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João Cândido da Silva - Director-Adjunto do Jornal de Negócios joaosilva@negocios.pt
22 de Agosto de 2011 às 11:37

O "custo zero" sai muito caro

Se há expressão que deve colocar os contribuintes portugueses de pé atrás é aquela que se resume a duas palavras: "custo zero".

Se há expressão que deve colocar os contribuintes portugueses de pé atrás é aquela que se resume a duas palavras: "custo zero". Este foi o argumento utilizado por responsáveis políticos para concretizarem eventos megalómanos. No fim, as aventuras não só não se pagaram como deixaram custos com muitos zeros e que ainda estão por liquidar.

A extinção da Parque Expo voltou a colocar o tema sobre a mesa. Desde o arranque do projecto sucederam-se as garantias de que toda a empreitada seria auto-financiada. O Estado investia nos equipamentos e na requalificação da zona oriental de Lisboa com meios próprios e através de empréstimos bancários. As receitas geradas pela Expo 98 e o retorno proveniente do imobiliário compensariam os encargos. E as contas oficiais até previam que, no balanço final, o erário público conseguiria beneficiar de resultados positivos. Parecia tudo perfeito e deslumbrante. Como a invenção da roda.

O cenário geral de endividamento e prejuízos apresentado actualmente pelo grupo de empresas da Parque Expo desmente todas as promessas, sustentadas em projecções que utilizaram, como sempre sucede, os pressupostos mais convenientes para a propaganda fazer passar a sua mensagem ilusória. A Expo 98 fechou as portas a perder dinheiro mas o monstro continuou a crescer e, 13 anos depois, ainda se mantém de goelas bem abertas para deglutir a sua parte no banquete do Orçamento.

Uma estrutura como a gare do Oriente é um caso típico de situações apelidadas, com justiça, como sorvedouros de dinheiro. E o Pavilhão de Portugal apodrece à espera de quem pague o valor por que está registado na contabilidade e ainda se chegue à frente com os meios necessários para recuperar o edifício e dar-lhe alguma utilidade. O imóvel não merecia o destino a que foi votado mas ficou para a História como um exemplo de projectos que avançam de qualquer maneira para depois ficarem a viver à pala do Estado.

Para ilustrar como Portugal chegou ao que chegou, a Parque Expo é um caso entre muitos outros. O Euro 2004 também foi vendido como uma iniciativa a "custo zero". Mais: nos balanços sobre o impacto do evento elaborados após a sua realização, os peritos davam como certa a sustentabilidade futura dos estádios.

Assinalavam, em favor da tese, que apenas o recinto de Faro/Loulé não dispunha de um clube residente e que, nas restantes situações, as responsabilidades dos municípios estavam defendidas. Até poderiam ganhar dinheiro com o arrendamento das infra-estruturas. Poderiam, sim, mas só no papel onde cabem todas as fantasias que se quiser. Seria interessante saber o que diriam agora os mesmos especialistas, contratados a diversas universidades, se fossem confrontados com aquilo que se passa em Leiria e em Aveiro, onde as autarquias asfixiam sob o peso de bancadas vazias.

O anúncio, pelo Governo, da extinção da Parque Expo gerou choro, lamentos e a acusação de que se trata de uma decisão "economicista". Em conjunto com "custo zero", aquela é uma das palavras que explica o descalabro financeiro do País. Agir sem considerações "economicistas" é comprar um Ferrari quando apenas se tem dinheiro para adquirir e assegurar a manutenção de um Smart. É fazer uma exposição universal ou um campeonato internacional de futebol sem olhar aos custos de oportunidade num País que tinha, e tem, graves falhas na saúde, na educação, na justiça ou no apoio social.

Se o futuro passa por começar a fazer contas sérias antes de tomar decisões, poderá ser menos vistoso mas será mais saudável para os bolsos dos contribuintes. O "custo zero" e os complexos do "economicismo" saem demasiado caros.

joaosilva@negocios.pt

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