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Fernando Braga de Matos
01 de Abril de 2011 às 11:41

Sporting, PS, eleições e bloqueios

(Onde o autor entende que nas eleições do Sporting e seu rescaldo podemos avaliar alguma das insuficiências dos portugueses em conviverem com os adversários, mas também as dificuldades de largarem objectivamente os pesados lastros do falhanço. E, no mesmo fim-de-semana, parte rumo ao PS socrático, este sempre no mundo da fábula, beligerância e crispação, exactamente aquilo que o País dispensa.)

Pela parte que me toca, enquanto se não trata de coisas sérias, sou um militante do grande partido da galhofa, pois a vida é curta e levar a sério o que não é transcendente só conduz a problemas de fígado a longo prazo, insónias a curto prazo, e incapacidade de resolver as coisas sempre. Não se percebe como há quem julgue que os outros que tomam posições adversas e insistem em perseverar no que achamos errado são necessariamente ou provavelmente gente de mau porte, proprietários de prostíbulos ou passadores de moeda falsa. Talvez, ao fim e ao cabo, sejam apenas gente vulgar como nós próprios, litigando para ganhar e avançar, com lisura e bons princípios, não querendo outra coisa senão o bem geral, e ganhar apenas porque pretendem fazer melhor, para isso arrecadando os outros nessa convicção. Claro que há o núcleo da má-fé e do poder corrupto, os defensores dos interesses instalados, os que litigam para si e não para todos, os Tony Sopranos desta vida - e com esses só há uma maneira de estar: irredutivelmente contra, porque são parte dos problemas, e não das soluções, e até ofendem a comunidade.

O Sporting Clube de Portugal está pelas ruas da amargura, como o país de que faz parte, mas nenhum dos que apareceram como candidatos à presidência é gente a quem se possa assacar culpas directas nos desaires, concordando todos que deve ser feita uma limpeza naquilo que falhou porque é idiota perseverar em métodos perdedores. Infelizmente, os sportinguistas de base de Bruno Carvalho, em assuada, comportaram-se tão bem ou tão mal como os cafres do Benfica ou do Porto noutras situações, gente que não vê para além dos antolhos dos seus instintos e nem sabe ao certo quais são em concreto os problemas, mas apenas difusamente os inimigos.

Mas o Sporting não está como Portugal. Algo está errado, sabem eles, porque os resultados o comprovam e para o País a afirmação é a mesma. Porém, no clube de Alvalade sabe-se que se devem mudar os métodos e as pessoas e até houve uma voluntária devolução da direcção por incumprimento de objectivos. Isso nem é transcendente, passa-se com qualquer organização funcional. Até um grupo anarquista quereria um câmbio se visse que, apesar da sua actividade, as coisas estavam a seguir lindamente: iriam precisar doutro Buiça e melhores tácticas disruptivas, seguramente, e os militantes saberiam disso. Em Portugal, especificamente neste PS, nada se passa assim: os resultados da governação são objectivamente desastrosos e a liderança constitui, ela própria, uma razão suplementar de atrito e aversão à mudança no País, no seu apego ao poder e na incapacidade para o compromisso. Mas, na grande missa dos crentes que foi este congresso PS, o maioral ganhou com uns chavescos 93%, embora abaixo dos habituais do Querido Líder. A coisa foi uma feérie, só faltou, no grande êxtase e aclamação, o salto "moche" para a plateia, depois dos impropérios contra o Moriarty do PSD, o grande vilão. Por ali vai mesmo "Fuererprinzip" ou um gonçalvista "quem não está connosco está 'contranosco'". Não houve total unanimidade, mas dá para evocar aquela grande regra dos mercados, "quando todos pensam da mesma maneira, ninguém está realmente a pensar". Aquele quase unanimismo, em ambiente nacional de caos e desaire, lembra o concerto dos espectros na estória sul americana de realismo fantástico ou os soldados de terracota do imperador chinês: são pensantes mortos e não sabem disso. Ou será que já só existem e se perpetuam por razão do poder em si próprio e sua manutenção? Nem a moção de António Brotas deu para aliviar a ideia de clausura mental, visto até a desbloqueante maneira de facilitar a separação dos cargos de secretário-geral e primeiro-ministro acabou recusada.

Sabe-se que no PS há murmúrios discordantes e aqui e acolá alguma voz a clamar no deserto, mas isso não é suficiente para os grandes acordos de que o País necessita.

Advogado, autor de "Ganhar em Bolsa" (ed. D. Quixote), "Bolsa para Iniciados" e "Crónicas Politicamente Incorrectas" (ed. Presença). fbmatos1943@gmail.com

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