A remodelação que é uma tripla
Ao contrário do que sucedeu com João Soares, que se demitiu de ministro da Cultura por causa de umas chapadas metafóricas e inconsequentes que chocaram alguns castos comentadores nacionais, António Costa não vai agora consentir que alguém abandone o Executivo pelo seu próprio pé.
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O primeiro-ministro quer ter o controlo absoluto da situação e isso passa por assegurar que será ele que determina a forma como a remodelação será concretizada. Não a pedido da oposição, ou dos próprios ministros, mas por sua iniciativa, ponderando todos os factores e com o beneplácito do Presidente da República, que começou por ser um potencial obstáculo à geringonça e se transformou num seu providencial aliado.
No fundo, António Costa quer manter a liderança da agenda política e tem consciência de que só conseguirá atingir este objectivo se for ele a determinar a agenda.
É óbvio que Azeredo Lopes e Constança Urbano de Sousa têm os dias contados. São ministros fragilizados e um Governo que se quer forte não pode ter ministros em situação periclitante. Menos óbvio, mas igualmente possível, é que António Costa aproveite a ocasião para fazer um "lifting" mais profundo do Governo, promovendo a saída do ministro da Economia, Manuel Caldeira Cabral, que nunca se conseguiu afirmar, reforçando ainda mais a validade da maldição da Horta Seca – a de que nenhum ministro da Economia independente chega ao fim do seu mandato.
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Ironicamente, esta inevitável remodelação, acaba também por travar os ímpetos de certos sectores do PS, os quais estavam a conviver mal com a notoriedade e a relevância política alcançada pelo ministro das Finanças, Mário Centeno. De repente a actualidade nacional mudou e os conspiradores foram forçados a embainhar as espadas. O incêndio de Pedrógão e o roubo de Tancos fizeram com que os holofotes se desviassem, pelas piores razões, do mediático Mário Centeno para os cinzentos Azeredo Lopes e Constança Urbano de Sousa, que se tornaram protagonistas pelas piores razões.
E António Costa tem experiência política mais do que suficiente para saber que os holofotes só se desviarão de direcção quando os protagonistas o deixarem de o ser. Fatal como o destino que o primeiro-ministro procura controlar.
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