Colocar um ponto final no impasse climático da Europa
Os desafios apresentados pelas alterações climáticas são verdadeiros. E é impossível ignorar as consequências da inacção. Ao mesmo tempo, há uma crescente procura por energia e uma necessidade desesperada de uma saída a longo prazo da actual crise económica. Não há uma solução nem única nem fácil que responda a estes dois imperativos. Dominar o aquecimento global enquanto se assegura o crescimento económico vai exigir um conjunto equilibrado de soluções, incluindo energia renovável e crescente eficiência energética. Nestas soluções, é essencial a captura e o armazenamento de carbono.
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Esta tecnologia conhecida como CCS, na sigla original, captura dióxido de carbono na fonte da sua emissão, faz compressão sobre o próprio, e armazena-o permanentemente no subsolo. Ao fazê-lo, proporciona uma importante ligação entre a economia moderna, que depende fortemente de combustíveis fósseis com forte uso do carbono, e um futuro em que as emissões de CO2 são reduzidas significativamente. Uma técnica que fornece os meios para manter um sector industrial competitivo ao mesmo tempo que combate o aquecimento global.
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Para ser exacto, como em qualquer inovação, há questões sobre a viabilidade da tecnologia. Há quem questione a escala do investimento necessário para instalar e manter os sistemas necessários para capturar e armazenar o CO2. É importante sublinhar, contudo, que estes custos são mínimos quando comparados com os muitos maiores gastos de reduzir as emissões de dióxido de carbono sem as tecnologias CCS. Por exemplo, de acordo com a Agência Internacional de Energia, um atraso de 10 anos na implementação da captura e armazenamento de carbono iria aumentar o custo de descarbonização do sector eléctrico em 750 milhões de euros.
O painel intergovernamental para as alterações climáticas das Nações Unidas tem sido inequívoco na sua insistência de que cortar nas emissões de CO2 e diminuir a dependência de combustíveis fósseis é mais urgente do que nunca: é óbvio que a CCS, a única tecnologia que pode capturar pelo menos 90% das emissões de CO2 dos maiores produtores mundiais, tem de ser parte da solução.
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Os governos e as empresas de fora da Europa já estão a avançar. No Canadá, o primeiro projecto a toda a escala de CCS, Boundary Dam, entrou em operação em Outubro de 2014, provando que a tecnologia é viável e está preparada para ser implementada. Os Emirados Árabes Unidos iniciaram o primeiro projecto de CCS a larga escala nos sectores do ferro e do aço. A China continua a mostrar um grande interesse na tecnologia e está em colaboração com os Estados Unidos para desenvolver as suas capacidades neste campo.
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A Europa não pode ficar para trás. As indústrias de uso intensivo de energia asseguram directamente quatro milhões de postos de trabalho no continente. O investimento em CCS iria ajudar a preservar a base económica europeia ao garantir e criar empregos e proteger indústrias vitais. Iria ajudar a desenhar uma visão da Europa que apoia tanto a sustentabilidade como o crescimento – uma visão que está claramente em linha com as prioridades de criação de emprego, crescimento sustentado e desenvolvimento de uma união energética concorrencial defendidas pelo presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker.
As maiores petrolíferas da Europa e os maiores fornecedores de equipamento estão prontos a investir o que for preciso para diminuir as emissões de CO2. Mas, para que tal seja possível, são necessárias estratégias e políticas realistas.
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A tecnologia de CCS foi reconhecida ao mais alto nível como parte do quadro de clima e energia até 2030 da União Europeia e da estratégia europeia de segurança energética. Mas é tempo de traduzir o reconhecimento em acção concreta. O que, por seu lado, exige incentivos ao investimento, melhores preços no carbono e actualização do sistema de negociação de emissões. Uma solução que altere as regras do jogo pressupõe uma substancial vontade política; é essencial que os líderes europeus mostrem que sabem o que é preciso ser feito.
O crescimento sustentável não precisa de ser um paradoxo. Mas, para alcançá-lo, a Europa precisa de ultrapassar o impasse ideológico que está a paralisar o debate ambiental. Para reconciliar as nossas prioridades ambientais com o crescimento continuado, é preciso agir de forma realista, pragmática e – acima de tudo – imediata.
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Graeme Sweeney, antigo vice-presidente executivo da Royal Dutch Shell, é presidente do conselho de assessores para a European Technology Platform of Zero Emission Fossil Fuels Power Plant, plataforma tecnológica europeia de zero emissões de combustíveis fósseis das unidades industriais energéticas.
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Direitos de Autor: Project Syndicate, 2015.
Tradução: Diogo Cavaleiro
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