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Manuel Esteves - Editor Executivo mesteves@negocios.pt
26 de Abril de 2012 às 23:30

Trabalhar ou colaborar, eis a questão

Na sanha de pôr as pessoas a trabalhar mais em Portugal, confundindo mais trabalho com melhor trabalho, o Governo propôs acabar com quatro feriados, dois dos quais laicos, particularmente relevantes: sem o 1.º de Dezembro, Portugal não seria independente. Sem o 5 de Outubro, não seria uma república.

Na sanha de pôr as pessoas a trabalhar mais em Portugal, confundindo mais trabalho com melhor trabalho, o Governo propôs acabar com quatro feriados, dois dos quais laicos, particularmente relevantes: sem o 1.º de Dezembro, Portugal não seria independente. Sem o 5 de Outubro, não seria uma república.

Enquanto se discutia que feriados se deveriam eliminar não faltaram vozes a defender o fim do 25 de Abril e do 1.º de Maio. Sem o primeiro Portugal não seria uma democracia. E sem o segundo?

O 1.º de Maio é uma data simbólica que homenageia os trabalhadores de todo o mundo e as lutas que travaram ao longo do tempo para melhorar as condições da sua actividade. Foi esse processo que permitiu que as sociedades ocidentais atingissem um nível de desenvolvimento e bem-estar impensável há 100 anos. Por esse motivo, este feriado é comemorado em quase todos os países democráticos do mundo. É algo que deveria constituir motivo de contentamento para todos e, por maioria de razão, ser comemorado pela nação.

Ainda assim, há quem entenda que a melhor forma de assinalar o dia do trabalhador é trabalhando.

Mas não é só o dia do trabalhador que incomoda alguns espíritos. É a própria palavra trabalhador. É isso que explica a moda iniciada há alguns anos de tratar os trabalhadores como colaboradores. Por este caminho, ainda alguém há-de propor que o 1.º de Maio passe a ser o dia do colaborador.

Trocam-se os termos como se fossem sinónimos. Mas não são. E todos sabemos que não são. O colaborador colabora hoje, mas já não colabora amanhã. Colabora, portanto não se queixa, nem refila e desempenha a sua actividade de forma passiva. E nunca veste a camisola porque esta não lhe é dada.

Todos nós, quando nos levantamos da cama, de segunda a sexta, não o fazemos para ir colaborar. Não chegamos ao fim do dia cansados por termos estado a colaborar. Não é a nossa colaboração que enche de orgulho – ou de frustração. Grande parte do que somos, fazemos e representamos está no nosso trabalho. Por isso, somos trabalhadores.

No fundo, é isso que se celebra no 1.º de Maio. E para que possa ser festejado é feriado. Um feriado que homenageia o trabalho no seu sentido mais nobre, o trabalho que não é apenas fonte de rendimento, mas também de realização e de prazer. E de respeito. A isso chama-se trabalho. Nunca colaboração.

Editor de Economia

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