capacidade de adaptação, diversificação geográfica e leitura fina dos diferentes centros de interesse.

2. A Inteligência Artificial como força transformadora com impactos económicos e sociais transversais

A Inteligência Artificial está a afirmar-se como um dos motores centrais de transformação económica. Para além do entusiasmo tecnológico, a IA tem impulsionado o investimento, novos modelos de negócio e expectativas renovadas de produtividade, em particular, nas economias avançadas. Mas trata-se de uma inovação que evolui a um ritmo frenético, claramente superior à capacidade de enquadramento regulatório e institucional. Os seus efeitos são, por isso, ambivalentes: abre oportunidades significativas, mas também pode gerar pressões sobre mercados de trabalho, competitividade e assimetrias tecnológicas entre países. 

Estamos perante uma força estruturante, que exigirá reflexão estratégica e responsabilidade na sua integração económica e social.

3. A crescente pressão sobre as contas públicas e os sistemas sociais

Uma terceira tendência prende-se com a sustentabilidade dos sistemas sociais. Muitos países enfrentam défices persistentes e níveis elevados de dívida, num momento em que as exigências sociais, tecnológicas e geopolíticas também se intensificam. Por seu turno, a maioria dos sistemas sociais com que contamos atualmente estão sob grande pressão e são motivo de preocupação a médio prazo, quando combinamos as previsões demográficas com o desempenho das contas públicas. 

É um alerta de que a estabilidade económica global é profundamente interdependente e de que é fundamental um diálogo abrangente sobre medidas solidárias que sejam politicamente viáveis e socialmente adequadas.

Estas são, essencialmente, três linhas de força que ajudam a interpretar o contexto em que empresas, governos e instituições operam. Representam desafios que quotidianamente enfrentam e que devem gerar escolhas responsáveis, sustentáveis, inclusivas, justas. E o Natal, tempo de simplicidade e profundidade, é um bom tempo para considerar as escolhas que fazemos, os valores que nos alicerçam e recriar a esperança.

Não é por acaso que todos os anos terminam e começam em torno deste acontecimento que atravessa os séculos e nos devolve ao essencial. O Natal irrompe nos últimos dias do ano como um sinal silencioso de que o transcendente habita o quotidiano e de que a esperança mais do que um conceito é uma presença. Uma esperança que não é uma espera, não é passiva, mas uma esperança que é dinâmica e participativa. É correr riscos, abandonar a segurança e enfrentar o desconhecido a partir da fragilidade humana. É procurar novas soluções com inteligência e coração. É arregaçar as mangas e colaborar. É tornar o futuro mais nosso e sorrir porque gostamos do que estamos, em conjunto, a construir! 

Que este seja um bom Natal!

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