
Os portugueses continuam a deitar demasiada comida ao lixo, apontam os mais recentes dados divulgados pelo Eurostat, que mostram que, em 2023, o país gerou mais de 1,9 milhões de toneladas de desperdício alimentar. Feitas as contas, é o equivalente a cerca de 187 quilos por habitante, acima da média europeia de 130 quilos.
A esmagadora maioria desse desperdício, quase 1,3 milhões de toneladas ou 67% do total, teve origem nas casas, o que faz do consumo doméstico o principal responsável. Esta é uma tendência comum a toda a União Europeia (UE), onde “os agregados familiares geraram 53% do desperdício alimentar, correspondendo a 69 quilos por habitante”, refere o comunicado do Eurostat.
Em Portugal, o setor doméstico é seguido pelos restaurantes e serviços de alimentação, com 223 067 toneladas (11,5%), e pelo comércio e distribuição, com 232 420 toneladas (12%). A agricultura e pescas foram responsáveis por 131 266 toneladas (6,8%), enquanto a produção e transformação de alimentos gerou 55 817 toneladas (2,9%).
No topo da lista europeia está a França, com 9,7 milhões de toneladas, seguida da Alemanha (10,9 milhões) e da Itália (8,1 milhões), que concentram cerca de 50% do desperdício total da UE. Já Malta, Islândia e Luxemburgo surgem entre os que menos desperdiçam, todos abaixo das 80 mil toneladas anuais.
Portugal situa-se a meio da tabela em termos absolutos, mas acima da média quando ajustado à dimensão populacional, desperdiçando quase tanto como a Bélgica (1,7 milhões de toneladas) e mais do que países de dimensão semelhante como a Áustria (1,1 milhões).
O Eurostat sublinha que o desperdício doméstico é quase o dobro do que resulta dos setores da produção primária e do fabrico de produtos alimentares e bebidas (12 quilos e 24 quilos por habitante, respetivamente, a nível europeu). Nestes setores, “existem estratégias para reduzir o desperdício alimentar, por exemplo através da utilização de partes descartadas como subprodutos”.
Os restaurantes e serviços de alimentação e o retalho e distribuição representam 14 e 10 quilos por habitante (11% e 8%, respetivamente). No entanto, o Eurostat lembra que “o impacto do fim dos confinamentos da COVID-19 nestes dois setores ainda está a ser analisado”.
A instituição europeia destaca que “o desperdício alimentar representa um problema ambiental, económico e ético”, e lembra que reduzi-lo “é essencial para aumentar a sustentabilidade dos sistemas alimentares e mitigar as alterações climáticas”.