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Paulo Ferreira pferreira@mediafin.pt
24 de Outubro de 2005 às 13:59

Algo está a mudar

Finalmente, a avaliar pelas reacções, quase todos perceberam que temos que mudar de vida, que isso implica sofrimentos para a generalidade da população e que se trata de uma maratona e não de uma corrida de 100 metros. Percebeu-o o Governo, que elaborou o

Perceberam os patrões, que também têm que se mostrar disponíveis para pagar uma parte da factura. Não perceberam, ou não querem perceber, os restantes partidos da oposição, para quem este Orçamento é tão mau como seria o seu contrário. E também se recusam a perceber as corporações que se sentem atingidas com o fim de alguns privilégios.

Se existisse, seria interessante saber o que teria a dizer o Sindicato dos Contribuintes Pagantes. É que este grupo também tem assistido a um ataque aos seus direitos adquiridos: há três anos tinha como garantido que a taxa máxima do IVA era de 17% e agora já está a pagar 21%.

Os protestos são naturais. Estamos habituados a eles. Fazem parte do normal estado das coisas.

Ao que o país não está acostumado é a comportamentos politicamente civilizados como os do PSD, que mostra que o principal partido da oposição também pode e deve pensar primeiro no país e só depois na conquista do poder.

A última vez que os partidos do Bloco Central fizeram uma trégua orçamental foi há nove anos. Governava o PS, sem maioria absoluta no Parlamento, e o PSD, então liderado por Marcelo Rebelo de Sousa, vestiu o fato do sentido de Estado para permitir que o Orçamento decisivo para a entrada do país na moeda única, o de 1997, fosse aprovado sem sobressaltos nem negociatas políticas à margem.

Agora não está em jogo o cumprimento de metas para aderir ao euro, mas o que está em causa para o futuro do país é igualmente decisivo.

É por isso que a reacção dos sociais-democratas é tão valiosa como o próprio orçamento.

Este suporte político dado ao rumo traçado do Governo permite que este aprofunde mudanças, que não tenha receio de meter a mão nos vespeiros que são os interesses corporativos.

É lógico que o PSD encontrou pontos de divergência para poder criticar. Faz parte do jogo. Mas até as críticas dos sociais-democratas vão no mesmo sentido da responsabilidade financeira e evitam o populismo fácil de acenar com os sacrifícios que estão a ser pedidos.

Questiona-se o novo aeroporto da Ota e o TGV e pergunta-se se há vontade de começar a colocar portagens nas SCUT. Isso pode ser positivo, se o Governo for inteligente. Teixeira dos Santos já abriu a porta a algumas portagens em estradas que hoje são gratuitas. Essa é uma boleia política que o Governo não deve, de forma alguma, deixar de aceitar. Basta fazer contas para perceber que o encargo financeiro com as SCUT, que vai chegar a 700 milhões de euros por ano, não é compatível com as dificuldades das contas públicas.

No final da discussão parlamentar, o que menos vai importar é se o PSD vota contra, a favor ou se se abstém. Se o debate seguir este caminho, a pedagogia que daí resulta é muito superior ao simbolismo do voto. É bom para o Governo, para o PSD e para o país, que agradece este súbito e inesperado ataque de bom-senso.

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