A indústria da moda e do luxo está longe de alcançar os objetivos ambientais traçados para esta década, segundo um novo relatório da Bain & Company. De acordo com a consultora, apenas 11% do valor de mercado do setor está hoje alinhado com as metas de descarbonização definidas para 2030. O restante, cerca de 89% do mercado, mantém-se fora do rumo necessário para cumprir os compromissos ambientais, numa altura em que o setor é responsável por cerca de 2% das emissões globais de carbono.
A consultora destaca que o combate às alterações climáticas já não é uma questão secundária para a moda, mas que, pelo contrário, será um fator determinante para o futuro. “A jornada de descarbonização da moda e do luxo é complexa. O que fizemos foi dividir em prioridades imediatas e ações de longo prazo que as empresas podem aproveitar para reduzir o impacto carbónico e ainda manter o valor comercial”, explica João Valadares, partner da Bain & Company.
O relatório propõe uma abordagem pragmática, focada na rentabilidade e na eficácia das medidas. Uma das principais recomendações passa pela aposta na inteligência artificial (IA) para conseguir prever melhor a procura, reduzir devoluções no comércio eletrónico e otimizar a gestão de inventário. “Concluímos que a IA pode melhorar a previsão da procura e reduzir as devoluções – duas áreas em que a ineficiência gera emissões e diminuição das margens”, aponta João Valadares.
Neste momento, cerca de 60% das marcas já utilizam ou estão a testar previsões de vendas baseadas em IA, que permitem antecipar tendências de consumo em diferentes geografias, tamanhos e estilos. Além disso, cerca de metade das marcas está a aplicar IA para alocar o stock de forma mais precisa. A tecnologia está ainda a viabilizar novos modelos de produção sob encomenda, que reduzem drasticamente o desperdício ao produzir apenas o que é necessário.
No fornecimento, a Bain & Company defende que, além da integração de materiais reciclados, as marcas devem procurar influenciar diretamente os seus fornecedores para que utilizem métodos de fabrico com menos emissões. A transformação da cadeia de abastecimento deve ser, segundo o relatório, uma prioridade estratégica.
O setor do luxo, embora com menor impacto por uso e produtos mais duráveis, também enfrenta desafios significativos. A sobreprodução, alimentada pelo receio de rutura de stock, continua a ser vista como um problema. “O stock não vendido não só corrói as margens, como também acarreta custos ambientais que estão cada vez mais sob escrutínio regulatório, especialmente na Europa”, alerta o relatório.
No que toca ao mercado de segunda mão, a consultora identifica potencial de descarbonização, mas também obstáculos financeiros que têm de ser tidos em conta. Como a maioria das vendas acontece em plataformas externas, as marcas capturam pouco valor. O estudo recomenda que as empresas desenvolvam canais próprios de revenda, para que a rentabilidade e a redução de emissões possam andar de mãos dadas. “O maior desafio reside em transformar o desempenho num hábito”, conclui João Valadares.