Estarão os pais a prejudicar a saúde dos filhos?
Entrou recentemente em vigor a nova legislação do tabaco. Visa a protecção dos cidadãos da exposição involuntária ao fumo do tabaco, medidas de redução da procura e cessação do consumo. Colocam-se diversas questões: Terá a nova legislação um impacto na saúde das crianças? Será possível que a proibição de fumar no local de trabalho aumente o consumo de tabaco em casa?
Entrou recentemente em vigor a nova legislação do tabaco. Visa a protecção dos cidadãos da exposição involuntária ao fumo do tabaco, medidas de redução da procura e cessação do consumo. Colocam-se diversas questões: Terá a nova legislação um impacto na saúde das crianças? Será possível que a proibição de fumar no local de trabalho aumente o consumo de tabaco em casa?
Se a nova legislação, que proíbe o fumo no local de trabalho, levar a um aumento do consumo de tabaco em casa e, se o consumo em casa afecta a saúde das crianças, então pode implicar um custo social e económico que não foi antecipado. No entanto, o efeito da legislação poderá ser que se deixe de fumar, caso em que haveria efeitos positivos. Não é claro que seja o efeito negativo que prevalece.
A relação entre o estilo de vida das famílias e a saúde das crianças é um assunto económico importante que começa a produzir abrangente literatura empírica. Muitos factores não relacionados com o estatuto socio-económico afectam a saúde. No entanto há pouco acordo em relação aos factores que influenciam esta relação.
Procura-se contribuir para este debate ao desenvolver uma investigação detalhada com base em dados do Inquérito Nacional de Saúde de 2005/2006. A saúde das crianças é economicamente relevante. É sabido que a saúde infantil é extremamente importante para a saúde futura de um país, já que os primeiros anos são a base da saúde na vida adulta: uma população saudável aumenta a produtividade, sobretudo em sociedades que pretendem apostar no conhecimento e na inovação como força motriz das suas economias.
Foi aplicado um modelo que relaciona a saúde das crianças com o estilo de vida dos pais, para avaliar esta potencial relação. Os principais comportamentos tidos em conta foram comportamentos alimentares, consumo de tabaco e de álcool. Também os níveis de educação e de rendimento familiar foram equacionados.
A análise é importante para perceber se uma alteração nos comportamentos dos pais implica uma melhoria na saúde das crianças, com reflexos na utilização dos cuidados de saúde, e a prazo na capacidade inovadora e económica da sociedade.
A verdade é que as acções do agregado familiar funcionam como "choques" na saúde dos mais novos. Proteger as crianças dos comportamentos da família, nomeadamente no que concerne à nutrição, álcool e tabaco, poder-se-á considerar uma política importante, ainda que difícil de implementar.
A evidência não permite afirmar que exista uma clara relação causal entre o comportamento tabagista dos adultos das famílias e a saúde das crianças. Tal sugere que os eventuais efeitos perversos da nova legislação antitabágica, como o aumento de consumo doméstico, serão de reduzida importância.
Os resultados encontrados são que não há evidência estatística nem económica que o consumo de álcool, por parte dos pais, tenha um impacto significativo na saúde das crianças.
Também em relação aos hábitos alimentares dos pais não foi encontrada evidência que suporte uma relação entre a sua nutrição e a saúde dos mais novos. O nível de educação do agregado familiar é, este sim, determinante para uma melhor saúde infantil. Pais mais instruídos sabem como proporcionar melhores cuidados médicos.
A agregados familiares com maior rendimento está associado um maior nível de saúde infantil. Isto pode dever-se a pais mais abastados poderem providenciar um melhor acesso a cuidados médicos, assim como afectar mais recursos para melhor alimentação e um ambiente doméstico mais seguro.
Em suma, se os comportamentos tabágicos e de consumo de álcool não são fundamentais para a saúde infantil, o que o é?
O rendimento familiar é determinante, mas obviamente difícil de alterar num curto espaço de tempo. Já o nível de educação familiar sugere que a chave para uma melhor saúde infantil passa por fornecer informação aos pais. Ou seja, mais do que legislação restritiva dos comportamentos dos pais, releva dar-lhes informação apropriada - informação essa que os pais de maiores recursos e educação possuem à partida - entenda-se: informar parece ser economicamente mais relevante do que proibir ou controlar.
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