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O mundo ultrapassou o primeiro ponto de não retorno climático, alertam cientistas

As conclusões da segunda edição do Global Tipping Points confirmam o colapso dos recifes de coral e avisa que a Amazónia, o Ártico e o Atlântico Norte estão a ficar perigosamente perto do seu limite.

15:11
Recifes de coral em colapso e Amazónia perto do limite, alerta relatório global
Recifes de coral em colapso e Amazónia perto do limite, alerta relatório global Pexels
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Está ultrapassada uma barreira considerada preocupante por especialistas e cientistas de todo o mundo em matéria ambiental, que dizem que o planeta entrou numa “nova realidade”. O segundo Relatório Global Tipping Points, coordenado pela Universidade de Exeter e divulgado pela WWF Internacional, confirma que a Terra ultrapassou o primeiro ponto de não retorno climático o colapso dos recifes de coral de águas quentes. 

“Os recifes de coral de águas quentes estão a ultrapassar o seu ponto térmico de não retorno e a sofrer uma mortalidade sem precedentes”, lê-se no documento, que avisa que quase mil milhões de pessoas e um quarto da vida marinha dependem destes ecossistemas.

Mesmo que o aquecimento global estabilize nos 1,5 graus, os cientistas afirmam ser “praticamente certo (mais de 99% de probabilidade)” que os recifes ultrapassem o seu limite térmico, que significará o seu desaparecimento em larga escala. A única hipótese de travar a perda total seria reduzir a temperatura média global para perto de um grau – ou seja, já não falamos em conter a subida do termómetro, mas na necessidade imperiosa de reverter parte do aumento já registado. 

O relatório, elaborado por 160 cientistas de 87 instituições em 23 países, descreve um cenário de riscos em cascata com potencial “catastrófico”. “O aquecimento global irá em breve ultrapassar 1,5 graus. Isso coloca a humanidade na zona de perigo, onde múltiplos pontos de não retorno climáticos representam riscos catastróficos para milhares de milhões de pessoas”, escrevem os autores.

Entre os sistemas ameaçados estão a Floresta Amazónica, as calotas polares e a circulação meridional do Atlântico (AMOC), cuja eventual paragem “enfraqueceria radicalmente a segurança alimentar e hídrica global e mergulharia o noroeste da Europa em invernos prolongados e severos”. 

A WWF sublinha que “o tempo para agir está realmente a esgotar-se”, mas diz, porém, que “ainda podemos conter os danos”. Alice Fonseca, responsável de políticas climáticas da organização em Portugal, explica que “é necessária uma ação imediata e decisiva por parte dos líderes mundiais na COP30 para proteger os direitos das pessoas em todo o mundo”. Numa altura em que “já começámos a ultrapassar os pontos de não retorno da natureza e do clima”, urge “restaurar” os ecossistemas para travar a progressão do problema que pode mesmo tornar-se irreversível. 

O relatório não se limita ao alerta e traça um roteiro de esperança, falando em “pontos de viragem positivos” que podem ser ativados por políticas públicas e comportamentos que gerem mudanças. “Cada ponto de perigo pode ser espelhado por um ponto de oportunidade”, lê-se no prefácio assinado pelo presidente designado da COP30, André Corrêa do Lago. A rápida adoção de energias renováveis e veículos elétricos ou as transformações nos padrões de consumo e produção alimentar são alguns dos caminhos apontados. 

Os sinais de retrocesso político e económico registados em alguns países, como nos Estados Unidos, aumentam a preocupação dos cientistas, que sublinham, contudo, que a adoção de tecnologias limpas acelerou nos últimos dois anos. “Desde 2023, houve uma aceleração radical na adoção de tecnologias limpas em todo o mundo”, reconhece o documento, citando o avanço da energia solar e a queda dos preços das baterias. 

A poucas semanas da COP30, que desta vez acontece no Brasil, os autores do relatório lembram que não basta mitigar os efeitos das alterações climáticas, mas que é preciso transformar, com urgência, a atividade humana. “Só com uma combinação de ação política decisiva e mobilização da sociedade civil é que o mundo poderá inverter o curso”, avisam.

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